28 agosto 2009

25 agosto 2009


como sinalizaram os colegas, podemos imaginar a apropriação das tecnologias na escola de duas maneiras e ambas dependem de como imaginamos o futuro da escola, o que, por sua vez, depende de como imaginamos o futuro da sociedade;
segundo a crítica feita ao longo do século vinte pelos intelectuais europeus, geladamente ignoradas por nossa sociedade publicitária, a modernidade consistiu na apropriação de todos os instrumentos criados para a liberdade do homem e na sua utilização para um controle cada vez mais acirrado;
conforme ele demonstram, não há novidade nisso, visto que praticamente todas as instituições sociais criadas na era moderna têm por função vigiar e controlar;
diante disso fica difícil imaginar um futuro da sociedade ocidental, de sua escola e da apropriação que essa escola fará que sejam voltadas a um controle cada vez maior;
agora se a pergunta é feita voltada para uma prática de resistênia micropolítica, isto é, como eu estou utilizando esses recursos, penso que a resposta pode ser outra;
estamos aqui em cruzeiro apropriando-se das mídias digitais para criar e recriar a realidade de jovens que estão herdando a sociedade sem sentido do consumismo alienado;
a arte, apesar de ter sido englolida em parte pela linguagem publicitária, ainda opera como poderoso agenciamento coletivo de enunciação, como poderosa usina de processos de subjetivação;
enfim
um piparote e tchau...

23 agosto 2009

então, utilizando uma comparação espacial, poderíamos dizer que o contexto, no sentido em que o entendemos, não se situa ao lado das obras, à margem da tragédia;
está não tanto justaposto ao texto quanto subjacente a ele;
mais que um contexto, constitui um subtexto que uma leitura erudita deve decifrar na própria espessura da obra por um duplo movimento, uma caminhada alternada de idas e vindas;
como se nota, os autores se voltam para outras possibilidades de leitura da tragédia;
não lhes interessa a tragédia em si, isto é, como plano de transcendência, mas a textura da tragédia, a tragédia tomada como plano de imanência, inerente aos discursos entre os quais está tecida;
numa atitude própria ao pensamento daquele momento (estruturalismo), os autores definem como contexto a instância a que se refere como seu campo de trabalho para um entendimento antropol ó gico da trag é dia;
contexto: a referência ao texto e não ao que estaria para além do texto, refere-se ao entendimento da tragédia para aquém da sua dimensão histórica, dos fatos que dariam sentido histórico à tragédia a partir de um plano transcendente;
contexto: referência ao texto e não ao que estaria aquém do texto, refere-se a uma abordagem da tragédia que não se restringe ao fechamento filológico sobre a palavra e seus sentidos, numa dimensão igualmente transcendental;
a subjetividade (ou o humano) tr á gico consistem num problema t ã o atual quanto nunca, j á que se trata de se libertar da naturaliza çã o e do dogmatismo dos valores religiosos para encarar valores humanos, assumidos pelos cidad ã os respons á veis pela condu çã o da rep ú blica;
isso significa que não podemos mais nos esconder nos atavismos dos valores, ou melhor, no atavismo que está na própria essência dos valores, especialmente para uma sociedade restrita entre os limites do bem e do mal, que a tudo reduz em termos de bem e mal; o regime jurídico, como bem sabemos por nossa tradição positivista, herda um apego ao moralismo típico dos sistemas dogmáticos das religiões;
continuamos vítimas desse sistema moralista que se protela nas versões atuais em que se deleita como juiz dos conflitos morais entre uma democracia demagógica submetida a um capitalismo que faz dos valores e da moral uma mercadoria, um produto no mercado dos discursos como qualquer outro;


e por falar em direito, uma última reflexão sobre dois marcos do direito internacional contemporâneo: a rosa de hiroshima e a imposição yankee do estado religioso (contradição ou redundância) de israel...


o texto tece o leitor e/ou o leitor tece o texto...
é essa conversa sobre o que é afinal a leitura, que leitura deve ser estimulada na escola etc é um tema que está bambando;
santaella, semioticista brasileira de destaque coloca essa questão sem estardalhaço, sem a linguagem do impacto criticada por levy em um de seus textos;
quase que naturalmente os leitores estão se transformando, ou meljhor está se transformando a imagem que fazemos dos leitores;
com isso, o que entendemos por texto e por criação também se modificam por extensão;
o termo multimídia representa essa sensibilidades atuais;
estamos vivendo agora a web audiovisual, é mais que necessário que modifiquemos nossas concepções sobre arte, criação, teatro etc
um piparote e tchau...
conforme comprometido, aí está o link do primeiro disco da aparelhagem
sonzeira do dj dolores de recife que representa o que de mais criativo na música eletrônica e regional hoje
abs compartilhador


sou ouvinte de kraftwerk há vinte anos e d e chico science desde o primeiro disco;
gosto demais do clima alemão do kraftwerk que sugere ao mesmo tempo uma inexorabilidade do universo cibernético e da invasão das máquinas em nossa subjetividade com um tom acido de um pessimismo muito mais interessante que a estupidez da demagogia das máquinas que gil propagandeia desde cérebro eletrônico;
gosto da estética repetitiva das músicas eletrônicas, mas nunca gostei de fubá, dance, house e essas bombas todas...
recomendo a vocês ouvirem dj dolores, o som que não tem saido do meu player junto com siba e a fuloresta
para linkar discos do dj dolores, acessem meu blog
um piparote e tchau....

21 agosto 2009



criamos ao menos um conceito muito importante: o de ritornelo; para
mim, o ritornelo é esse ponto comum; em outros termos, para mim, o
ritornelo está totalmente ligado ao problema do território, da saída ou
entrada no território, ou seja, ao problema da desterritorialização;
volto para o meu território, que eu conheço, ou então me
desterritorializo, ou seja, parto, saio do meu território?
(deleuze, 1997)


para falar do território, conceito central para o problam do espaço, faço rizoma com a noção de ritornelo, conceito que sintetiza o pensamento territorial;
o que nos interessa nesse conceito é sua relacionalidade, pois não se trata de território sedentário, no qual os estados criam a sua imagem da subjetividade homogênea;
não se trata de dizer território é isso ou ritornelo aquilo;
trata-se de entender e se apropriar do território como campo de relacionalidade;
nosso dicionário mapeia um campo de relacionalidades e não define verdades universais;
esse conceito de ritornelo é fundamental para dar ao ator um instrumento para imaginar a subjetividade como esse espaço da relacionalidade subjetiva;
por isso não se trata de imitar, trata-se de devir;
a subjetividade como território não existe em si, ela consiste de relações;
não pode ser explicada, positivada;
o ritornelo nos fornece essa dinâmica do devir, nos proporciona escapar às falsas verdades universais, mas, mais importante, nos proporciona escapar à imagem da verdade, ao regime de verdade criado por nossa cultura etnocêntrica;
o ritornelo comandará assim todos os processos de desterritorialização;



legal



sobre o 'paralelo'
sou partidário do jamais fomos modernos, isto é, como diz milton santos, fizemos escapar de tantos totalitarismos para cair no totalitarismo dos totalitarismos, a pseudo democracia colorida de social (e às vezes até de comunista (pt, pc do b etc...)), mas tudo se reduzindo ao velho esquema colonial em que somos os fornecedores de matéria prima do mundo, ansiando pela 'modernidade' e a 'civilização' dos outros, um velho processo de homogeneização que não se distingue da história, velho nome da publicidade de estado, do ocidente;
o exemplo maior disso são as instituições jurídicas que herdamos dos romanos juntamente com nossos sistemas de esgoto, outra invenção do império;
essas instituições são a própria extensão do regime de controle que a religião estabelece para cercear a liberdade e controlar os coletivos a partir de seus valores reacionários;
prova disso é o positivismo que fundamenta o pensamento jurídico nos valores reacionários de uma sociedade que ainda insiste em se imaginar homogênea, à imagem do europeizado galã da novela das oito;
o mesmo positivismo que atribui os todos-poderes ao jurídico, é o que formou e continua formando a cabeça de nossos militares, os mentores ideológicos de nossa yankeezação, aliás, da yankeezação de toda a américa latina;
pobres de nós que ainda dependemos deles para 'vigiar' nossas florestas, quando o que fazem é continuar conspirando para derrubar processos legais de instituição de terras indígenas como temos visto com a raposa serra do sol;


só o teatro mesmo...


mas voltando ao texto, penso que o que faz de vernant uma referência no redirecionamento dos estudos do helenismo foi sua abordagem antropológica do problema da tragédia, retomando em certa medida a abordagem filosófica feita por nietzsche no século anterior;
vernant escreve nos tempos do estruturalismo, pensamento que se propõe romper com a tradição positivista do pensamento dependente do historicismo;


pra quem quiser ler mais, vou continuar essa prosa no meu blog pra não me alongar demais por aqui;


abs

20 agosto 2009


"É de nossos conhecimentos que a educação no Brasil e no mundo tem alcançado grandes avanços e resultado positivo, graças as novas tecnologias. Todo educador tem que se aperfeiçoar e estar apto às novas técnicas para facilitar o ensino aprendizagem, temos que nos preparar para trabalhar com as novas máquinas existente no mercado de trabalho.
O educador de artes tem que desenvolver formulas de ensinar utilizando: laboratório de informática, data-show, peças teatral, vídeos, câmeras digital e muitas outras ferramentas que a tecnologia oferecem para facilitar as aulas e aprimorar os conhecimentos dos alunos.
Para capacitar os educadores, os governantes estão investindo na formação dos professores e nas escolas, adequando-as para receber as novas máquinas existente no mercado educacional, para desenvolver melhor o ensino aprendizagem, para que o aprendiz obtenha novos conhecimentos e um aprendizado eficaz.
O professor de arte tem que ter habilidade, conhecimento, atitude e tem que estar sempre conectado em tudo que ocorre na sociedade, principalmente na aérea social e cultural, o mesmo deve está atento para as novas tecnologias e ao mesmo tempo observar se os alunos estão compreendendo o que está sendo ensinado.
O professor, como qualquer um outro profissional, tem que administrar bem a vida, na escola,no lazer, na sociedade e até mesmo em sua própria casa, o professor tem que saber muito bem o que faz, o que está ensinando e aplicar com dedicação ao que se propôs."

Esse discurso acima é o que ouvimos hoje quando se fala de educação relacionada às mídias digitais.
Trata-se de um discurso publicitário que visa promover os interesses de um Estado globalizado, isto é, rendido aos interesses das corporações que e seus filmes de hollywood imaginam para nós o futuro da América Latina, da amazônia e do planeta.
Quem tem olhos veja: trata-se de uma descaracda ditadura mercadológica, continuando a sobrepor, com novos ares, os interesses do mercado aos interesses do que antes se costumava chamar sociedade, social, humano etc.
Corremos o perigo de abandonar a educação humanista que o Brasil legou ao mundo na obra de Paulo Freire, uma obra visceral para seu tempo, que, envelhecida, precisa de novos ares, que precisa ser trazida para o nosso universo da educação na era digital.
Somos nós os responsáveis por essa leitura, por pensar uma educação em novas mídias para a américa latina, para uma globalização que seja qualquer coisa que não a yankeezação do mundo, essa marcha fúnebre do consumismo desenfreado.
Pensar uma educação digital para uma amazônia, ou, pelo menos, para um juruá que pretende e executa, a informatização de todas as suas terras indígenas num futuro muito próximo.
Será que a educação à distância continuará um programa dos 'nossos governantes', reproduzindo a mentalidade alienada dos oprimidos-opressores?
Quando a prática do educador que se utiliza das mídias digitais será associada à resistência ao mundo criado pela opressão, a esse totalitarismo, como definiu milton santos à globalização?
Serão essas mídias as formas de proliferar a micropolítica de resistência, ou os velhos aparelhos de controle da religião e do estado potencializados para nos castrar em niveis inimagináveis?



caros ovelhas negras

precisamos escrever um texto colaborativo

sobre o seguinte tema para a disciplina de tecnologias
até dia 23

se voces já começaram, eu gostaria de participar...
se não, dei início à atividade em meu wiki
sugiro que possamos construir o texto direto lá

o endereço é
http://pt.imperceptiveis.wikia.com/

no tópico
teatro dos simulacros

para modificar o texto cliquem em editar, em cima, à esquerda

aqui está o que encontrarão lá
é só um começo...

aguardo resposta breve...
amilton


ovelhas negras


conforme propõe a atividade:
Nele dissertem sobre as habilidades, conhecimento e atitudes que o professor de artes deve desenvolver e construir para melhor situar-se neste novo paradigma de educação utilizando as novas tecnologias.
conforme o roteiro do henri cristus:
Quais as idéias a serem tratadas no texto? Façam uma lista dos principais conceitos/idéias e escrevam no editor de texto do wiki. Sejam breves nesse momento. Escrevam palavras ou pequenas senteças. Deixem pequenos comentários após os conceitos explicando ao grupo o que pretende com aquele conceito/idéia. Faça sugestões e modificações nos conceitos já colocados no wiki por outras pessoas. A idéia é de uma autoria coletiva. Então não se sinta incomodado em “mudar” o texto do outro, porque o texto não pertence ao outro e sim a todos.
minhas idéias iniciais:
aprendendo a ver teatro na era dos simulacros: como se aprende a ver teatro? o que o educando deve observar? como ler uma peça que está sendo encenada? que atividades podem levar o educando a perceber o que se passa e como se organiza uma encenação? como os meios digitais podem trasformar essa experiência?
aprendendo a fazer teatro na era dos simulacros: teatro e internet? teatro e vídeo: associação ou anulação mútua? quais as nossas experiências nessa interação educandos-teatro-video digital?

vou ver se escrevo mais alguma coisa por agora e envio
se voces ja começaram me passem o que está escrito








Roteiro para produção de texto colaborativo: wiki
Christus Nóbrega
O termo wiki (pronuncia-se: uíqui) é utilizado para identificar um tipo específico de
documento produzindo na cibercultura. A principal característica do wiki é a forma
colaborativa de se trabalhar para a produção de textos, informações e/ou
conhecimento. No wiki a autoria não pertence a um sujeito, mas sim a coletividade
que o produziu. Todos podem modificar o conteúdo pensando sempre em sua
melhoria. Porém, para produzir um texto colaborativamente, algumas regras
podem ser estabelecidas.
A seguir apresentamos uma proposta de roteiro de trabalho. Ela é apenas um guia,
pois o wiki pode ser utilizado para diversos fins e cada um deles pede uma
metodologia específica. Experimentem e adaptem esse roteiro em função das
dinâmicas e necessidades de seu grupo de trabalho. Para conhecer mais sobre a
filosofia wiki e os termos éticos de conduta visite os site
.
Roteiro para a produção de um texto WIKI.
• Quais as idéias a serem tratadas no texto? Façam uma lista dos principais
conceitos/idéias e escrevam no editor de texto do wiki. Sejam breves nesse
momento. Escrevam palavras ou pequenas senteças. Deixem pequenos
comentários após os conceitos explicando ao grupo o que pretende com
aquele conceito/idéia. Faça sugestões e modificações nos conceitos já
colocados no wiki por outras pessoas. A idéia é de uma autoria coletiva.
Então não se sinta incomodado em “mudar” o texto do outro, porque o texto
não pertence ao outro e sim a todos.
• Após discuti-las, criem uma hierarquia da informação. Em que ordem os
conceitos tratados devem aparecer? Quais as idéias primárias, secundárias,
terciárias, etc.? Quais são as idéias principais e as que poderiam estar
ancoradas dentro dela?
• A partir dessa hierarquia de informação estruturem um esqueleto do texto:
1. Idéia principal 1
1.1 Conceito secundário 1
1.2 Conceito secundário 2
1.3 Etc.
2. Idéia principal 2
2.1 Conceito secundário 1
2.2 Conceito secundário 2
2.3 Etc.
3. Idéia principal Etc.
4. Conclusões
• Após esse esqueleto comecem a redação. Recomendamos que a primeira
linha de cada parágrafo apresente o núcleo da idéia a ser desenvolvida nas
demais linhas. A sentença inicial chamamos de Tópico Frasal. Para conhecer
mais sobre técnicas de redação indicamos esses dois links:

19 agosto 2009



grato pelo texto

gostei...
passei alguns anos estudando o ouvir na aprendizagem dos cantos xamânicos guarani...
acompanhado de uma crítica metafórica ao caráter visualista do pensamento ocidental...
se quiser passar o olho ou o ouvido...
http://www.oqueseouveentre-indice.blogspot.com/

esse estudo resultou na síntese que se encontra no capitulo dois: yvará rendupá, que numa tradução improvisada seria 'o que tudo ouve' ...

grato novamente
amilton

18 agosto 2009


"As investigações etnomusicológicas tiveram importância ainda, por encaminharem a projeção da corporalidade como matriz dessa epistemologia, como já apontavam as investigações precursoras de Marcel Mauss.
A partir de seus estudos sobre o potlach, o autor concebe uma economia do dom sobre o valor positivo da perda que redimensiona a noção de valor da economia política, centrada na mercadoria, norteada, em sua forma primitiva, pelo escambo.
Ao tomar a categoria nativa como dínamo de sua teoria e, a partir dela, relativizar e circunscrever a economia baseada na mercadoria, o autor encontra suporte material para a recondução da reciprocidade simbólica. Dessa forma, ao abordar as técnicas corporais, assim como a noção de pessoa, aponta para essa opção epistemológica em que o corpo aparece como circuito da socialidade.
À medida que vai se definindo em relação às demais, ao longo do séc. XX, a etnologia brasileira vê se constelarem na órbita do corpo séries de problemas originais. Essa definição, tanto encaminha o corpo como categoria nativa, como fornece a corporalidade como princípio dessas cosmologias.
A atribuição do caráter axial da corporalidade nas cosmologias ameríndias, preparado nessas etnografias ameríndias, é finalmente assumido como programa na obra de Seeger (1980, [1979]1987). A corporalidade se insere na definição de processos de construção de identidades e alteridades, coletivas ou individuais, próprios a essas sociedades.
“Ele, o corpo, afirmado ou negado, pintado e perfurado, resguardado ou devorado, tende sempre a ocupar uma posição central na visão que as sociedades indígenas tem da natureza do ser humano” (Seeger et alli, [1979] 1987:13)

Ao tomar a corporalidade como categoria epistêmica central do pensamento ameríndio, a partir de seus processos de metamorfose, não se toma aqui o corpo como metáfora, e sim, como algo diverso do que assim chamamos. O enfoque fecha-se na relação, no movimento.
“Se os Yawalapíti dizem que a reclusão é ‘para’ se mudar o corpo, esta afirmativa não pode ser tomada como ‘metáfora’; ela deve ser ouvida ao pé da letra, desde que se entenda que o ‘corpo’, para os Yawalapíti, é algo diverso do que assim chamamos.” (Viveiros de Castro, 1987:37)

A partir disso, se constitui o empreendimento de imaginar essa cosmologia não como objeto a ser explicado pela antropologia, e sim, lhe atribuindo valor epistêmico, ou seja, colocada ombro a ombro com as nossas descrições e conceitos. Viveiros de Castro propõe que as concepções desse pensamento sejam tomadas como conceitos propriamente. Essa operação conduz a uma concentração sobre os idiomas simbólicos que constituem a corporalidade, mais do que sobre relações sociais entre grupos, objetivadas em trocas de bens ou mercadorias. A objetividade é reelaborada. Uma polaridade central que converge no corpo é a relação indivíduo/sociedade.
“Tudo neste trabalho conduz a elaborar a noção de corporalidade não só como categoria fundamental das sociedades sul-americanas, mas também como um conceito básico que provavelmente nos permitirá interpretar certos papéis sociais como o chefe, bruxo, cantador e xamã.” (Seeger et alli, 1987:24)
O estabelecimento de uma etnologia que suporte essa teoria do conhecimento ameríndio promove a sonoridade e a ritualidade, até então consideradas como acessórias, ou mesmo desconsideradas, à condição de vetor da produção de conhecimento dessas sociedades.
Viveiros de Castro, num atordoante exercício de ficção antropológica, propõe o animismo como ontologia, ao cotejá-lo com o naturalismo e sua ontologia dual natureza/cultura. Ao multiculturalismo desta, propõe seu contraste com um possível multinaturalismo das cosmologias ameríndias.
“O animismo pode ser definido como uma ontologia que postula o caráter social das relações entre as séries humana e não-humana: o intervalo entre natureza e sociedade é ele próprio social.” (1996:121)
O corpo, via perspectivismo, abrigaria a multiplicidade das naturezas, enquanto circuito da socialidade nessa “cultura”. A ritualidade é referência nesse contexto, visto que fornece o seu recurso principal: o regime enunciativo.
Como plano intermediário entre as representações, propriedades do espírito, e a morfologia fixa da materialidade substancial dos organismos, encontra-se o perspectivismo, propriedade somática. Dessa forma, quando aqui se refere a corpo, considera-se o feixe de afecções e capacidades que é a origem das perspectivas, constituindo-se nesse plano intermediário.
A metamorfose fundamental, de que resulta esse movimento, é no próprio corpo da antropologia. As metamorfoses iniciam-se com a supressão da dicotomia as “idéias nativas” e o “que realmente acontece” (as idéias do antropólogo). Passa-se pela conversão de uma natura naturans a natura naturata, ou seja, uma natureza passiva que circunscreve a sociedade é redefinida a partir de um sociomorfismo cosmológico.
Viveiros de Castro redefine, assim, o animismo como uma “teoria da mente” aplicada pelo nativo e não como condição a que estaria submetido; “...ele não é um estado mental dos sujeitos individuais, mas um dispositivo intelectual transindividual, que toma, aliás, os ‘estados mentais’ dos seres do mundo como um de seus objetos.” (2002).
Por fim, ou melhor, num mesmo movimento, é o corpo o agente e o locus das transformações substanciais, numa dialética onde os elementos naturais são domesticados pelo grupo e os elementos do grupo (as coisas sociais) são naturalizados no mundo dos animais. Esses processos de metamorfose ou devir que constituem elemento central do pensamento e da socialidade desses grupos fornecem um princípio de causalidade dinâmico para a antropologia. O corpo não é mais um elemento estático, ele libera o que há de relacional, o puro movimento do conhecimento.
“A metamorfose reintroduz o excesso e a imprevisibilidade na ordem humana; transforma os homens em animais ou espíritos. Ela é concebida como uma modificação de essência, que se manifesta desde o nível da gestualidade até, no limite, o nível da mudança de forma corporal.” (Viveiros de Castro, 1987:32)"



esse fragmento, tirado de minha pesquisa de mestrado, permite a proliferação de alguns rizomas que se pretendem menos explicativos e mais lúdicos;
a primeira linha que se poderia traçar, atravessando a imagem do pensamento-corpo indígena, consiste na linha da ritualidade menos percursora de um teatro do que possibilidade de desconstrução de pressupostos do teatro, bem como da própria educação ocidental, concentrada no olhar e na imagem da mente como olhar;
esse debate se dará na dissertação por meio da obra seminal do pensamento trágico: o nascimento da tragédia ( melhor traduzido como 'a concepção do trágico'), de nietzsche;
dessa obra programática do pensamento do autor me apropriei para elaborar uma estética da ritualidade trágica para os rituais guaranis por mim estudados desde os anos 90;
penso que o viés indígena para uma desconstrução do teatro, mas principalmente da subjetividade, isto é, da imagem do humano, seja a atualização do devir-canibal formulado por nossos xamãs;

11 agosto 2009

você vai ver... permita vocês que eu me apresente
meu nome é antonio francisco de paula