29 agosto 2007



em vez de um modelo suposto de metodologia a ser seguido por toda e qualquer pesquisa antropológica, uma metodologia extraída a cada tema trabalhado;
o primeiro (e grande por isso) autor a tirar sérias e amplas conclusões metodológicas desse problema foi mauss;
com o potlach, certo que relativizou a teoria econômica marxista do capitalismo universal(izante);
porém, para além disso, o potlach (re)definiu a antropologia e a etnologia deslocando todo o seu campo problemático do empirismo objetivante e descritivista do positivismo, para a dimensão imanente do pensamento em que se encontram as culturas;
para esse tema, o potlach, que deve se constituir como uma teoria nativa, princípio de um pensamento nativo, exige-se um método próprio, que dê vazão à amplitude e ao alcance do tema;
é por isso que lévi-strauss viu nessa obra um tratado de metodologia, por que ela traz o problema filosófico por excelência das condições de sua própria validade, do campo de sentido que a obra define para si, de seu plano de imanência;
é no xamanismo, campo propício à exploração do plano de imanência, que lévi-strauss vai explorar o problema da constituição do sentido e dos regimes sígnicos/simbólicos das sociedades;
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tal concepção generalizante e homogeneizadora que concebe um modelo de metodologia, que chega mesmo a conceber a metodologia como modelo, propõe de saída a metodologia como procedimento extrínseco à pesquisa;
vê-se a metodologia como instrumento da pesquisa que fornecerá os subsídios à reflexão e ao conhecimento, esses sim produtos da pesquisa;
a reflexão metodológica, como ocorre em todos os campos do saber neoliberal, se torna problema de especialistas, extraindo-se uma área de pesquisa que tematize a metodologia;será, no entanto, a metodologia matéria para uma outra disciplina, mais um segmento de nosso esquizofrênico quadro de especialidades, ou será a metodologia parte intrínseca da pesquisa?
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o debate epistêmico a que a antropologia conduz as ciências humanas ao deslocar o eixo etnocêntrico dos valores ocidentais, fixo em sua mito-religião, continuada em sua ciência, tem como foco seus problemas metodológicos;
o problema de como pensar o outro leva o pensamento ocidental a uma profunda crise de consciência que vai remeter, pelo menos, aos seus princípios metodológicos de herança antiga/clássica;
isso porque desloca o eixo dos valores, sobre o qual se apoiava a objetividade positivista, e dobra o texto sobre si mesmo;
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em relação ao partido do absoluto tomado pela tradição positivista, o eles eivado de ironia que distinguíamos no procedimento genealógico marca sua relatividade;
enquanto o positivismo quer garantir seu lugar fora da história, fora do campo de valores em que circula, a genealogia trabalha com esse campo de valores como matéria de sua abordagem;
esse pronome característico da genealogia relaciona-se a seu perspectivismo;
distinguir-se de um eles que caracteriza uma postura e uma posição nesse campo de valores e seu respectivo plano de imanência (arqueologia) consiste numa estratégia retórica;
aliás, esse eles servirá menos como unidade empírica e mais como personagem conceitual que permite definir os valores do contexto;
ao invés de neutralizar padrões valorativos, a genealogia opera evidenciando-os por meio das estratégias discursivas que dispuser;uma dessas estratégias é evidenciar enunciação e enunciador, em contraste com os enunciados abstratos do positivismo;
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o pensamento objetivante tem uma tendência a se absolutizar, tendo conseqüências psicológicas de largo alcance, em que, geralmente, nos identificamos com o nosso pensamento;
uma saída possível para essa armadilha do pensamento é o jogo zen, não apenas por sua eficácia, também por sua fonte;
desautomatizar o pensamento que busca explicar a realidade, apoiado numa concepção absoluta de verdade;

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