30 junho 2009


corpo

o que é um corpo

um corpo no espaço...

corpo, assim como texto, talvez cultura, entre outros conceitos, estão sendo levados ao extremo da falta de sentido num momento como este que vivemos, em que se pretende voltar ao pensamento do século XIX para que possamos acompanhar nossa contemporaneidade política, globalitalitarismo, como diria milton santos, o totalitarismo atualizado pelo capitalismo judeu hollywoodiano e a mídia internacional integrada;

vive-se a própria emergência do simulacro, vemos ruir qualquer fronteira discernível de representação, mas conseguimos manter intacta a imagem moralista do homem do século dezenove, temente a deus, pautado nas divisas do bem e do mal, por mais que se torne cada vez mais bizarro definir o valor dos valores, de vidas por dinheiro, de violência por alienação;

é melhor ser tudo normal do que pairar qualquer dúvida sobre as nossas referências;

seguimos cegos, alimentando nossos impulsos destrutivos, alimentando a indústria do consumismo, cada vez mais cegos e insensíveis, oprimidos pelo moralismo que nos afasta da pureza de nossos desejos e prazeres;

portanto, como sustentar a noção de corpo do senso comum, do pensamento do século dezenove, diante dos conflitos do hibridismo, das zonas de indiscernibilidade corpo/signo;

pois só mesmo a política do globalitarismo, da liberdade estadunidense de gerenciar o mundo, a liberdade opressiva, pode nos colocar diante desse dilema de vivermos o híbrido e seguirmos vendo a mundo pelas lentes dos divisores definidos pela utopia modernizadora dos iluministas de estado;

A torneira seca
(mas pior: a falta
de sede)

A luz apagada
(mas pior: o gosto
do escuro)

A porta fechada
(mas pior: a chave
por dentro).

o corpo-natureza ou o corpo-cultura: por isso justificamos os pós-modernos

um corpo... em que consiste um corpo... o que pode um corpo... um corpo sem órgãos...

artaud insurge contra o corpo organizado, a ordem e o juízo de deus...

corpo e mente, corpo e espírito etc onde termina e onde começa...

corpo e alma: o mais importante dos divisores civilizados...

Quando o português chegou

Debaixo duma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio teria despido

O português.

qualquer corpo é corpo, o corpo humano, o corpo orgânico...

onde termina o corpo e começa a máquina...

socorro eu não estou sentindo nada...

os limites de um corpo...

o mais profundo é a pele...

a superfície e o simulacro

corpo, em que consiste um corpo?

matéria, organismo, forma...

27 junho 2009


acho que nunca houve um mundo que espalhasse que a liberdade é a forma suprema de vida e ao mesmo tempo suprimisse a verdadeira liberdade, porque essa carência de liberdade que compromete inclusive o exercício da cidadania, eu creio que é um marca do nosso tempo que mais cedo ou mais tarde vai se mostrar insuportável, como os totalitarismos tiveram também seus dias contados;
milton santos


sejamos prometeicos ou fáusticos, tenhamos uma visão pessimista ou otimista das novas tecnológias de informação e socialidade, não como desconsiderar seu poder;
não se trata aqui de pessimismo ou otimismo, trata-se de estratégia; mesmo que estejamos buscando nos defender de um fanatismo da técnica, implantado pela indústria do consumo e das subjetividades gestadas nas campanhas publicitárias, os meios de comunicação, com o ciberespaço passaram a configurar territóriosestratégicos na luta pela politização e humanização, na luta contra a violência, a alienação, a opressão que acompanham todos os totalitarismos com este pelo qual estamos passando em nossa sociedade de controle globalizado;
ainda que seja para combaterum mundo tecnicista, a técnica se faz necessária;
no entanto, a técnica não passa de um meio, um meio bastante precário se considerarmos que a vida, especialmente a vida humana, é a tecnologia insuperável, ainda que subutilizada por nossos sistemas de controle, nossas pseudodemocracias;
ainda que sejamos pessimistas quanto ao mundo que criamos a partir das máquinas, que seja um pessimismo ativo que possibilite a criação de mundos possíveis a partir dos recursos fornecidos pelas mídia;
popularizar as mídia, fazer usos subversivos dos recursos tecnológicos, redefinir a imagem programada quea publicidade subjetiva está produzindo diariamente para nos formatar;
por isso a importância da arte como programa para essa tecnologia subjetiva, a importância do coletivo de arte como libertária máquina de produção de signos, de reconfiguração do mundo de opressão dos consensos homogeneizadores, característica de totalitarismos como este que ajudamos a criar e recriar;

abz

15 junho 2009

minha família
a dione silva

minha família é incontável
eu tenho irmãos em todas as partes do mundo
minha esposa vive em todos os continentes
minha mãe se encontra
no oriente e no ocidente
meus filhos são todas as crianças do universo
meu pai são todos os homens dignos de amor

por que chorar pelo amor de uma mulher?
por que estreitar o mundo de um lar?
por que prender-me a uma rua
a uma cidade, a uma pátria?
por que prender-me a mim mesmo?

oh! bandeiras,
enfeitai os meus caminhos!
oh! músicas,
ritmai os meus passos!
oh! pares, vinde para que eu baile
e possa conhecer todos os meus
parentes

solano trindade

olhando daqui, dessa possibilidade de presente, podemos considerar que o século vinte marcou a antropologia mais com o pensamento etnológico, que com o pensamento etnográfico;
afinal, depois de séculos de pesquisas descritivas dos colonizadores, foi no século passado que esses exploradores se voltam para uma reflexão detida sobre seus recursos, seus métodos;
depois do positivismo, último suspiro do objetivismo exacerbado que marca o século dezenove, as vanguardas artísticas colocam o pensamento europeu numa dobra que o leva a desconstrução de sua tradição representativista;
é um século marcado pelo pensamento epistêmico;
toda produção científica passa a se constituir não positivamente em relação ao seu suposto objeto de estudo, mas numa interação com esse objeto que possibilite uma desconstrução da imagem desse objeto, dos valores pressupostos nessa imagem, nos valores pressupostos nos métodos de pesquisa, e, enfim, não apenas no que seja fazer ciência, mas na seguinte questão: o que se faz quando se faz ciência;
essa será a questão que a antropologia passa a fazer com pensadores, antropólogos, etnólogos como marcel mauss, claude lévi-strauss, pierre clastres, michel foucault, gilles deleuze e felix guattari, para nos restringirmos ao pensamento francês da época que orienta a reflexão epistêmica na disciplina;

o pensamento antropológico rompe com o historicismo (que seguirá se replicando em certo marxismo) e deixa de se imaginar, como o fizera até então, no interior de uma história linear, progressiva e homogênea;
ao romper com esse quadro, com essa imagem do homem, é que para muitos pensadores, inicia-se a antropologia como nós a entendemos na contemporaneidade;

tomando esse processo a partir da etnografia, podemos relacionar alguns elementos interessantes;
pensando a etnografia como prática descritiva que marca o pensamento antropológico até o início do século vinte, sua decadência se conjuga com um novo período de reflexão de produção etnológica da disciplina;
o estruturalismo, esse termo que se diluiu e que pode ser tomado como sinônimo do pensamento de lévi-strauss, contribui muito para essa espécie de virtualização do objetos do pensamento;
a abordagem do pensamento nativo em bases muito mais complexas, que resultam mais numa desconstrução do próprio pensamento ocidental, através de uma prática de molecularização do pensamento nativo, ou seja, de toma-lo mais como intensidade virtual do que como uma extensividade objetivada;


acho que nunca houve um mundo que espalhasse que a liberdade é a forma suprema de vida e ao mesmo tempo suprimisse a verdadeira liberdade, porque essa carência de liberdade que compromete inclusive o exercício da cidadania, eu creio que é um marca do nosso tempo que mais cedo ou mais tarde vai se mostrar insuportável, como os totalitarismos tiveram também seus dias contados;
milton santos


etnografando
não é tão difícil de se entender o que é e como se produz uma etnografia;
ainda mais em tempos de caminho das índias, em que a própria rede globo, que aprendeu com hollywood essa nova estética da globalização, segue reproduzindo a homogeneização em horário nobre de forma massiva para a massa;
nesses tempos, o que interessa propriamente já não é o que seja ou como se produza uma descrição densa de costumes, sejam eles nossos ou de outros ou mesmo dos nossos outros;
a pergunta poderia ser em lugar disso, o que se faz enquanto se etnografa e então passaríamos de fato a tratar de alguma coisa, a levantar pressupostos, a desconstruir discursos, em lugar de remedar manuais de instrução;

é certo que sob a capa da diferença, a globalização reduz toda coisa, gesto, subjetividade em mercadoria a ser discursada em alguma comercialização;
o comércio das diferenças foi o grande mercado das subjetividades ao longo do século vinte;
ao mesmo tempo que se continuava a impor a imagem do homem branco ocidental, era necessário diversificar o mercado das subjetividades para atingir novos consumidores;
mulheres, negros, indígenas, crianças, todo tipo de subjetividade passou a ser incluída como negociável, vendável;
essa foi uma das principais contribuições da antropologia a era contemporânea das virtualidades globalizadas;
mentira que vale para a livre circulação de importados, desde que esses importados não sejam pessoas invadindo as terras e os livres mercados de exploração do trabalho dos países 'desenvolvidos', leia-se, colonizadores;

fazer etnografia hoje é lidar imediatamente com esse comércio global da diferença e esse mercado das subjetividades;

é aqui, nesse contexto, que se situa também o ponto de virada da prática etnográfica contemporânea, quando os meios de produção de diferença passam às mãos dos intelectuais proletários e eles próprios podem passar a se etnografar, como se se tratasse de fato de 'falar em seu próprio nome';
pois não se trata, o mercado de subjetividades é a maior indústria desse início de século vinte e um;
uma prática publicitária que se disfarça de política, comunicação, ciência, cultura etc;

quando a etnografia passa a ser praticada pelos próprios nativos, muitos vêem nisso uma emancipação, tal como a onu, promovendo 'democracias' pelo mundo;
os nativos só podem descobrir o mercado das diferenças e passar explora-lo, vivenciando o processo vivido pelos povos indígenas e seringueiros, tido como um processo redentor, com direito a mártir, minissérie da rede globo e tudo mais;

somente depois de se diluírem na homogeneidade nacional, façanha produzida pela república brasileira com todos os seus generais e ditadores da ordem e progresso, é que os nativos podem passar a comercializar a diferença;

além disso, dessa diferença do brasil caboclo em relação ao brasil europeu, há um grande consumidor de subjetividades regionais ávido por fortalecer o mercado da acrianidade, trata-se do próprio estado, que se vê impelido, diante dos demais estados, à produção de símbolos regionais que possam vir decalcados nas camisetas ou bonés consumidos pelos turistas;

é assim que o estado tem promovido 'uma cultura' do institucional com a qual as pessoas se identificam;
essa jogada política que tem caracterizado a maneira como o governo popular se adaptou aos tempos de neoliberalismo;
o que, aliás, não escapa de nossa crítica subjetiva, visto que um governo popular que supostamente se vê obrigado a governar para o mercado, é o próprio retrato de uma população conformada a uma exploração 'histórica', acima do tempo, que ofusca qualquer projeto de transformação;


Roteiro
Nossa proposta de roteiro se definiu em torno dos seguintes temas:
• Instituição pesquisada: Ceflora – Centro de Formação e tecnologias da Floresta
• Projeto pesquisado: Protejo – Proteção de Jovens em Territórios Vulneráveis
• Público-alvo: especificidade do público-alvo
• Atividade desenvolvida: filme a partir da montagem de uma peça teatral com o tema Mídia e Estado
• Aprendizagem de teatro em Cruzeiro do Sul


Questões para entrevista
As entrevistas serão respondidas pela equipe e pela coordenadora pedagógica do Ceflora, Centro de Formação e Tecnologias da Floresta, a Sra. Arteme Vasconcelos.

Questões a serem respondidas pela coordenadora pedagógica.

● Projeto Protejo:
1. Em que consiste o Protejo?
2. Qual o seu objetivo?
3. Qual a metodologia proposta?
4. Qual a sua expectativa de longo prazo?


● O Público-alvo:
1. Qual o perfil do público-alvo do Protejo?
2. Relate sua experiência com esse público-alvo?
3. Como o teatro e as artes podem ser apropriados e contribuir com esse público-alvo?


● A prática de ensino em/pelo teatro:
1. Quais as vantagens que você vislumbra na utilização desses recursos pedagógicos num projeto como o Protejo?
2. Como você vê a prática do ensino de artes cênicas na região?
3. Como anda o processo de formação e de prática teatral em nossa cidade?
4. O que chamou a sua atenção em relação ao processo de envolvimento dos estudantes no processo?
5. Como você entende o aproveitamento dos estudantes nessa prática?
6. Quais as possibilidades que você vislumbra para dar continuidade a um trabalho como esse? Haveria interesse por parte dos cursistas?
7. Que resultados podem ser obtidos com a continuidade desse processo entre esse público-alvo?



● Perspectivas do teatro na formação profissional em nível técnico:
1. Quais os cursos oferecidos em formação técnica hoje pelo Ceflora?
2. Há perspectiva de formação na área de artes?
3. Quais as perspectivas do profissional em teatro-educação em nossa região?



Proposta e metodologia
Nossa proposta foi se apropriar de uma experiência de educação, no caso, uma oficina de sete dias do projeto Protejo, com o tema Mídia e Estado, visando montar um laboratório de pesquisa em prática teatral que deveria resultar, como resultou, em um vídeo.
Depois de debatermos o tema, a turma foi dividida para a realização das pesquisas de campo nos meios de comunicação (rádios, jornais, televisões).
Os cursistas foram orientados com relação à dramatização e a enfocar um tema de sua escolha (saúde, sensacionalismo, violência, corrupção), desde que relacionado com o macro-tema mídia e Estado.
O retorno das pesquisas se deu com um debate. Em seguida, demos início à criação e montagem das histórias.
Cada grupo elaborou uma cena e o roteiro resultou da fusão das histórias num único enredo.


Embasamento teórico
Como ponto de partida para embasar nossa pesquisa queremos tomar o tema da interdisciplinaridade problematizado nesse módulo na disciplina de Teorias da Educação.
Pois foi articulando a psicologia do desenvolvimento com as demais disciplinas que embasamos nossa proposta.
A proposta de nos inserirmos como agentes de nossa própria obervação foi inspirada da complexidade teorizada por Edgar Morin, a qual critica a visão simplificadora do objetivismo que caracteriza nosso conhecimento ocidental.
A partir dessa crítica à matriz epistemológica ocidental o autor propõe a retomada do problema do sujeito do conhecimento, soterrado pela tradição positivista com seu ideal caduco de cientificidade.
A imagem do conhecimento proposta pelo paradigma da complexidade é mais a do cientista em seu laboratório ou do antropólogo que simplesmente observa e descreve o nativo.
A imagem do conhecimento aqui proposta seria mais a de uma observação participante ou mesmo do conhecimento sendo produzido enquanto se dá a experiência prática numa imediata reflexividade prática-teoria.
Isso por que o teatro em sua especificidade proporciona essa reflexão a partir da prática.
Dessa maneira, estamos relatando mais a nossa experiência de envolvimento com o público-alvo visado no projeto, de um lado, e a perspectiva da coordenação pedagógica que o orienta, de outro.


Psicologia do desenvolvimento
O que nos interessou sobremaneira na experiência de interação proporcionada pela pesquisa foi a receptividade e o envolvimento do público-alvo na proposta.
Foi patente a euforia que marcou a aceitação da proposta e sua apropriação no universo de sentido de cada cursista.
A liberdade na escolha dos temas e na composição dos personagens, com uma orientação discreta da equipe, proporcionou ao cursistas expressarem diversas questões e problemas de seu cotidiano, do cotidiano de uma sociedade que eles acompanham à distância e do cotidiano dos 'mass media' tais como: corrupção, prostituição, violência policial, apadrinhamento, conflito de interesses, manipulação entre outros.
Em cada pequena participação no processo, percebe-se um envolvimento inédito numa prática artística que marca definitivamente a formação e a vida de cada um desses cursistas.
A incorporação de um personagens, a reprodução de suas falas, a expressão de seus gestos não envolve apenas o uso dos conceitos (conceptus), também emerge seus corpos em afetos (afectus) e percepções (perceptus) que os leva a se deparar com seu futuro ao se espelharem nos agentes que fazem a sociedade em que vivem.
O teatro, visto como prática de reflexão social proporciona ainda que esses jovens reflitam seu cotidiano, sua perspectiva numa sociedade excludente, uma democracia capitalista, em que a corrupção é prática corrente e as pessoas se medem pelo poder do dinheiro.
Expressar sua perspectiva por meio da arte consiste numa possibilidade de se elaborar e se reformular/recriar diante de seus próprios conflitos, que são os conflitos mesmos dessa sociedade que (n)os origina.


Entrevistas e Roteiro

Seguindo o roteiro, vamos tratar os pontos desenvolvidos na pesquisa a partir das entrevistas.
Nos propusemos a fazer uma leitura crítica dos pontos debatidos em nossa conversa com a coordenadora e o mediador do Ceflora.

Ceflora
O primeiro ponto se refere à instituição em que realizamos nossa pesquisa, o Ceflora.
O Ceflora consiste numa escola estadual de nível médio que trabalha oferecendo curso técnicos para a população da região do Juruá. O Ceflora está subordinado ao Instituto Dom Moacyr.
Seguindo a política de outras instituições do gênero no país, essa instituição tem se voltado à exploração do mercado regional, trabalhando com cursos de formação voltados à valorização de produtos regionais.
A instituição surgiu como contraparte do estado acriano no projeto da Universidade da Floresta, que visa regionalizar os conhecimentos produzidos na Universidade Federal do Acre.

Protejo
O segundo ponto a ser desenvolvido consiste no projeto em que está inserida nossa pesquisa, o Protejo.
Trata-se de um projeto do Ministério da Justiça, o Pronasci – Programa de Segurança Pública com Cidadania, que criou o Protejo – Proteção de jovens em território vulnerável.
Aqui na região do Juruá, o Protejo está sob a responsabilidade do Ceflora. Trata-se de duzentos jovens de bairros considerados território vulnerável, divididos em turmas em dois pontos da cidade de Cruzeiro do Sul.
O Protejo é constituído de inicialmente de dez oficinas com temas como direitos humanos, gênero e raça, cidadania. O tema da oficina da semana que trabalhamos era Mídia e Estado. Cada oficina tem duração de sete dias.
Tivemos sete dias para desenvolver as atividades propostas. A turma era composta de trinta cursistas, com idade entre 16 e 22 anos.

Público-alvo
Quanto a esse ponto temos uma crítica.
Nosso público-alvo é definido como jovens em território vulnerável. Como é típico da mentalidade positivista de nossos juristas, nosso público já vem taxado, discriminado socialmente pelo mercado do assistencialismo, que é a especialidade do governo que nos representa atualmente.
Somos jovens em território vulnerável.
Não vimos nada nesses jovens que justificasse serem taxados socialmente de jovens em território vulnerável. Consideramos lamentável que ainda haja esse tipo de política discriminatória sob a fachada de uma 'política de inclusão'.

Metodologia
Avaliando a proposta a partir da dedicação, envolvimento, participação, satisfação com os resultados, podemos afirmar que a metodologia proposta obteve êxito.
Ao se identificarem na proposta, mesmo sem saber muito o que esperar dessa experiência inédita, os jovens cursistas se desarmaram e se puseram a recriar artisticamente sua visão da sociedade excludente e discriminatória em que estão inseridos.
Iniciou-se o processo com uma pesquisa nos meios de comunicação que visava lidar com temos espinhosos como corrupção, censura, contratos do Estado com as emissoras etc, ando conta assim do tema mídia e Estado.
Foi quando se apresentou a proposta das dramatizações.
No retorno, foi apresentada a proposta do filme, os grupo foram divididos em quatro equipes, cada uma orientada por um pesquisador, e passamos a montar as encenações.
A partir do resultado das encenações foi elaborado o roteiro do filme.

Teatro

Não se pode pensar o corpo do homem sem ele ser desenvolvido na história, ou sem ter um sentido social; nem tampouco sua mente social, cultural e historicamente forjada, sem sua base biológica, pois esses dois aspectos se relacionam por um processo de mútua determinação.

(pulino, lúcia. a teoria sócio-histórica de vigotski,
http://uab.unb.br/mod/resource/view.php?id=29069)


Ainda com Spinoza, é de espantar nossa ignorância sobre o que pode um corpo, isto é, o que possa vir a ser um corpo.
Seguimos reproduzindo, por nossa tradicional prática de reprodução, uma educação da razão, um ensino técnico que vise mais e mais o mercado de trabalho.
Estamos longe ainda de empreender uma educação que considere o corpo artístico, com toda sua complexidade psicológica.
Sem menosprezar, em nossa cultura escolar, o corpo esportivo, mas este já faz parte do antigo esquema, do velho opositor mente/corpo.
Investir no corpo artístico, no corpo como mediador dos conflitos psicológicos, sociais, políticos, vivenciados pelos jovens em formação de nossa sociedade, traz resultados concretos, podemos atestar.
No entanto, para investir na aprendizagem do corpo artístico, o educador necessita de uma formação interdisciplinar e, principalmente, escapar aos julgamentos, aceitando a contribuição que cada um possa trazer.
Pensamos ainda que o sucesso dessa metodologia com tal público-alvo talvez se deva à inépcia atribuída à educação conceptual a que estão submetidos na formação escolar.
Tal formação conceptual se caracteriza por reproduzir métodos e padrões científicos sem abrir espaço à desconstrução e re-criação da realidade cotidiana. Mesmo o ensino de artes cai muitas vezes no 'isso é arte'.
Lidar com a criação exige o desprendimento do artista, um devir-artista que acreditamos necessário para o bom desempenho de um educador em artes.

Mercado das Artes
Lamentavelmente, as artes estão longe de serem reconhecidas como um campo reconhecido pela sociedade local.
Onde podemos tomar um fôlego é no horizonte vislumbrado pelo jovens que temos visto afirmar quererem estudar teatro ou audiovisual.
A formação técnica ainda tem como imagem do emprego o trabalho no comércio (produção de doces e salgados, confeitaria, associativismo) ou em serviços (imagem pessoal, marcenaria, secretariado, web designer).
É urgente que comecemos a pensar e projetar o futuro da aprendizagem em artes em nossa região.
Se no campo das artes visuais isso não é problema, vide os cursos de web designer oferecidos pelo Ceflora, as possibilidades de trabalho na área do teatro, das artes cênicas, das metodologias de trabalho com o corpo artístico, ainda escapam do horizonte de gestores e coordenadores de educação.
Trabalhamos atualmente na modificação desse horizonte, na abertura a novas perspectivas.
Vemos-nos como multiplicadores no campo da arte-educação e essa experiência, tão importante quanto outras tantas que já trazemos para essa licenciatura em teatro, confirma para nós que o teatro-educador não pode se restringir ao espaço oficial do ensino escolar, pois necessita de outros espaços, de outras relações sociais, de outros discursos, de outros olhares e perspectivas, construídos a partir de iniciativas independentes, por esses atores, visando justamente praticar a liberdade e modificar o perfil assistencialista e manipulador das instituições de controle social do estado e do mercado.

08 junho 2009




não se pode pensar o corpo do homem sem ele ser desenvolvido na história, ou sem ter um sentido social; nem tampouco sua mente social, cultural e historicamente forjada, sem sua base biológica, pois esses dois aspectos se relacionam por um processo de mútua determinação;
(pulino, lúcia. a teoria sócio-histórica de vigotski, http://uab.unb.br/mod/resource/view.php?id=29069)

o ser humano criou e cria instrumentos materiais (ferramentas, máquinas) que fazem a mediação entre ele e o mundo e têm facilitado sua sobrevivência face aos perigos naturais primitivos e aos obstáculos de toda ordem que se lhe têm apresentado ao longo de sua existência;
além desses instrumentos materiais, o ser humano criou instrumentos psicológicos, os signos, que auxiliam no controle da atividade psicológica; (op. cit.)

em um momento posterior, o homem descobriu a forma de dominar e registrar as quantidades por meio do princípio de correspondência um a um; (op. cit.)



a ecosofia mental, por sua vez, será levada a reinventar a relação do sujeito com o corpo , com o fantasma, com o tempo que passa , com os “mistérios” da vida e da morte;
ela será levada a procurar antídotos para a uniformização midiática e telemática, o conformismo das modas, as manipulações da opinião pela publicidade, pelas sondagens etc;
sua maneira de operar aproximar-se-á mais daquela do artista do que a dos profissionais “psi”, sempre assombrados por ideal caduco de cientificidade;
guattari, as três ecologias, 1990: 16

embora foucault remonte aos gregos, o que lhe interessa em o uso dos prazeres, bem como em seus outros livros, é o que se passa, o que somos e fazemos hoje: próxima ou longínqua, uma formação histórica só é analisada pela sua diferença conosco, e para delimitar essa diferença; nós nos damos um corpo, mas qual é a diferença com o corpo grego, a carne cristã? a subjetivação é a produção dos modos de existência ou estilos de vida;
deleuze, conversações, 1992:142




penso que tanto instrumentos quanto signos podem ser vistos de uma perspectiva tanto técnica quanto lúdica ou estética;
é possível, via filosofia (e mesmo algumas correntes da psicologia), invocar uma imagem do humano marcada pela brincadeira e pela busca estética, deslocando a suposta necessidade que guia o funcionalismo positivista em suas necessidades obsessivas de a tudo explicar, de entender o pensamento em função da explicação e tomar isso como pressuposto e palavra de ordem;
a arte nos conduz por outros caminhos que não o da explicação e sim o da experimentação;
não necessitamos pressupor um ideal caduco de cientificidade herdado de outros tempos e outras realidades por um compromisso canônico ou dogmático com certa imagem da história e do conhecimento;
não há dúvida que o humano e seu 'corpo' com seus afectus e perceptus não se reduz a conceptus, ao cogito, e que esse 'corpo' se desdobra em suas dimensões sociais, políticas;
mas esse 'corpo' não quer ser 'explicado', menos ainda 'cientificamente', isto é, ser ordenado e organizado, mandado de volta ao conceptus;
se queremos tratar mesmo de um corpo liberto das amarras tradicionais do cogito, podemos considerar o corpo da linguagem que é o plano de imanência em que criamos e recriamos a experiência de 'corpo' nossa e dos estudantes com quem interagimos;

é com essa articulação de conceptus, afectus e perceptus que se propõe uma perspectiva estética da interação entre ontogênese/filogênese e subjetividade, isto é, dos processos de subjetivação;
portanto, não se inicia aqui com a distinção entre as instâncias maquínicas e sígnicas, e sim, o ponto de partida consiste justamente da indiscernibilidade dessas dimensões;
essa é, aliás, a própria possibilidade de algum construtivismo, ou seja, a desconstrução de uma pressuposta distinção representação/realidade que fundamentaria o humano e sua condição;

desfazendo a distinção signo/referente, representação/realidade, passamos a trabalhar com o plano de imanência (isto é, não 'referir' mas 'construir') que constitui o 'entre' esses extremos ideais, passamos a operar a produção de subjetividades;
esses processos de subjetivação não são qualquer novidade, menos ainda depois de um século de publicidade (ou do século da publicidade);
o problema é que enquanto os meios de comunicação de massa se dedicaram, com o nosso aval e reconhecimento e com as bençãos do mercado, a aperfeiçoar os processos de subjetivação, a ciência se ateve aos seus ideais caducos de cientificidade e a arte foi dominada pelo fetiche da mercadoria, se tornando design, um apêndice da publicidade;

potencializar o pensamento e a arte como processos de subjetivação, como práticas que visem como produto não apenas objetos comercializáveis, mas que vise também como produto os processos de subjetivação;
penso que o teatro será, entre as artes do pensamento, aquela que tem grandes chances de proporcionar experiências de subjetivação envolvendo conceptus, afectus e perceptus em suas dimensões políticas, culturais e sociais;


ao suprimir a distinção representação/real, signo/referente, como pressuposto do pensamento, problematizamos a distinção pressuposta entre ciência e arte;
problematizada por epistemólogos do calibre de bachelard, foucault, deleuze/guattari entre outros, essa consiste numa questão fundamental para a prática da arte e sua aprendizagem, bem como para os enunciados produzidos a partir de tais práticas;
para não nos determos nos interessantes desdobramentos da questão da distinção ciência/arte, pressuposta em nossa tradicional imagem do pensamento, propomos seguir com a expressão artes do pensamento minoritário para se referir às práticas de arte e seus processos de aprendizagem;


as artes do pensamento minoritário, proporcionam pensar com o corpo, em lugar de atar-se aos ideais caducos de cientificidade que ainda nos iludem a abandonar a singularidade e a multiplicidade inerentes à criação, para nos evadirmos em busca dos padrões homogêneos que nos permitam comprovar, com fim em si mesma, a verdade dos universais;
em vez de buscar entender as artes e seus processos de subjetivação com os ideais caducos de uma ciência que, em sua matriz epistêmica, já se pressupõe distinta dos processos dessa mesma arte, ou então visa determina-los a partir de sua imagem da verdade, faremos desconstruir tal imagem, convergindo automaticamente numa subjetivação por conceptus, afectus e perceptus que denominamos artes do pensamento minoritário;

as pressuposições e evidências com que se assumem certas concepções podem nos servir como matéria para a desconstrução dessas verdades;
a funcionalização da linguagem em relação ao tempo e seu descolamento é problemática na medida que remete imediatamente a linguagem à representação, suprimindo toda a dimensão imanente da pragmática;

“A linguagem descola o ser humano do aqui-e-agora e permite que ele lide com elementos não presentes no momento da ação.” (op. cit.)

considerar a linguagem a partir dos elementos que estão ausentes, o referente, é alienar-se imediatamente do que lhe é imanente e cada vez mais fundamental, de acordo com os enunciados da pragmática, em seu entendimento;
isso porque a pragmática consiste na abordagem da linguagem que proporcionará uma problematização de sua dimensão imanente em detrimento da dimensão transcendental que fundamenta a concepção representativista da linguagem, privilegiada na imagem do pensamento positivista;
portanto, será essa abordagem proposta pela pragmática, privilegiando a imanência, que fornecerá melhores imagens da linguagem para se operar com os enunciados, as artes do pensamento minoritário;
apreender como funciona a linguagem, como operam os enunciados, já consiste em praticar as artes do pensamento minoritário, em proporcionar agenciamentos que se desdobrem imediatamente em processos de subjetivação;


privilegia-se assim as continuidades práticas de signos e máquinas, mais que a sua distinção objetivante e explicativa;
ao elaborarmos um filme como o que será de nós..., estamos criando subjetivação numa interação de máquinas e signos em que gostaremos de ver mais continuidades entre corpos e máquinas que as distinções que determinam onde começam uns e terminam outros;
o maquínico, tomado como condição dos processos de subjetivação, já não pode mais ser distinto com tanta simplicidade de um suposto sujeito, até porque, ao se operar com processos de subjetivação, desfaz-se a clássica imagem do sujeito transcendental, razão de ser de tantas páginas da psicologia;
daí o maquínico se constituir como possibilidade para a produção de enunciados maquínicos em lugar de enunciados que 'expliquem de fora' o maquínico (e sua apropriação em processos de subjetivação);


insiste-se, no entanto, em determinar a linguagem como instrumento de representação, abortando seu potencial criativo, de intervenção e recriação da imagem que faz do mundo;
nessa apreensão representativista da linguagem vigora sua concepção conceitual, sua dimensão de conceptus, própria da concepção do sujeito segundo a tradição racionalista;

nessa concepção, o 'desenvolvimento', seja ele real ou potencial, se dá como reprodução de um mundo já significado, desconsiderando o 'desenvolvimento potencial' como campo propício da prática construtivista;
mais que o acerto e o interesse criados nos estudantes e atribuíveis à zona de desenvolvimento proximal, em nossas práticas de sala de aula nos é mais importante lidar e entender como se constrói coletivamente, pela campo social construído pelos alunos, o desinteresse, a rejeição por uma linguagem científica que está em desacordo gritante com sua realidade discursiva cotidiana;
o conflito de valores entre educador e estudante reflete muitas vezes os conflitos de nossa sociedade desigual e violenta, na qual queremos impor o discurso de uma classe dominante sobre os demais;
é assim que tentamos vender o nosso peixe, a educação do estado, apelando para a ambição e o futuro individual de cada estudante, a responsabilidade com a família, a culpa e outros derivados de nosso discurso moralista;
tentamos domá-los, assim, pois o descompasso entre as promessas da educação, do estado e do mercado, entram em choque com o colapso social vivenciado no cotidiano desses jovens;

para finalizar, penso que as artes do pensamento minoritário, isto é, as artes enquanto processo de subjetivação, podem fornecer, a alguns desses estudantes, instrumentos práticos de intervenção no seu cotidiano e na sua sociedade;

04 junho 2009



olá
gostei muito de sua proposta de lançar um olhar sócio-histórico sobre o próprio vygotsky e sua teoria sócio-histórica;
minhas reflexões vão no mesmo sentido de que assim como não podemos isolar o indivíduo para compreende-lo como fenômeno psicológico em transformação, também não podemos isolar o pensamento de um intelectual da realidade que constitui esse pensamento;
considero que seja fundamental contextualizar o pensamento do autor para compreender o que difere, de sua época para a nossa, nos conceitos e disciplinas que utilizou;
certamente, o que se entendia, para dar um exemplo, como 'história' nesse contexto, ou no brasil da época ou de há cinquenta anos, não é o mesmo que entendemos como história hoje aqui ou mesmo na rússia;
nesse debate lembraria as palavras de graça veloso em relação aos estudos de teatro:

No que diz respeito aos registros historiográficos, propõe-se uma maior abrangência sobre esses fazeres, retirando o caráter de hierarquização que coloca os rituais gregos como origem do teatro e lançando outras possibilidades de se perceber esse campo.
Assim, o etnocentrismo com que esta prática é geralmente trabalhada pode ceder espaço a outros ambientes tão importantes quanto aquele em que se deram as manifestações de adoração ao deus Dioniso.
Ou a visão linear/historicista que domina a maioria dos currículos de ensino de teatro no Brasil e coloca um movimento sempre como conseqüência de um anterior e causa de outro, posterior.
Esta percepção pode ser substituída por uma compreensão trajetiva em que o Renascimento, por exemplo, foi o que foi pela visão que os próprios renascentistas podem ter tido da Idade Média.
Pode-se ter a construção de outro medievo que não propriamente o vivido por seus fazedores, mas aquele que passa pela percepção do Renascimento. Afinal, está provado em várias correntes acadêmicas que a história nada mais é que uma grande rede de versões, muitas delas antagônicas entre si (Nova História, Antropologia do Imaginário).
Veloso, G. Fundamentos da licenciatura em teatro, p.2

concordo com veloso que a 'História' nos teria legado uma visão etnocêntrica, que desperdiça outras concepções culturais do tempo e das experiências temporais, tal como a da aprendizagem ou a da experiência do ser humano no tempo, o que chamamos seu 'desenvolvimento';
é isso
abs