29 agosto 2007

zaratustra, do novo ídolo
(...)
chama-se estado o mais frio de todos os monstros frios; e, com toda a frieza, também mente; e esta mentira sai rastejando de sua boca: eu, o estado, sou o povo!
(...)
onde ainda existe um povo, este não compreende o estado e o odeia como má sorte e uma ofensa aos costumes e à justiça;
(...)
nasce gente demais, para os supérfluos, inventou-se o estado;
(...)
de heróis e homens honrados, desejaria rodear-se o novo ídolo! como gosta de aquecer-se, o frio mostro, ao sol das consciências tranqüilas!

mákinas de guerra
é isso que zaratustra sugere àqueles que fogem ao supérfluo, àqueles que não são homens do supérfluo: que fujam do estado, que se posicionem nas barricadas de seus limites, em suas fronteiras, que declarem guerra (a guerra ele não suporta), homens de estado não são homens de guerra;
sugere que esses homens se refugiem da doença na floresta, na solidão;
se essa floresta é metafórica ou não... será possível permanecer na urbe e combater o estado... ele deixa margem a tais brechas... será que na urbe cada movimento seu não estará sendo milimetricamente esquadrinhado, sondado, mesmo como margem de prejuízo de sua contabilidade;
não sei, sei que me afasto literalmente do estado;
todos me sondam, como a se perguntar: qual será o seu saque, que nova espécie ele veio saquear, aquém será que esse branco vai explorar, parece um homem de estado, um professor, sem dúvida é mais um professor que veio para nos ensinar sobre a nossa ignorância...
sua vontade por tão pouco, e logo já não era mais sua vontade, já se dissipara na vontade geral;
nem sabem sobre a vida, colocaram sua carne no mercado tão cedo que isso se confunde com sua infância, temendo não conseguir vende-la depois, temendo os comerciantes;
cheguei em cruzeiro pelo rio, desci no porto; tive a lição do porto; conheci então onde se negociavam as mercadorias, onde os produtores são escalpelados pelos marreteiros que revendem seus produtos aos comerciantes da cidade;
muitos deles, hoje empresários, começaram explorando assim os produtores;
entendi o que é uma cidade, o que é um estado na lição do porto;
sou natural da cidade, da polis, em que só existe estado, em que tudo é uno com o estado, uma só homogeneidade, ainda que multifacetada;
não podia conceber sua heterogeneidade, o espaço em que ele se embate com o que não é estado, com a força de alguma coisa selvagem, de uma matéria que ainda não foi adestrada;
só pude vê-lo em suas margens, nesse trabalho de domar o selvagem quando conheci os guarani pauperizados de dourados e seu ensino diferenciado;
aí vi, não sei se uma resistência ao estado, via mais uma luta para se homogeneizar, para parar o sofrimento que o estado impõe a todos que estão fora dessa homogeneidade, a todos que escapam ao consenso urbano;

o estado organiza o trabalho, ainda hoje nos confundimos, vendo no direito ao trabalho um princípio democrático;
insistimos em contrapor o trabalho escravo e seu regime de coronelismo ao estado democrático e sua falácia;
nosso maniqueísmo no impede de contrapor o ruim do coronelismo com o pior ainda do liberalismo, responsável pelas reformas trabalhistas do ditador vargas;

isso é claro para nós, hoje, governados pelo partido dos trabalhadores;
só para a mentalidade patética dos acadêmicos ilhados em seu pavor de perder a boquinha do estado, seu salário miserável que acreditam ser a sorte grande, que vêem na ordem trabalhista um épico de libertação dos trabalhadores, que vêem a classe trabalhadora como saída do capitalismo numa papagaiação sem futuro;
ilhados em sua irrealidade racionalizante financiada pelo estado para reproduzir-lhe os valores iluministas;

nas fronteiras do país e nas fronteiras do estado;
pode-se ver o estado em estado bruto, impondo-se aos cidadãos, a sombra de sua violência original, leviatânica;
as brechas da ação do estado, o cinismo de quem se sabe fazendo a violência, a absolvição do mal dada pelo consenso em torno do estado, enfim todo o aparato moral que instaura a servidão voluntária;

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máquinas de guerra

o genealogista irônico não cessa de inverter os valores pressupostos nos conceitos e discursos;
as análises de clastres das sociedades sul americanas é toda pontuada por tal procedimento;
uma delas que faz escola e está no princípio de suas sociedades contra-estado é o valor positivo da guerra;
daí meu interesse sobre a seguinte passagem de mil platôs

clastres pode então invocar o direito natural revertendo sua proposição principal: assim como hobbes viu nitidamente que o estado existia contra a guerra, a guerra existe contra o estado, e o torna impossível; disto não se conclui que a guerra seja um estado de natureza, mas, ao contrário, que ela é o modo de um estado social que conjura e impede a formação do estado; a guerra primitiva não produz o estado, tampouco dele deriva;

de fato, a partir deste trecho posso compreender aquilo a que os autores se referem como máquina de guerra;
a guerra se opõe de tal forma ao estado que será valorada como contraponto do civilizado;
é próprio do estado conquistar sem a guerra, ainda que utilize eventualmente dela;
melhor dizendo, a guerra do estado é travada em outras trincheiras, o que nos remete para um outro texto clássico de clastres: do etnocídio;
nesse texto clastres trata dessa outra guerra, dessa guerra simbólica em que as culturas extintas pela homogeneidade civilizatória;
é interessante que clastres tenha conseguido uma saída para o problema da aculturação, conceito que resultava justamente do campo de valores e da epistéme que criticava, numa das anomalias típicas do positivismo e da necessidade de critica-lo;
post scriptum... a guerra é um elemento fundamental à compreensão do pensamento de foucault;
sua concepção política tem na guerra um princípio, levando a sua teoria do estado articulada com sua epistemologia;
sua crítica ao discurso universal do iluminismo o conduz à análise dos dispositivo de uma sociedade disciplinar, na qual as ciências humanas cumprem papel bem definido;
promove igualmente a inversão guerra/estado, ou, pelo menos, relativiza sua simétrica inversão, tendo na guerra um instrumento de análise central de sua teoria do poder;

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em vez de um modelo suposto de metodologia a ser seguido por toda e qualquer pesquisa antropológica, uma metodologia extraída a cada tema trabalhado;
o primeiro (e grande por isso) autor a tirar sérias e amplas conclusões metodológicas desse problema foi mauss;
com o potlach, certo que relativizou a teoria econômica marxista do capitalismo universal(izante);
porém, para além disso, o potlach (re)definiu a antropologia e a etnologia deslocando todo o seu campo problemático do empirismo objetivante e descritivista do positivismo, para a dimensão imanente do pensamento em que se encontram as culturas;
para esse tema, o potlach, que deve se constituir como uma teoria nativa, princípio de um pensamento nativo, exige-se um método próprio, que dê vazão à amplitude e ao alcance do tema;
é por isso que lévi-strauss viu nessa obra um tratado de metodologia, por que ela traz o problema filosófico por excelência das condições de sua própria validade, do campo de sentido que a obra define para si, de seu plano de imanência;
é no xamanismo, campo propício à exploração do plano de imanência, que lévi-strauss vai explorar o problema da constituição do sentido e dos regimes sígnicos/simbólicos das sociedades;
***
tal concepção generalizante e homogeneizadora que concebe um modelo de metodologia, que chega mesmo a conceber a metodologia como modelo, propõe de saída a metodologia como procedimento extrínseco à pesquisa;
vê-se a metodologia como instrumento da pesquisa que fornecerá os subsídios à reflexão e ao conhecimento, esses sim produtos da pesquisa;
a reflexão metodológica, como ocorre em todos os campos do saber neoliberal, se torna problema de especialistas, extraindo-se uma área de pesquisa que tematize a metodologia;será, no entanto, a metodologia matéria para uma outra disciplina, mais um segmento de nosso esquizofrênico quadro de especialidades, ou será a metodologia parte intrínseca da pesquisa?
***
o debate epistêmico a que a antropologia conduz as ciências humanas ao deslocar o eixo etnocêntrico dos valores ocidentais, fixo em sua mito-religião, continuada em sua ciência, tem como foco seus problemas metodológicos;
o problema de como pensar o outro leva o pensamento ocidental a uma profunda crise de consciência que vai remeter, pelo menos, aos seus princípios metodológicos de herança antiga/clássica;
isso porque desloca o eixo dos valores, sobre o qual se apoiava a objetividade positivista, e dobra o texto sobre si mesmo;
***
em relação ao partido do absoluto tomado pela tradição positivista, o eles eivado de ironia que distinguíamos no procedimento genealógico marca sua relatividade;
enquanto o positivismo quer garantir seu lugar fora da história, fora do campo de valores em que circula, a genealogia trabalha com esse campo de valores como matéria de sua abordagem;
esse pronome característico da genealogia relaciona-se a seu perspectivismo;
distinguir-se de um eles que caracteriza uma postura e uma posição nesse campo de valores e seu respectivo plano de imanência (arqueologia) consiste numa estratégia retórica;
aliás, esse eles servirá menos como unidade empírica e mais como personagem conceitual que permite definir os valores do contexto;
ao invés de neutralizar padrões valorativos, a genealogia opera evidenciando-os por meio das estratégias discursivas que dispuser;uma dessas estratégias é evidenciar enunciação e enunciador, em contraste com os enunciados abstratos do positivismo;
***
o pensamento objetivante tem uma tendência a se absolutizar, tendo conseqüências psicológicas de largo alcance, em que, geralmente, nos identificamos com o nosso pensamento;
uma saída possível para essa armadilha do pensamento é o jogo zen, não apenas por sua eficácia, também por sua fonte;
desautomatizar o pensamento que busca explicar a realidade, apoiado numa concepção absoluta de verdade;

24 agosto 2007

identidade e diferença

portanto, ao imprimir a diferença ao nosso pensamento, podemos definir aspectos diferenciantes e relacionais que irão de encontro a seu movimento convencional em direção à identidade e aos padrões universais;

esses caracteres diferenciantes podem ser tomados das próprias matrizes como o princípio de identidade do pensamento, da lógica e dos sistemas de classificação como herança do pensamento grego ou o universalismo próprio ao monoteísmo judaico intimamente atrelado a seu moralismo civilizatório;

é como historicizar, no caso genealogizar, nossa obsessão pelo universal, herdada com os sistemas de classificação que colocaram o homem no topo da pirâmide;

ou seja, o que se faz é tomar o próprio absoluto e submete-lo a um processo de relativização;

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o vinho estava bom mas...

mas qual a eficiência desse modelo em termos etnográficos...

a questão desse modelo é abordar os princípios epistêmico que regem o nosso pensamento para levar a metodologia ao limite, coloca-la a prova a partir de sua prática política: descrever para quê, para quem, afinal de quem é ciência, o que é a ciência, como se apropriar dela...

seguindo aí, no limite, essa antropologia renuncia a sua tradicional missão civilizacional para se constituir como máquina de guerra a serviço do pensamento anti-ocidental, de um pensamento que só se concebe enquanto conflito e embate de pensamentos, ou seja, uma antropologia que não se concebe senão como epistemologia, como campo de batalha de pensamentos;



prosa com paulo

e assim, o que se busca não são os padrões universais que a ciência encontrou primeiro na natureza e depois nos outros pensamentos (pensamento selvagem), o que se busca é o que é diferencial nesse pensamento ocidental, o que é cultural, o que possibilita com que ele seja relativizado, visando o deslocamento de sua secular absolutização;

isso pode ser feito, por exemplo, definindo características do pensamento grego, aspectos do judaísmo que influenciaram em sua apropriação e utilização desse pensamento, deslocando seu aspecto absoluto pela crítica de seus pressupostos epistêmicos;

e quando um modelo se torna absoluto, é sempre uma heresia questionar e desmontar seus pressupostos, principalmente devido à configuração moral que o imprime, assim como pelo consenso moral com que seus usuários guardiões se identificam com ele;

para tal desconstrução de pressupostos opero com a metodologia construtivista da autoria coletiva do pensamento antropológico, em que a entidade do autor não se confunde com a minha personalidade, em que a subjetividade autor é uma experiência construída coletivamente;

o que assumo é a condução do trabalho, mas de forma alguma me identifico com o eu autor da narrativa, que consiste em devires e não em uma entidade transcendental que se utiliza de um método para impor sua autoridade de afirmar verdades;

pode, então, definir: essa é a metodologia participativa;

sim, mas quando se fala em participatividade, nem todos os gatos são pardos, há participatividades e participatividades, segundo os princípios epistêmicos que são apropriados;

há um modelo de participação em que esta se restringe ao envolvimento do antropólogo na sociedade em que estuda, que se torna teórica ao ser meramente descrita sem questionamento de pressupostos epistêmicos da antropologia, debate que marca a genealogia desta disciplina;

minha participatividade se diferencia a partir do momento em que o que e torna participativo são as próprias instâncias textuais, ao propor exercícios criativos com que os interlocutores interfiram no texto para construir textos híbridos, coletivos, orientados por referências outras;

esse procedimento implica uma investigação ao mesmo tempo psicológica e literária ou narrativa em que o texto se dobra sobre si mesmo numa metanarrativa que o acompanha todo o tempo;

desde o início até o fim, o texto não abandona a abordagem epistêmica e metodológica, não deixa de ser uma experiência e investigação, para se esconder como dimensão oculta de pressupostos universais;

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com paulo

disse ele que gostava da antropologia para deslocar e relativizar as referências ocidentais, pois toda cultura tem suas tendências etnocêntricas;

disse-lhe ser isso o que me interessa em antropologia, não tanto para o estudo dos outros povos, mas utilizar-se dos seus recursos para definir os padrões e referências criados por nosso pensamento ocidental e tomados como pressupostos na consideração do mundo e do conhecimento;

disse que havia sido esse interesse que me levara a aprofundar-me numa antropologia do conhecimento;

ele perguntou-me, então, se não haviam padrões ou critérios de racionalidade que reduziriam o pensamento à racionalidade, critérios aos quais qualquer pensamento deva obedecer;

penso que tal tendência do pensamento para a identidade, para a identificação de padrões universais, de modelos de pensamento comuns ao ser humano tiveram um lugar histórico determinado na antropologia, quando se pretendia colocar em questão os princípios do racismo, mas seu modelo de explicação do pensamento alheio, tributário do positivismo e do objetivismo aristotélico, vinha há décadas buscando ser desmontado, redimensionado a partir de seus pressupostos epistêmicos;

em meu referencial teórico venho trabalhando com uma filosofia que renuncia à identidade para operar a diferença como princípio epistemológico via crítica de princípios platônicos da filosofia grega, expropriados na ordem da metafísica judaica;

portanto, essa universalidade é marcada historicamente (e, portanto, epistemicamente, segundo a genealogia), resulta de momento determinado na ordem do discurso científico, não sendo uma dimensão absoluta e transcendente do conhecimento, mas uma forma de construí-lo que só poderá ser compreendida em seu devido contexto;

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eu e pingo numa manhã de trabalho em rio branco

já conhecia paulo através do pingo;

ontem tivemos nosso primeiro encontro e conversa;

fui a sua casa, as casas do paulo são extraordinárias, inspiradas numa arquitetura gaudiana num bricolage mediterrâneo de bom gosto;

dou notícia de que fiquei ouvindo sua conversa antes de envolver-me, falava sobre a medicina e os princípios que podem ser generalizados dentro do que chamamos de ciência ocidental para que se possa estabelecer padrões e universalidades;

paulo é médico, trabalhou dez anos junto a comissão pró-indio do acre no processo de formação de agentes de saúde indígenas;

diferente dos processos de formação de professores e agentes agroflorestais, que conseguiram encontrar sua metodologia própria de construção conhecimento, sua subjetivação no cotidiano das aldeias, sua construção enquanto categoria, o processo de formação de agentes de saúde não encontrou sua especificidade no universo indígena e foi devolvido pela cpi à funasa;

paulo me disse que gosta muito da antropologia, que nesse período fora assessorado por antropólogos etc;

disse que, nesse tempo, definiram um sistema para o tratamento dos kaxinauá, um modelo em que descreveram todos os nomes das partes do corpo entre os kaxinauá, seus nomes de doença, seus tratamentos etc;

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23 agosto 2007

mariana e murilo plantando árvore no centro de saberes da floresta ashaninka

a cura da terra

a milenar separação homem/natureza caracteriza nossa cultura ocidental e a percepção do mundo que elaboramos a partir dela;

acredita-se e insiste-se em acreditar, principalmente os contabilistas, que a quantidade de árvores plantadas em campanhas de reflorestamento importa para a natureza e não para a sociedade, para as pessoas que plantam árvores;

na verdade, como prova o greenbelt movement com sua experiência, são as árvores que ajudam as pessoas mais que as pessoas ajudarem à natureza;

é por isso que acredito o foco da campanha das árvores está mais na publicidade de programas de plantação de árvores de empresas ou comunidades que tenham alguma permanência;

o efeito social de campanhas de reflorestamento, o que realmente importa, só se dá a longo prazo, como demonstra a própria experiência piloto do greenbelt movement;

o certo é que o que devemos recuperar são as pessoas, para o que as árvores podem ajudar;

enquanto tivermos essa relação especista de objetividade com os outros seres podem ser plantadas quantas árvores forem, pois o desperdício continua sendo o de nossa humanidade e da humanidade dos outros seres;

há uma estória ilustrativa: estávamos na casa do leandro e da gregória e o meu amigo valério passou uma instrução que não pude esquecer;

disse ele que o mestre quando curava uma pessoa, ele curava a mente dessa pessoa, pois é na mente que está a fonte da doença e, se cuidar a enfermidade sem curar a mente, sana-se apenas conseqüência;

portanto, são as árvores que tem o poder de curar os homens, são eles que estão doentes e não a terra, a terra sofre as conseqüências dessa sua parte doente e que só poderá ser curada com seu próprio consentimento;

pois, como diz o mestre: no mundo se cura tudo;

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seu milton planta árvore no centro de saberes da floresta yorenka ãtame

campanha plantar árvore pelo planeta: um bilhão de árvores

o greenbelt movement na pessoa de sua idealizadora, wnagari maathai, propôs ao mundo a campanha um bilhão de árvores;

a proposta se deu no fim de 2006, e tornou-se, em 2007, um projeto oficial da onu;

a campanha se insere no clima quente do debate sobre o aquecimento global;

o projeto plantar árvores pelo planeta: campanha um bilhão de árvores, está sendo articulado pelo pneuma, programa das nações unidas para o meio ambiente, que terá a responsabilidade de secretariar a campanha;

a primeira iniciativa foi a elaboração de um sítio na web para organização da rede de parceiros e a contabilização das árvores plantadas;

o pnuma acompanhará e dará cobertura às contribuições de indivíduos e comunidades que se associarem à campanha;

além disso, esse órgão da onu deve articular a campanha a outras iniciativas de reflorestamento;

o interessante é que a campanha traz a experiência do movimento queniano sobre a importância das árvores nativas no reflorestamento e dos cuidados com as árvores depois de plantadas;

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22 agosto 2007

a lição das árvores, carol mangiagalli

estou lendo um texto de uma africana;

a violência do discurso de wangari maathai me agride;

rapidamente me justifico dizendo que seu tom alarmista é um recurso ecochato e que ela faz cartaz da miséria africana para se promover;

acontece que a medida que vou lendo sua descrição das violências, de conflitos por recursos escassos voou me dando conta de como são velados os nossos conflitos no brasil;

nossa abundância de recursos contrasta com a miséria a que grande parte da população é submetida;

acontece que a miséria ordenada no meio urbano, por sua homogeneidade, tende a se banalizar, enquanto que em meios diversos ela toca nossa sensibilidade pelos matizes de cor diferenciados;

esteticamente a miséria não-urbana nos estarrece, enquanto a miséria urbana já nos insensibilizou;

como boa parte do processo histórico do estado brasileiro, pilotado pelas velhas oligarquias, foi ocultar as conseqüências evidentes da super exploração de seu super capitalismo, o que vejo é todo um arsenal visando o que foi chamado êxodo rural;

portanto, uma especialidade do estado brasileiro, ou seja, de seu aparato legislativo, executivo e judiciário, gerada por necessidade de suas oligarquias, que iam fazendo o mesmo processo por outro lado, com sua típica violência de armas, é criar condições de dependência;

nisso o estado brasileiro, como aliás todo estado capitalista, é competente;

enquanto a elite rural e o empresariado nacional, aliado das multinacionais, atuam fazendo pressões contra a agricultura familiar, o extrativismo e toda e qualquer forma de autonomia produtiva, fechando de forma mesquinha o cerco nos mercados locais, via atravessadores e suas associações comerciais, o Estado, com a força do consenso e a máscara do povo, atua de outro lado com uma política assistencialista que começa na compra/venda do voto e prossegue na construção de seus aparatos de controle social;

e compreendo: é... a violência está em nosso tutano, forjou a corrente que nos prende à condição de dependentes dos atravessadores, das indústrias internacionais;

é ela que vigia a nossa dependência do estado, dos atravessadores;

é ela que vigia o pensamento de autonomia dos desajustados;

as árvores e nós

o projeto cinturão verde, greenbelt movement, germinou pequeno como uma semente, hoje já consiste numa frondosa árvore nativa queniana sombreando todos nós;

diversos acontecimentos marcam esse processo de maturação, que se inicia com a simples idéia de plantar árvores;

o projeto, a medida que enfrenta dificuldades, vai descobrindo as dimensões dessa relação entre mulheres e árvores;

uma dessas dimensões é um fato conhecido da experiência socioambiental brasileira;

ajudar a natureza é ser ajudado por ela, ou seja, a continuidade do homem como ser da natureza consiste numa relação a ser reconquistada junto com a autonomia social, econômica e política dos povos;

portanto, o projeto tinha um aspecto social que estava longe de se restringir ao pagamento por plantar árvores;

desde a alimentação, justificativa imediata, até o bem estar dos homens e animais do planeta, o caráter social vai ganhando novas dimensões no projeto;

começa por unir as mulheres quenianas, marginalizadas pelo tecnicismo da economia global, em torno de um projeto comum que lhes fornece uma identidade social local e global;

o envolvimento de cada vez mais agentes no processo, somado às artimanhas do destino, leva o projeto a se aperfeiçoar tecnicamente, a se tornar processo de formação;

agora não se tratava simplesmente de plantar árvores, ou seja, conseguir sementes, mudas, ferramentas, local propício, pessoas que se interessassem pelo projeto, publicidade, recursos para pagar os envolvidos, sensibilizar o governo etc, agora a tarefa incluía também cuidar das mudas, conhecer técnicas para plantio, responsabilizar-se pelo projeto a médio prazo pelo menos;

com a experiência e a técnica, as agentes passaram a constatar que, para fins de reflorestamento, o desempenho das espécies nativas era superior ao das espécies vindas de fora;

nada como as árvores nativas para trazer de volta práticas alimentares e medicinais antigos, fornecer a mesma simbiose com os animais e dar conta da erosão do solo e de manter a água;

hoje o movimento já se ramifica por todo o planeta, embora continue enraizado no quênia;

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21 agosto 2007

encontros

em janeiro deste ano danielle mitterrand esteve no fórum social mundial do quênia, dividindo a mesa com wangari maathai;

o encontro foi marcado com o seguinte acontecimento: danielle semeando uma arvora nativa queniana;

já vão para cento e cinqüenta milhões de árvores desde que maathai começou sua obstinada campanha de valorização social via plantio de árvores nativas em seu país;

o objetivo do projeto é aliar sustentabilidades econômica, social e política, desafio para os humanistas por se tratar do tripé básico com que o capitalismo desmobiliza as pequenas comunidades auto-sustentáveis e impõe seu globalismo;

afinal, a natureza é a principal parceira do homem se este quiser buscar sua autonomia econômica, social e política;

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16 agosto 2007



Danielle Mitterrand, viúva do ex-presidente socialista francês, é fundadora da ONG para a defesa dos direitos humanos France Libertés. Atualmente, apóia cerca de cem projetos em todo o mundo.
Presidente da Fundação desde sua criação, há 20 anos, a veterana ativista tem atuado no Brasil com uma variedade de temas relacionados com os dh.
No Brasil, que perpetua sua sina de fornecedor de produtos primários, é sabido que os direitos humanos se confundem com problemáticas ambientais.
É por aí que Danielle tem se articulado a movimentos ambientalistas em causas que vão desde o lixo até a luta de populações tradicionais pela preservação de áreas visadas pelo grande capital.
Outra preocupação que tem feito parte de sua pauta nos últimos anos são processos de gestão dos recursos hídricos nas diferentes regiões do planeta.


Algumas ações de Danielle Mitterrand

No começo deste ano Danielle esteve no fórum social mundial de Nairobi-Quênia, onde plantou uma das 150 milhões de árvores nativas plantadas até então pelo movimento Cinturão Verde (Greenbelt Movement) organizado pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2004, Wangari Maathai, criadora do movimento em 1977 no Quênia. O objetivo do movimento é a mobilização e a conscientização da comunidade sobre a autodeterminação, a igualdade, a melhoria na segurança alimentar e a conservação da Natureza, através do ato de plantar árvores nativas. Nos seus 30 anos de existência, a organização Greenbelt Movement já formou mais de 6 mil grupos de mulheres, que formaram 600 redes e plantaram 35 milhões de arvores no Quênia.
O movimento dá andamento assim à sua campanha de um bilhão de árvores nativas plantadas.

Desde 2005, junto a outras Ongs, articula junto à ONU/UNESCO a criação, gestão e proteção da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço com uma área de abrangência de mais de três milhões de hectares, em Minas Gerais. O início dela é em Ouro Preto, se estendendo até o Alto Jequitinhonha, na Serra do Itambé. A região é habitada por 642 mil pessoas. Dentro dela, estão 11 unidades de conservação – UCs de proteção integral, entre Parques Nacionais, Estaduais e Reservas Biológicas. Outras 27 UCs de uso sustentável são contabilizadas.
Na RBSE estão biomas ameaçados, o Cerrado, Campos Rupestres e Mata Atlântica. O maciço rochoso que forma a Serra do Espinhaço tem cerca de 1,5 mil km de extensão, com picos de até 2.017 metros. Por isso, paisagens consideradas de grande beleza cênica podem ser encontradas, como cachoeiras, cânions e vales.

Acompanhamento das investigações dos crimes envolvendo os prefeitos Celso Daniel, de Santo André, e António da Costa Santos, o Toninho do Partido dos Trabalhadores (PT), de Campinas.

Denúncia da instalação de grandes minerações na região da Serra do Espinhaço, no Quadrilátero Ferrífero, e da construção de um mineroduto da mineradora MMX, do empresário Eike Batista, ligando a área ao porto de São João da Barra, no Rio de Janeiro. Articulação com outras Ong para evitar tal instalação. Há também suspeitas de que a Vale do Rio Doce e a Bunge - fabricante de fertilizantes e componentes agrícolas - estariam interessados em minerar na Serra. A outra preocupação é instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) pelo Global Bank. As centrais forneceriam energia para os outros empreendimentos.

Apóia o projeto dos catadores de papel da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte (Asmare).

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em vez de um modelo suposto de metodologia a ser seguido por toda e qualquer pesquisa antropológica, uma metodologia extraída a cada tema trabalhado;
o primeiro (e grande por isso) autor a tirar sérias e amplas conclusões metodológicas desse problema foi mauss;
com o potlach, certo que relativizou a teoria econômica marxista do capitalismo universal(izante);
porém, para além disso, o potlach (re)definiu a antropologia e a etnologia deslocando todo o seu campo problemático do empirismo objetivante e descritivista do positivismo, para a dimensão imanente do pensamento em que se encontram as culturas;
para esse tema, o potlach, que deve se constituir como uma teoria nativa, princípio de um pensamento nativo, exige-se um método próprio, que dê vazão à amplitude e ao alcance do tema;
é por isso que lévi-strauss viu nessa obra um tratado de metodologia, por que ela traz o problema filosófico por excelência das condições de sua própria validade, do campo de sentido que a obra define para si, de seu plano de imanência;

é no xamanismo, campo propício à exploração do plano de imanência, que lévi-strauss vai explorar o problema da constituição do sentido e dos regimes sígnicos/simbólicos das sociedades;

tal concepção generalizante e homogeneizadora que concebe um modelo de metodologia, que chega mesmo a conceber a metodologia como modelo, propõe de saída a metodologia como procedimento extrínseco à pesquisa;
vê-se a metodologia como instrumento da pesquisa que fornecerá os subsídios à reflexão e ao conhecimento, esses sim produtos da pesquisa;
a reflexão metodológica, como ocorre em todos os campos do saber neoliberal, se torna problema de especialistas, extraindo-se uma área de pesquisa que tematize a metodologia;
será, no entanto, a metodologia matéria para uma outra disciplina, mais um segmento de nosso esquizofrênico quadro de especialidades, ou será a metodologia parte intrínseca da pesquisa

mauss e os métodos
a concepção de que existe um modelo de metodologia que sirva para qualquer pesquisa é uma das doenças que persiste, desde os séculos passados, sem ser erradicada;
pelo contrário, à medida que crescem as faculdades particulares, estimuladas pela verba pública e pela praga dos empréstimos, na mesma proporção os manuais proliferam nas bancas de revista que viraram as livrarias disfarçadas de megastores para atenderem o público não-leitor em tempos de inclusão;
em nossa receita, um modelo genérico que defina inclusive a disciplina em torno de temas e regularidades metodológicas, herança genética dos antepassados positivistas;
colocar a prova essas linhas que definem e circunscrevem os discursos, que os permite identificarem-se em torno de temas ou procedimentos, equivale a mergulhar na especificidade e nas particularidades metodológicas de cada tema;
em vez de um modelo suposto de metodologia a ser seguido por toda e qualquer pesquisa antropológica, uma metodologia extraída a cada tema trabalhado;
cada tema se desdobra em problemas próprios, uma infinidade de problemas particulares, somados à particularidade e especificidade da abordagem do pesquisador e seus percursos (passado e futuro);
querer escandir essas particularidades num discurso objetivo, generalizador, será sempre desperdiçar a originalidade da reflexão e da criação metodológica como parte da pesquisa;
novenário: final

por exemplo, meus alunos querem ficar loucos comigo quando digo que o que define a antropologia é sua abordagem (teorias nativas ou pensamento selvagem) e não o seu tema (os índios) e que é possível e até provável, que se faça história indígena, sociologia indígena (disciplina que inclusive é fundamental em meus cursos de antropologia, especialmente para a compreensão daquilo que se costuma chamar antropologia inglesa), lingüística indígena, pedagogia indígena, geografia indígena e assim por diante, o que, ao contrário do que se possa pensar, serviria para definir melhor a antropologia, na medida que a distinguiria de sua (anti-)tradição positivista;
há algo nisso que os desespera, pois estão esperando a imagem da antropologia descrita por foucault como saber disciplinar, alienado, que serve para submeter o outro;
a antropologia que eles esperam é a que possa ser comercializada no mercado tão logo eles recebam seus títulos;
a antropologia mansa e utilitária que serve à sociologia indígenas dos órgãos públicos de controle indigenista, que serve à pedagogia indígena do discurso dos direitos à ciência;
com essas categorias que causam estranhamento, minha intenção é desloca-los do positivo e do conhecimento em termos absolutos (o que é a antropologia...) inserindo essas relativizações (para quem, em relação a que, onde, o que não é a antropologia...)

13 agosto 2007

ainda no clima do novenário cruzeirense

foucault – história da sexualidade dois: 15
a dimensão arqueológica da análise permite analisar as próprias formas da problematização; a dimensão genealógica, sua formação a partir das práticas e de suas modificações;
problematização da loucura e da doença a partir de práticas sociais e médicas, definindo um certo perfil da ‘normalização’; problematização da vida, da linguagem e do trabalho em práticas discursivas obedecendo a certas regras ‘epistêmicas’; problematização do crime e do comportamento criminoso a partir de certas práticas punitivas obedecendo a um modelo ‘disciplinar’;
gostaria de mostrar, agora, de que maneira, na antigüidade, a atividade e os prazeres sexuais foram problematizados através de práticas de si, pondo em jogo os critérios de uma’ estética da existência’;

a distinção entre palavra (arqueologia) e coisa (genealogia) define (nesse contexto) a ruptura com o positivismo;
para a história ou a sociologia positivista não se coloca a (em) questão desse uso político da linguagem para falar/se referir às coisas;
isso faz a confusão dessas instâncias;
ao distinguir e articular arqueologia (saber) e genealogia (poder), rompe-se com (o espelho) a miragem positivista em termos de metodologia, e se conduz à auto-implicação no discurso em construção, desdobrando-se nas práticas correspondentes;
e então, quando nós nos tornamos eles, cabe-nos propor a genealogia de nossas práticas de poder a partir ou articulada à arqueologia de nossos próprios discursos;
no entanto, penso que esse compromisso que nos é cobrado por habermas encontra-se em nosso ponto de partida, em me caso em minhas reflexões sobre mauss e a implicação do tema de pesquisa em relação à metodologia;
talvez isso não se explique, haja algo oculto aí...
mais uma da série novenário cruzeirense

o discurso positivo está apoiado na primeira pessoa do plural (– nós humanos...), ocultando a do singular, cujo efeito de universalidade não é o mesmo;
esse nós se contrapõe a um eles que permanece oculto, apesar de estar sempre em evidência;
pode ser o erro (como o pecado é o outro, a margem do discurso cristão), ou pode ser ainda a teoria ultrapassada ou o movimento anterior que o evolucionismo, típico do positivismo, julga superar;
a genealogia (– nós quem cara pálida...) orbita em torno de um discurso irônico dirigido a uma terceira pessoa, generalizada e até estereotipada, ainda que segundo seus preceitos virtuais de estereotipação;
essa sua anti-ciência imagina o grande salto anti-positivista da politização da ciência;

o discurso genealógico não analisa empiricamente, da perspectiva universal de um nós que apaga as marcas da enunciação, apagando os conflitos morais e as disputas de poder em torno da tribuna de onde pavoneia, cínico;
ele não apresenta o seu programa civilizador de cima da tribuna dos imperativos morais do humanismo, dos direitos, da igualdade;
a genealogia centra fogo num eles que, no fim das contas, equivale sempre a um amargo nós (nós civilizados), que, porém, não se oculta enquanto reduz o outro, enquanto circunscreve-o em seu horizonte de valores, no moralismo de seu humanismo;
esse eles, equivalente a um nós, antes dobra o discurso sobre si, analisando-se como prática discursiva (arqueologia);
disso resulta uma contínua referência ao discursivo e uma obsessiva auto-referencialidade;
o eles irônico se contrapõe ao cinismo etnocêntrico da retórica positivista que oculta o falante numa pluralidade anônima, generalizante e unânime típica da verdade científica;
são eles os sapos do irônico manuel bandeira, que falam em nome do brasil civilizado;

habermas propõe nietzsche como ponto de inflexão da modernidade;
a partir de sua análise, que se concentra no problema do mítico e do racional (ou do anti-racional) a abordagem do mítico, a extensão do campo mítico para a filosofia moderna é a grande contribuição de nietzsche como ponto de inflexão da modernidade;
ele vincula impiedosamente nietzsche à tradição do romantismo alemão, cuja descendência mítica nietzsche recorre para romper e munir-se contra os ideais iluministas de hegel e dos hegelianos;
propõe duas descendências para o pensamento nietzscheano;
a primeira, de filiação filosófica, vai de heidegger a derrida, e a segunda, da teoria do poder, mais heterodoxa, de bataille a foucault;
por fim, habermas volta a hegel para recuperar sua teoria comunicativa;

habermas – o discurso filosófico da modernidade: 412
assim, convém regressar mais uma vez ao local do desmascaramento das ciências humanas pela crítica da razão, mas dessa vez conscientes de um fato que os sucessores de nietzsche ignoravam obstinadamente;
eles não se dão conta que já aquele contradicurso filosófico, imanente desde o início ao discurso filosófico da modernidade começado com kant, apresenta a contraprova à subjetividade como princípio da modernidade;

10 agosto 2007


foucault – nietzsche, a genealogia e a história
a humanidade não progride lentamente, de combate em combate, até uma reciprocidade universal, em que as regras substituiriam para sempre a guerra; ela instala cada uma de suas violências em um sistema de regras, e prossegue assim de dominação em dominação;
é justamente a regra que permite que seja feita violência à violência e que uma outra dominação possa dobrar aqueles que dominam; em si mesmas as regras são vazias, violentas, não-finalizadas; elas são feitas para servir a isto ou àquilo; elas podem ser burladas ao sabor da vontade de uns ou de outros;
em meio à leitura de o uso dos prazeres (história da sexualidade dois) uma arqueologia propícia dos usos do prazer...

liberdade ao palavrão, tão palavrinha
fingimento de quem faz cara de espanto
como se não tivesse cu
ou falasse ânus
alguém além de professores de ciências
as vaginas dos ginecologistas
os pênis dos urologistas
pássaros que não voam
piriquitos, rolas e pombas
todos esses nomes que você está pensando agora
mas iria corar ao ler
direito a propriedade das crianças para dizer porra
abaixo às baratinhas e piu pius!
os capados são os únicos livres do caralho
a puta que pariu deve ser encaminhada ao programa de planejamento familiar
se o pariu, apoie o movimento de reconhecimento profissional
além de dúvidas sobre a Sandy. todo o resto do mundo caga
então que se foda quem diz que sou desbocado
boca, eu tenho
e todo o resto do corpo que fingem não ter.


mayara montenegro
http://sempatente.blogspot.com/

mais um pouco do inquérito foucault... afinal, quem é esse habermas...
habermas – o discurso filosófico da modernidade: 387
foucault sente-se um ‘positivista feliz’ porque propõe três reduções metodológicas plenas de conseqüências: a compreensão de sentido, própria ao intérprete implicado em discursos, é reduzida, a partir da perspectiva do observador etnológico, à explicação de discursos; as pretensões de validade são reduzidas, em termos funcionalistas, a efeitos de poder; e dever-ser é reduzido, de forma naturalista, ao ser;
falo de reduções porque, de fato, os aspectos internos de significado, de validade de verdade e de valores não se esgotam por completo nos aspectos de práticas de poder exteriormente apreendidos;

a concepção metodológica do centro yorenka ãtame está baseada no modelo de organização da apiwtxa;
a renúncia ao conceito de escola para adoção do termo centro se deve ao estranhamento diante do modelo professor/aluno que está determinado por esse modelo;
com isso, os ashaninka deixam o modelo governamental/oficial escola para investir em sua própria metodologia que não se dá entre professor e aluno, e sim entre iguais, seguindo o modelo em que as idéias circulam;
a justificativa para a adoção do modelo centro se deve à fidelidade do grupo a sua forma de organização e produção de conhecimento;
assim, adotar agora o modelo escola seria desviar o princípio do projeto que é a continuidade do trabalho que vem sendo feito na aldeia;

este princípio de dissimetria pressuposto no modelo escola, ao ser detectado e criticado a partir de sua metodologia de produção de conhecimento, constitui mais um dado interessante para o estudo da antropologia elaborada pelos ashaninka;

o positivismo pressupõe a harmonia entre linguagem, plano simbólico e uma realidade transcendente que se desdobra idealmente;
a princípio representacional pressuposto no positivismo relaciona palavras e coisas em dois planos que interagem harmonicamente, em que as palavras explicam as coisas, encontram e se encaixam na “realidade” as coisas;

inicialmente o que a antropologia coloca em questão é uma série de pressupostos epistemológicos que estão pressupostos na metodologia das ciências sociais em sua concepção de história;
seja a sociologia positivista ou a marxista operam com a história como modelo metodológico;
ambas guardam características do idealismo que estão impregnadas nessa história;
nietzsche propõe a desmontagem desses pressupostos com uma genealogia da moral;
não só problematizar a história, mas problematizar a própria metafísica que sustenta a história e todo o modelo de produção de conhecimento que a toma por modelo;

ao enfocar os regimes sígnicos, os códigos simbólicos, o estruturalismo propõe a concentração sobre o sentido: seu funcionamento, seus pressupostos, a definição de seus campos, etc;
é assim que o estruturalismo pode ser definido por essa correlação de regimes de sentido;

daí a importância da genealogia nesse contexto, visto que ela vai operar com campos de sentido, com seus pressupostos;

interessa aqui a comparação entre a operação positivista desses regimes de sentido e a crítica que começa a ser proposta com a genealogia dos valores;
para o positivismo o conhecimento se dá como identidade de regimes, a explicação funciona como uma “descrição da realidade” pressupondo um campo de valores universal e um conhecimento absoluto;
enquanto o positivismo propõe a identidade, a harmonia entre conhecimento e mundo a ser conhecido, a genealogia coloca o conhecimento sob a marca da violência;
contraposta a essa harmonia entre sujeito e objeto que caracteriza o universalismo, a objetividade absolutizante desse pensamento como sua marca política, a genealogia vai problematizar a relação sujeito/objeto relativizando-a no interior da história, problematizando os movimento da história;

daí ao estruturalismo que propõe o estudo dos regimes de sentido, iniciando pela lingüística que cumprirá a função de relativizar uma série de conceitos absolutos da velha gramática, entre eles:
exorcizar definitivamente a motivação na linguagem verbal, replicando em diversos campos o seu caráter de convenção;
desbaratar a hierarquia, criando a concepção de variações lingüísticas;
não tenho dúvidas que o problema da civilização é um problema de educação, ou seja, na civilização, a educação ocupa um lugar central e definidor de sua máquina e de seu avanço, de suas estratégias e procedimentos;
não consigo ver a educação fora de seu contexto, do quadro genealógico que lhe atribui sentido;
enfim, não consigo ver educação da perspectiva típica com que meus avós e até meus pais a viam quando me aconselhavam sobre as virtudes do estudo;
no entanto, é certo que não se trata de um problema de educação desvinculado de um problema de definição do próprio conhecimento, do próprio conhecer, melhor dizendo, da situação de aprendizagem e seus sentidos;
disso carece nossa experiência de educação que se dá no horizonte da civilização ocidental, tomando seu quadro de valores homogêneo e universal como paradigma;
nisso, paulo freire nos deu umas tantas dicas;
[DSC03276.JPG]
como sou tributário da escola genealógica, a idéia de uma academia popular envia ao problema da função (política) do conhecimento e, então, da educação, em nossa sociedade;
uma academia popular, no rastro de uma educação generalizada e democrática emanado de uma fonte central, que reproduz o velho modelo da educação civilizatória do império vigente;
processo de homogeneização cultural que instaura modelos valorativos disfarçados de objetividade asséptica, que impõe padrões morais sob a capa da neutralidade científica;
uma academia popular, que vem no rastro de um governo popular e que já pode tomar para si muito da sua experiência;
a questão se desloca do como é possível a gestão participativa, para se é possível uma gestão participativa dos conhecimentos, que implica em sua popularização;
isso, problematizando-se o caráter instrumental desse discurso que é apropriado em função da produção de mais submissão (tradição populista e paternalista/assistencialista);

se conhecimento é poder, especialmente na história de um país como o brasil, onde ele foi estratégico ao domínio das massas via recursos da democracia liberal, como imaginar trata-lo ignorando toda essa tradição, essa história, com um discurso fácil e positivista de que os conhecimentos populares, milenarmente contrapostos como inferiores pelo discurso acadêmico, agora dividam espaço igualmente, que figuras sociais situadas em extremos da sociedade possam partilhar igualitariamente seu conhecimento, se existe uma estrutura burocrática que sustenta esse fosso entre tais conhecimentos, em que a própria popularização dos títulos para professores, estabelecida como meta no programa educacional do fmi e do banco mundial para o brasil, contribui nessa formalização generalizada das carreiras profissionais, em que o título passa a ter valor de obrigatoriedade e os professores não formados, ou melhor, sem título, figuram como espécie em extinção;
talvez seja nesse sentido que a universidade da floresta se configure cada vez mais como um sonho, pois o princípio de realidade parece fazer dela cada vez mais uma realidade exclusiva dos discursos de auto-promoção política;
luiz de castro fariadescobri hoje aqui na biblioteca de cruzeiro do sul o livro um outro olhar, de luiz castro faria; o fotógrafo e antropólogo compunha a expedição iniciática de levi-strauss aos sertões brasileiros; pude então refazer a viagem através das imagens fotográficas do fotografista-antropólogo;

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06 agosto 2007

universidade da floresta 1


um novo intercessor entrou hoje em interlocução comigo;

o convite de marcos para uma simples palestra na universidade da floresta abriu minha interlocução com um intercessor com quem venho há tempos me preparando para encarar;

afinal esse é um dos princípios do construtivismo (pelo menos quero coloca-lo assim): que se determine o discurso, que o discurso seja determinado (não apenas por quem fala, princípio do velho relativismo que ainda nos prende nos pressupostos do objetivismo) pelo interlocutor, a quem se fala;

é certo que falo tão somente à quem estiver lendo ou ouvindo este discurso, no entanto, ele se dirige a um interlocutor específico, um terceiro, um intercessor que o outro deste diálogo;

esse interlocutor é a universidade da floresta que me convocou, que convocou o meu trabalho para o diálogo, o debate, para uma exposição;

escolhi um tema dentre os que dispunha;

falarei de um tema que já foi tratado demais, um tema que eu diria surrado, mas que se justifica por ser tão bom voltar nos velhos temas;

em meu percurso, como de qualquer outro, como cientista há momentos decisivos, escolhas e pessoas decisivas;

logo no início de minhas pesquisas em campo percebi, com uma ajudinha dos três grupos de pesquisa com que trabalhava, mais dos guarani, que não poderia ficar atado ao discurso pedagógico oficial sobre a educação escolar indígena;

percebi que o que esse discurso queria domar, eu pensava em liberar, em ativar, impulsionar;

percebi que a linguagem e as condições desse discurso o faziam cativo de seus pressupostos, que ele falava em fazer algo enquanto negociava em condições historicamente determinadas que faziam dele um produto de marketing político num contexto barbaramente desigual, por fim, via a maçã envenenada dos judeus;

esse é o resumo grosseiro de como mudei minha perspectiva de pesquisa e passei a procurar um outro ponto de vista;

essa mudança conduziu-me, entre outras coisas, a priorizar, nesse processo de formação pelo qual passava, o conhecimento ocidental em detrimento do indígena;

para estudar o conhecimento indígena me parecia mais importante estudar o conhecimento ocidental, o conhecimento (com) que pretendia conhecer o outro;

antes de estudar, ou enquanto estudava, características como oralidade, mitologia, xamanismo, corporalidade, fazia uma viagem à matriz do pensamento ocidental: seus princípios, pressupostos, sua genealogia, seus tabus, suas profanações, seus dogmas, seus heróis e seus hereges;

muitos companheiros de pesquisa não entendiam a proporção que a teoria do conhecimento e a bibliografia filosófica iam ganhando na pesquisa;

perdi diversos companheiros de trabalho ao longo da pesquisa, quando fui reconstituindo o corpo de interlocutores, adaptado à ousada bibliografia;

ouvi piadinhas e tive a pesquisa desconsiderada por pessoas com quem trabalhei por anos;

o mais amargo era que eles batiam em minhas costas e me olhavam com um olhar de pobre coitado, enlouqueceu...

não acreditavam que o conhecimento pudesse ser novo, que se podia criar em um campo tão vasto, que se podia inventar os caminhos a serem trilhados num plano que não se determinava nem pedia respostas prontas;

essa é a herança do saber positivo: dinâmica das sucessões políticas que, como o conhecimento, se dá evolutivamente;

pois essa é a idéia de uma verdade transcendente que devemos descobrir: aquele que fizer o lobby, descobriu a verdade, que geralmente é a confirmação de alguma hipótese de seu orientador ou chefe de departamento;

das características que definem a ciência ocidental selecionei aquela que tem sido a mais trabalhada pela antropologia brasileira dos últimos anos, até por seu rendimento, a objetividade;

a objetividade nos coloca num circuito propício, com ela entende-se aspectos:

· da matriz do conhecimento ocidental, da filosofia grega ao iluminismo e positivismo,

· de nosso discurso sobre a natureza e o homem,

· da gênese da ciência,

· do marco epistemológico na filosofia ocidental,

· da antropologia e seu ponto de inflexão, o pensamento selvagem;

a crítica da objetividade nos permite desmontar o arsenal positivista, ou melhor, analisar como a antropologia encontra no positivismo um impasse que a desafia a viabilizar-se ou perecer na primeira infância;

o próprio positivismo se define pela positividade, pela correlação direta entre discurso e realidade, pressupondo para tanto uma certa distinção dessas dimensões;

a pressuposição que baseia o positivismo é uma compatibilidade entre discurso racional e racionalidade dos fenômenos que se dão à explicação;

o discurso positivista mantém latente ou ocultada a natureza dessas dimensões, em que a natureza da linguagem ou a da realidade não é colocada em questão, sendo ambas sustentadas sobre o princípio da representação, dessa relação harmônica entre discurso verbal e referentes;

no entanto, quanto mais se afirma positivamente a realidade, mais esta insiste em escapar, em exigir novas atualizações;

o realismo cientificista na literatura e nas artes se depara com esse problema, o mistério do real que escapa ao pretensioso realismo e é bem definido pelo discreto impressionismo ou pelos narradores irônicos da literatura que construirão a modernidade a partir das ruínas do realismo objetivista;

colocar em questão essa harmonia entre tais dimensões, levantando inclusive suas conseqüências (ou causas) políticas é tarefa do pensamento no século vinte;

pensar em que condições o sentido faz sentido, o que constitui um campo de sentido, o que constitui fundo à forma do sentido;

o conhecimento como violência...