24 agosto 2007

prosa com paulo

e assim, o que se busca não são os padrões universais que a ciência encontrou primeiro na natureza e depois nos outros pensamentos (pensamento selvagem), o que se busca é o que é diferencial nesse pensamento ocidental, o que é cultural, o que possibilita com que ele seja relativizado, visando o deslocamento de sua secular absolutização;

isso pode ser feito, por exemplo, definindo características do pensamento grego, aspectos do judaísmo que influenciaram em sua apropriação e utilização desse pensamento, deslocando seu aspecto absoluto pela crítica de seus pressupostos epistêmicos;

e quando um modelo se torna absoluto, é sempre uma heresia questionar e desmontar seus pressupostos, principalmente devido à configuração moral que o imprime, assim como pelo consenso moral com que seus usuários guardiões se identificam com ele;

para tal desconstrução de pressupostos opero com a metodologia construtivista da autoria coletiva do pensamento antropológico, em que a entidade do autor não se confunde com a minha personalidade, em que a subjetividade autor é uma experiência construída coletivamente;

o que assumo é a condução do trabalho, mas de forma alguma me identifico com o eu autor da narrativa, que consiste em devires e não em uma entidade transcendental que se utiliza de um método para impor sua autoridade de afirmar verdades;

pode, então, definir: essa é a metodologia participativa;

sim, mas quando se fala em participatividade, nem todos os gatos são pardos, há participatividades e participatividades, segundo os princípios epistêmicos que são apropriados;

há um modelo de participação em que esta se restringe ao envolvimento do antropólogo na sociedade em que estuda, que se torna teórica ao ser meramente descrita sem questionamento de pressupostos epistêmicos da antropologia, debate que marca a genealogia desta disciplina;

minha participatividade se diferencia a partir do momento em que o que e torna participativo são as próprias instâncias textuais, ao propor exercícios criativos com que os interlocutores interfiram no texto para construir textos híbridos, coletivos, orientados por referências outras;

esse procedimento implica uma investigação ao mesmo tempo psicológica e literária ou narrativa em que o texto se dobra sobre si mesmo numa metanarrativa que o acompanha todo o tempo;

desde o início até o fim, o texto não abandona a abordagem epistêmica e metodológica, não deixa de ser uma experiência e investigação, para se esconder como dimensão oculta de pressupostos universais;

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