31 março 2010

festival de teatro do vale do juruá 2010

divulgação do festival de teatro do vale do juruá de abril de 2010;
sementes orgânicas (olho d'água, 2006, 6 min)


trata-se do primeiro trabalho da olho d'água;
um vídeo de seis minutos a partir de gravação que fiz na colônia dos produtores orgânicos e meus compadres bebé e jô no pólo benfica, ao longo do rio acre;
jô narra a experiência com sementes orgânicas e diversificação da produção de praia, aquela do período de verão, quando não chove e as praias dos rios se tornam cultiváveis;

4shared:
http://www.4shared.com/file/254117105/5cfffef5/sementes_1_xvid.html

30 março 2010


introdução
aceitamos o desafio de elaborar uma resenha do principal capítulo do livro de maria cândida moraes, o paradigma educacional emergente;
nesse capítulo a autora define as bases do que seria o paradigma emergente no que tange à educação;
optamos organizar nossa abordagem do texto da autora a partir de pontos problemáticos que suscitam o debate em torno do tema paradigma educacional emergente;
em seguida tomamos um ponto que nos interessa aprofundar no debate com esse texto instigante;

pontos problemáticos
dentre os pontos problemáticos que destacamos no texto estão:
experiência política: o texto desconsidera que nossa democracia resulta de uma ditadura e não coloca em jogo o valor e o contexto político, tratando uma realidade pressuposta;
a educação como direito: o texto tem a mesma postura com relação à educação, tomando como predeterminada e não problemática a função social da educação e seu valor;
perspectiva do centro: a fala da autora não toma a perspectiva da borda, isto é, do educador, e sim do burocrata, quem busca um modelo para generalizar práticas e concepções num discurso homogêneo;
os dois primeiros problemas casam com essa perspectiva de discurso de estado que está sendo utilizada pela autora, pois o plano de transcendência, que escamoteia valores em vez de externá-los, é típico desse tipo de enunciado;
construção de narrativas: esse é um dos problemas instigantes colocados pelas ciências humanas;
trata-se de escapar da ditadura do conteúdo para se apropriar da expressão como dimensão constitutiva do conhecimento;
esse é um problema central da antropologia: como perspectivar perspectivas?

mesmo sendo o objeto do próximo tópico, é necessário introduzir como ponto problemático a relação entre forma e conteúdo; a maneira superficial, de um generalismo jornalístico, com que o tema do paradigma epistêmico é tratado prejudica o seu objetivo;
de uma apresentação do suposto paradigma emergente, passa-se a um manifesto de como e pensar e agir na nova era do regime quântico;
é aí que volta à tona, na forma de sintoma, o descompromisso do texto com uma abordagem antropológica das implicações políticas de um paradigma, seja ele emergente ou não;

ciências duras e humanidades
a escolha do modelo científico para determinar as características do paradigma educacional deve-se a essa opção pela generalização;
segundo a autora, o modelo de ciência influencia o pensamento, a vida, a socialidade, o sistema de valores, mas como se dá essa interação e de que forma o sistema de valores, a economia, a política de certa época influencia e até determina o pensamento científico;
uma das grandes conquistas da epistemologia moderna foi a noção de discurso, conforme elaborada por foucault em as palavras e as coisas e arqueologia do saber, que visa dar conta da produção de ciência, da ciência como produto social, como prática que envolve outras práticas, outros discursos, outros regimes de valor;
seguindo a orientação foucautiana que traz à tona os processos de produção discursiva e sua política social em relação ao estado e suas instituições, remetemos a nietzsche, o filósofo que se lançou pioneiro nesse processo de desconstrução dos valores que sustentam a ciência autoritária do homem ocidental, proprietário da concessão da verdade;
a proposta de desconstrução do paradigma oficial converge para o problema da relação entre pensamento e política, ou, nas palavras de deleuze-guattari, entre ciência régia e pensamento nômade;
a ciência régia, isto é, o pensamento instituído e hegemônico do centro, por definição, refere-se a si e tudo o mais desde o seu conjunto de valores devidamente ordenados para a manutenção de sua hegemonia;
assim que ocorre a manutenção e o controle dos centros emissores de verdade; nesse contexto, pressupor a educação de estado e seu discurso como libertários, será justamente amansar o discurso libertário que deveria justamente exercitar-se na desconstrução desses valores hegemônicos tornados discurso;
por isso, não se trata de trocar um modelo por outro, um rei por outro; não se trata da sucessão de paradigmas como de uma atualização no discurso da gestão educacional;
isso se o objetivo for realmente a autonomia dos tais sujeitos sobre si e seus processos subjetivos, incluindo o universo do conhecimento detido pelo discurso educacional;
erigir paradigmas: eis o que qualifica especificamente o paradigma contra o qual nos voltamos;
por isso, em nossa prática discursiva, não podemos incorrer nesse erro; há uma diferença fundamental aqui entre teoria e prática, ou melhor, entre aquilo que deleuze-guattari chamaram plano de transcendência e plano de imanência;
não se trata de falar de ou em nome de um paradigma emergente, não se trata de teorizá-lo antes de realiza-lo/construí-lo;
falar em nome de um paradigma emergente é buscar a sua instituição; há quem diga que isso seja inevitável;
no entanto, imaginamos um minoritário como puro movimento, anônimo, nômade, que se dá pelas franjas, antes ruindo com o hegemônico por sua própria natureza revolucionária;
dada a sofisticação do aparelho de captura, esse devir-revolucionário, que persiste em atravessar nossa experiência cotidiana, já foi muitas vezes dado como extinto;
uma certa arte (o artístico) tem restado como um (não único) espaço privilegiado na concepção de subjetividade, talvez pelo espaço que deixa aberto a expressões que não se deixam definir pelo consenso, suas linhas de fuga;
o projeto de aproximar arte e pensamento, de revelar a dimensão estética do pensamento, está em abrir mão da imagem da ciência definida pela verdade, da função institucional do discurso científico, para que se possa retomar o pensamento científico no que ele tem de revolucionário;
trata-se de acreditar que a ciência, o pensamento científico não se reduz ao consenso exigido pela noção verdade que não serve senão para ocultar um regime de valores e um conjunto de práticas de controle e ordenamento social; mas resta a dúvida: pode a arte resgatar alguma dimensão da ciência que não sido capturada pelo consenso da verdade ou deve a ciência definitivamente deixar de se chamar ciência assumindo todo e qualquer pensamento como arte;
para se tratar dos discursos como dispositivos que orientam e são orientados por práticas, como o fez michel foucault, há que se propor uma genealogia das instituições e suas práticas sociais no contexto das funções do estado, isso tudo feito a partir de uma relativização crítica do discurso da modernidade, herdeiro do iluminismo, que desempenha a função de instituir uma ordem pública;
como a perspectiva que nos conduziu a essa análise cuidadosa dos discursos (jurídico, sanitário, médico, pedagógico etc) das instituições públicas foi uma perspectiva crítica e não uma abordagem positivista, certo é que mantenhamos essa mesma perspectiva;
tomar o estado, suas instituições e sua relação com os sujeitos como dado consiste justamente na abordagem contra a qual investimos;
é justamente aí que se encontra o ponto problemático, o nosso ponto de partida;
o discurso das instituições na modernidade, em função do estado, possui a função de normalização e marcação da diferença;
nisso, tal como organização jurídica, o estado é herdeiro da velha estrutura burocrática da igreja católica;
não se deve tomar o estado ou qualquer de suas instituições como estimuladores da diferença, da autonomia ou do espírito libertário, sem munir-se minimamente de justificativas;
tomar as ciências duras de forma isolada, sem relacioná-la com as revoluções nas ciências humanas;
isso resulta em manter muitos conceitos e concepções que criam uma dificuldade de diálogo entre essas diversas abordagens do conhecimento;
deixar de mediar o diálogo entre ciências duras e educação com a tradição do pensamento humanista me parece um erro crucial da autora;
se a ciência revolucionou a imagem moderna do mundo, as ciências humanas revolucionaram tanto quanto as imagens do sujeito, da subjetividade, da socialidade, de si próprias etc;
com isso a autora se alheia da própria matéria de seu discurso, pecado capital das ciências humanas que é, afinal de contas, onde a autora situa sua perspectiva epistemológica;
essa ênfase nas ciências duras acaba levando a autora a afirmar sintomaticamente que capra nos teria ensinado que não há ciência ou disciplina mais importante que a outra;
ao optar por uma passagem direta, sem intermediários, da física para um paradigma educacional emergente, a autora se arrisca em outra pedra de toque de um humanismo ‘escaldado’ desde sua relação com as ciências duras que culmina com o positivismo;
estou falando aqui do objetivismo, pois é nele que a autora incorre ao reduzir os fenômenos sociais às supostas leis universais da física quântica;
por fim, tratando-se de um paradigma educacional sentimos falta da perspectiva educacional inserida em seu contexto humanista;

25 março 2010

nai mãpu yubekã (olho d'água, 2009, 7 min)

segundo filme da série desenhos do cipó, parceria da olho d'água com os pesquisadores ibã e cleber;

yube nawa aibu (olho d'água, 2009, 8min.)



esse é o primeiro vídeo realizado em parceria com txai ibã e txai cleber;
realizado no segundo semestre de 2009, resulta de parceria que teve momento marcante no ano passado quando estive na aldeia xicu kurumin, no rio jordão;
realizado no contexto das disciplinas de ensino de artes e produção de material didático que ministrei no curso de formação docente indígena da universidade da floresta entre 2008 e 2010;

a noção de representação ainda calará fundo por muito tempo em nossa forma de imaginar e criar os mundos que nos cercam;
a tradição de nosso pensamento está calcada na representação e hoje, mais que em qualquer outro tempo, vigora soberana;
mas como isso pode ser fato num tempo em que os universos virtuais ocupam a maior parte das nossas vivências;
essa distinção entre uma realidade vivida, uma realidade de fato, contraposta a uma realidade fictícia, de possibilidade, tem raízes profundas em nossas vivências religiosas, tendo encontrado no teatro uma expressão que atravessou e se modificou através dos tempos, modificando esses próprios tempos;
na constituição da sociedade ocidental, o universo apolíneo do logos, da cultura, da razão, acabou por soterrar seu complemento dionisíaco encarnado no corpo, no feminino, do instintivo;
o teatro foi um dos instrumentos desse processo;
como lhe é próprio, na medida em que serviu de instrumento, moldando a realidade segundo os valores dos tempos o teatro foi também refletindo sua própria forma;
o mundo do ocidental é visto como um palco;
seu pensamento objetiva o mundo e mesmo sua subjetividade é esboçada como um palco em que se reconhece em complexos encenados desde tempos imemoriais;
medrosos e cagüetas, nossa experiência política consiste em entrever o mundo pelas frestas de nossas janelas;
sentimo-nos todos, no fundo, como participantes de um grande reality show;
como diz siba, de um grande big brother mental;

incapazes de interagir com o real para além dos restritos critérios do mercado de trabalho, temos restritas e controladas nossas experiências de subjetividade e suas possibilidades;
iludidos com as possibilidades da tecnologia e do consumo privilegiado, nos sentimos ainda mais frustrados, a mercê das indústrias farmacêuticas ou do mercado da auto-ajuda, que inclui a massificação televisiva da religiosidade intolerante e racista;
não se trata, hoje, contexto tão particular em termos culturais, em que nos envolve essa rede onipresente, de pensarmos novos caminhos para o teatro;
que futilidade nos reduzirmos a isso;

trata-se mais de usarmos o teatro para liberarmos campos de possibilidade num real reduzido à liberdade de consumo;
libertar-se da representação para assumir a performance como pura expressão;
não se trata de arte pela arte;

trata-se de assumir como real o que se passa no palco e a vivência que se tem de espectador;
pois o surto báquico não consiste numa atuação do ator profissional, e sim na experiência a ser vivenciada com a abolição do espectador, do homem comum;
é essa irrealidade que ameaça a verdadeira realidade;
se pareço louco é antes pela penetração da normalidade e a violência com que controla e põe ordem nos universos artísticos para que não invadam nossas ordens psíquicas;
nosso corpo, nossa voz, nossa atuação, nossas performances;
tudo justificado pelo tal ‘sujeito’ que somos cada um de nós, com família, nome, rg, cpf, história de vida etc;
tudo justificado por essa linha divisória que marca (cada vez mais) tão bem (e serve tão bem nossa hipocrisia, afinal, brasília é tão longe do brasil) a diferença entre realidade e ficção;

24 março 2010

o que será de nós... (olho d'água, 2009, 18 min.)



o video o que será de nós... foi realizado em 2009 com educandos do protejo/ceflora daqui de cruzeiro do sul em oficina de mídia e estado;
conta a história de uma jornalista que recebe de um deputado verde a denúncia da comercialização ilegal de remédios por parte do secretário de saúde;
sua matéria é interceptada quando o secretário fica sabendo e entra em contato com a direção do jornal que aborta a matéria;
baseado em artigo de antonio alves sobre a imprensa acreana;

23 março 2010


A noção de representação ainda calará fundo por muito tempo em nossa forma de imaginar e criar os mundos que nos cercam.
A tradição de nosso pensamento está calcada na representação que hoje, mais que em qualquer outro tempo, vigora soberana.
Mas como isso pode ser fato num tempo em que os universos virtuais ocupam a maior parte das nossas vivências.
Essa distinção entre uma realidade vivida, uma realidade de fato, contraposta a uma realidade fictícia, de possibilidade, tem raízes profundas em nossas vivências religiosas, tendo encontrado no teatro uma expressão que atravessou e se modificou através dos tempos, modificando esses próprios tempos.
Na constituição da sociedade ocidental, o universo apolíneo do logos, da cultura, da razão, acabou por soterrar seu complemento dionisíaco encarnado no corpo, no feminino, do instintivo.
O teatro foi um dos instrumentos desse processo.
Como lhe é próprio, na medida em que serviu de instrumento, moldando a realidade segundo os valores dos tempos, o teatro foi também refletindo sua própria forma.
O mundo do ocidental é visto como um palco.
Seu pensamento objetiva o mundo e mesmo sua subjetividade é esboçada como um palco em que se reconhece em complexos encenados desde tempos imemoriais.
Medrosos e cagüetas, nossa experiência política consiste em entrever o mundo pelas frestas de nossas janelas. Sentimo-nos todos, no fundo, como participantes de um grande reality show.
Como diz Siba, de um grande big brother mental.
Incapazes de interagir com o real para além dos restritos critérios do mercado de trabalho, temos restritas e controladas nossas experiências de subjetividade e suas possibilidades.
Iludidos com as possibilidades da tecnologia e do consumo privilegiado, nos sentimos ainda mais frustrados, a mercê das indústrias farmacêuticas ou do mercado da auto-ajuda, que inclui a massificação televisiva da religiosidade intolerante e racista.
Não se trata, hoje, contexto tão particular em termos culturais, em que nos envolve essa rede onipresente, de pensarmos novos caminhos para o teatro.
Que futilidade nos reduzirmos a isso.
Trata-se mais de usarmos o teatro para liberarmos campos de possibilidade num real reduzido à liberdade de consumo.
Libertar-se da representação para assumir a performance como pura expressão.
Não se trata de arte pela arte.
Trata-se de assumir como real o que se passa no palco e a vivência que se tem de espectador.
Pois o surto báquico não consiste numa atuação do ator profissional, e sim na experiência a ser vivenciada com a abolição do espectador, do homem comum.
É essa irrealidade que ameaça a verdadeira realidade.
Se pareço louco é antes pela penetração dessa normalidade e a violência com que ela controla e põe ordem nos universos artísticos para que não invadam nossas ordens psíquicas.
Nosso corpo, nossa voz, nossa atuação, nossas performances.
Tudo justificado pelo tal ‘sujeito’ que somos cada um de nós, com família, nome, rg, cpf, história de vida etc.
Tudo justificado por essa linha divisória que marca (cada vez mais) tão bem (e serve tão bem nossa hipocrisia, afinal, Brasília é tão longe do Brasil) a diferença entre realidade e ficção.

17 março 2010

florestania - futuro e globalização no juruá

parte 3 de 3

aqui está a terceira parte do vídeo florestania;

florestania futuro e globalização no juruá

parte dois de três

aqui está a segunda parte do vídeo florestania - futuro e globalização no juruá;

florestania, o vídeo

parte um de três

esta é a primeira parte do vídeo florestania, realizado pelos educandos da oficina de cidadania do protejo/ceflora em 2009;

realização da olho d'água;

I festival de teatro do vale do juruá

mais uma da olho d'água;

trata-se da divulgação (sujeita a alterações) do I festival de teatro do vale do juruá;

13 março 2010

11 março 2010


arte hegemônica

parece contraditório falar de arte hegemônica e fazer a crítica da arte hegemônica sem sair de seu circuito fechado, de suas referências;

não se trata de esquecer as referências da arte hegemônica, e sim trabalhar sobre outras perspectivas que mudem, que transformem nosso prisma sobre a história e a prática da arte;

algo que sempre acompanhou a arte e o pensamento hegemônico foram as artes e os pensamentos minoritários, que sempre visaram criar bordas e margens férteis e potentes para abalar o sistema teocêntrico do pensamento majoritário;

a institucionalização do minoritário pelo majoritário cria, no entanto, muitos fantasmas;

por outro lado um minoritário de certo majoritário, sempre pode ser o majoritário de outro minoritário;

não se trata de um sistema simples e fixo, e sim de um jogo complexo e em constante movimento;

no entanto, no momento, o que nos interessa mais é o processo de captura do minoritário pelo majoritário por meio de um complexo regime social, econômico e político que vivenciamos;

pode-se chamá-lo globalização, mercado de direitos, cultura do politicamente correto, emergência das minorias etc;

o comércio dos direitos sociais fazem parte do discurso hipócrita da democracia capitalista;

os liberais já chegam a atribuir, numa lição de reescritura da história, não apenas mais a abstrata ‘liberdade’, mas os próprios direitos sociais às conquistas do capitalismo;

essas ‘minorias’ e suas ‘diferenças’ ao passarem a compor o quadro do regime majoritário, o comércio de direitos e subjetividades, deixam o que teriam ou poderiam ter de minoritário;

matéria difícil de objetivar essa da subjetividade;

o feminino ou o devir-mulher, como foi devidamente conceitualizado, não se confunde com a mulher;

ele a atravessa, como pode atravessar outros sujeitos;

o feminino, quando tornado devir, ultrapassa o sujeito mulher e até mesmo o ser humano;

e se o minoritário não se confunde com a minoria (ainda menos com a minoria institucionalizada), em que consiste o minoritário?

se o majoritário nos conduz, por sua natureza teocêntrica e etnocêntrica, isto é, unicizante, ao centralizador regime arbóreo (forma de árvore), o minoritário pulveriza essa obsessão pelo centro num fragmentário regime rizomático (forma de rizoma);

multiplicidade é a natureza do minoritário, assim como o majoritário está sempre guiado pelo unicidade, pelo homogêneo;

imaginar o minoritário é diferente de explicá-lo, de encerrá-lo numa definição comum;

o minoritário pode ser imaginado como uma linha limite;

sempre que nos aproximamos dela (no sentido da captura), ela tende a se afastar, infinitamente, ou, ao menos, indefinidamente;

por isso, a captura que se pode fazer é da ‘minoria’, do ‘excluído’, do ‘marginalizado’, enfim, desses vitimizados subprodutos do majoritário, mas não do minoritário;

esse escapa por todos os lados, dele só temos vestígios, pistas, micropercepções;

porém, todo nosso pensamento ocidental está organizado em torno de centros que lhe dão sentido;

a arte, por natureza irracionalizante, é de nossas raras práticas que possibilitam escapar a essa obsessão pelo centro;

no entanto, dificilmente conseguimos pensar (mesmo a arte) sem nos colocarmos numa ordem temporal, numa organização linear, numa cultura hegemônica, segundo os padrões homogeneizantes das categorias e conceitos;

caso exemplar, no século vinte, é o da história se tornou alvo das críticas dos pensamentos que se propuseram a desmontar esse dentre tantos automatismos do pensamento;

entretanto, não se trata de mera diferença de opiniões;

trata-se da atividade política do pensamento, isto é, de voltar o pensamento contra os valores que estão ocultados nele há séculos e até milênios;

essa psicanálise do pensamento foi muito bem calada na marginalização dos pensadores que a propuseram e na eleição de outros tantos que nos ajudem a conviver mais pacífica e amenamente com nossos valores e os conflitos contra os quais eles nos lançam;

dar vida a esses valores e seus conflitos pode ser um dos tantos talentos do teatro;

dessa forma, o minoritário pode vir à tona num teatro maduro que atravessou o século vinte experimentando todo tipo de deslocamento de seus centros de sentido;

a partir daí o absurdo do teatro deixa de ser tão absurdo assim e mesmo sua crueldade com os nossos valores não pode mais ser taxada de gratuita ou sensacionalista;