29 agosto 2007


máquinas de guerra

o genealogista irônico não cessa de inverter os valores pressupostos nos conceitos e discursos;
as análises de clastres das sociedades sul americanas é toda pontuada por tal procedimento;
uma delas que faz escola e está no princípio de suas sociedades contra-estado é o valor positivo da guerra;
daí meu interesse sobre a seguinte passagem de mil platôs

clastres pode então invocar o direito natural revertendo sua proposição principal: assim como hobbes viu nitidamente que o estado existia contra a guerra, a guerra existe contra o estado, e o torna impossível; disto não se conclui que a guerra seja um estado de natureza, mas, ao contrário, que ela é o modo de um estado social que conjura e impede a formação do estado; a guerra primitiva não produz o estado, tampouco dele deriva;

de fato, a partir deste trecho posso compreender aquilo a que os autores se referem como máquina de guerra;
a guerra se opõe de tal forma ao estado que será valorada como contraponto do civilizado;
é próprio do estado conquistar sem a guerra, ainda que utilize eventualmente dela;
melhor dizendo, a guerra do estado é travada em outras trincheiras, o que nos remete para um outro texto clássico de clastres: do etnocídio;
nesse texto clastres trata dessa outra guerra, dessa guerra simbólica em que as culturas extintas pela homogeneidade civilizatória;
é interessante que clastres tenha conseguido uma saída para o problema da aculturação, conceito que resultava justamente do campo de valores e da epistéme que criticava, numa das anomalias típicas do positivismo e da necessidade de critica-lo;
post scriptum... a guerra é um elemento fundamental à compreensão do pensamento de foucault;
sua concepção política tem na guerra um princípio, levando a sua teoria do estado articulada com sua epistemologia;
sua crítica ao discurso universal do iluminismo o conduz à análise dos dispositivo de uma sociedade disciplinar, na qual as ciências humanas cumprem papel bem definido;
promove igualmente a inversão guerra/estado, ou, pelo menos, relativiza sua simétrica inversão, tendo na guerra um instrumento de análise central de sua teoria do poder;

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