15 junho 2009



Roteiro
Nossa proposta de roteiro se definiu em torno dos seguintes temas:
• Instituição pesquisada: Ceflora – Centro de Formação e tecnologias da Floresta
• Projeto pesquisado: Protejo – Proteção de Jovens em Territórios Vulneráveis
• Público-alvo: especificidade do público-alvo
• Atividade desenvolvida: filme a partir da montagem de uma peça teatral com o tema Mídia e Estado
• Aprendizagem de teatro em Cruzeiro do Sul


Questões para entrevista
As entrevistas serão respondidas pela equipe e pela coordenadora pedagógica do Ceflora, Centro de Formação e Tecnologias da Floresta, a Sra. Arteme Vasconcelos.

Questões a serem respondidas pela coordenadora pedagógica.

● Projeto Protejo:
1. Em que consiste o Protejo?
2. Qual o seu objetivo?
3. Qual a metodologia proposta?
4. Qual a sua expectativa de longo prazo?


● O Público-alvo:
1. Qual o perfil do público-alvo do Protejo?
2. Relate sua experiência com esse público-alvo?
3. Como o teatro e as artes podem ser apropriados e contribuir com esse público-alvo?


● A prática de ensino em/pelo teatro:
1. Quais as vantagens que você vislumbra na utilização desses recursos pedagógicos num projeto como o Protejo?
2. Como você vê a prática do ensino de artes cênicas na região?
3. Como anda o processo de formação e de prática teatral em nossa cidade?
4. O que chamou a sua atenção em relação ao processo de envolvimento dos estudantes no processo?
5. Como você entende o aproveitamento dos estudantes nessa prática?
6. Quais as possibilidades que você vislumbra para dar continuidade a um trabalho como esse? Haveria interesse por parte dos cursistas?
7. Que resultados podem ser obtidos com a continuidade desse processo entre esse público-alvo?



● Perspectivas do teatro na formação profissional em nível técnico:
1. Quais os cursos oferecidos em formação técnica hoje pelo Ceflora?
2. Há perspectiva de formação na área de artes?
3. Quais as perspectivas do profissional em teatro-educação em nossa região?



Proposta e metodologia
Nossa proposta foi se apropriar de uma experiência de educação, no caso, uma oficina de sete dias do projeto Protejo, com o tema Mídia e Estado, visando montar um laboratório de pesquisa em prática teatral que deveria resultar, como resultou, em um vídeo.
Depois de debatermos o tema, a turma foi dividida para a realização das pesquisas de campo nos meios de comunicação (rádios, jornais, televisões).
Os cursistas foram orientados com relação à dramatização e a enfocar um tema de sua escolha (saúde, sensacionalismo, violência, corrupção), desde que relacionado com o macro-tema mídia e Estado.
O retorno das pesquisas se deu com um debate. Em seguida, demos início à criação e montagem das histórias.
Cada grupo elaborou uma cena e o roteiro resultou da fusão das histórias num único enredo.


Embasamento teórico
Como ponto de partida para embasar nossa pesquisa queremos tomar o tema da interdisciplinaridade problematizado nesse módulo na disciplina de Teorias da Educação.
Pois foi articulando a psicologia do desenvolvimento com as demais disciplinas que embasamos nossa proposta.
A proposta de nos inserirmos como agentes de nossa própria obervação foi inspirada da complexidade teorizada por Edgar Morin, a qual critica a visão simplificadora do objetivismo que caracteriza nosso conhecimento ocidental.
A partir dessa crítica à matriz epistemológica ocidental o autor propõe a retomada do problema do sujeito do conhecimento, soterrado pela tradição positivista com seu ideal caduco de cientificidade.
A imagem do conhecimento proposta pelo paradigma da complexidade é mais a do cientista em seu laboratório ou do antropólogo que simplesmente observa e descreve o nativo.
A imagem do conhecimento aqui proposta seria mais a de uma observação participante ou mesmo do conhecimento sendo produzido enquanto se dá a experiência prática numa imediata reflexividade prática-teoria.
Isso por que o teatro em sua especificidade proporciona essa reflexão a partir da prática.
Dessa maneira, estamos relatando mais a nossa experiência de envolvimento com o público-alvo visado no projeto, de um lado, e a perspectiva da coordenação pedagógica que o orienta, de outro.


Psicologia do desenvolvimento
O que nos interessou sobremaneira na experiência de interação proporcionada pela pesquisa foi a receptividade e o envolvimento do público-alvo na proposta.
Foi patente a euforia que marcou a aceitação da proposta e sua apropriação no universo de sentido de cada cursista.
A liberdade na escolha dos temas e na composição dos personagens, com uma orientação discreta da equipe, proporcionou ao cursistas expressarem diversas questões e problemas de seu cotidiano, do cotidiano de uma sociedade que eles acompanham à distância e do cotidiano dos 'mass media' tais como: corrupção, prostituição, violência policial, apadrinhamento, conflito de interesses, manipulação entre outros.
Em cada pequena participação no processo, percebe-se um envolvimento inédito numa prática artística que marca definitivamente a formação e a vida de cada um desses cursistas.
A incorporação de um personagens, a reprodução de suas falas, a expressão de seus gestos não envolve apenas o uso dos conceitos (conceptus), também emerge seus corpos em afetos (afectus) e percepções (perceptus) que os leva a se deparar com seu futuro ao se espelharem nos agentes que fazem a sociedade em que vivem.
O teatro, visto como prática de reflexão social proporciona ainda que esses jovens reflitam seu cotidiano, sua perspectiva numa sociedade excludente, uma democracia capitalista, em que a corrupção é prática corrente e as pessoas se medem pelo poder do dinheiro.
Expressar sua perspectiva por meio da arte consiste numa possibilidade de se elaborar e se reformular/recriar diante de seus próprios conflitos, que são os conflitos mesmos dessa sociedade que (n)os origina.


Entrevistas e Roteiro

Seguindo o roteiro, vamos tratar os pontos desenvolvidos na pesquisa a partir das entrevistas.
Nos propusemos a fazer uma leitura crítica dos pontos debatidos em nossa conversa com a coordenadora e o mediador do Ceflora.

Ceflora
O primeiro ponto se refere à instituição em que realizamos nossa pesquisa, o Ceflora.
O Ceflora consiste numa escola estadual de nível médio que trabalha oferecendo curso técnicos para a população da região do Juruá. O Ceflora está subordinado ao Instituto Dom Moacyr.
Seguindo a política de outras instituições do gênero no país, essa instituição tem se voltado à exploração do mercado regional, trabalhando com cursos de formação voltados à valorização de produtos regionais.
A instituição surgiu como contraparte do estado acriano no projeto da Universidade da Floresta, que visa regionalizar os conhecimentos produzidos na Universidade Federal do Acre.

Protejo
O segundo ponto a ser desenvolvido consiste no projeto em que está inserida nossa pesquisa, o Protejo.
Trata-se de um projeto do Ministério da Justiça, o Pronasci – Programa de Segurança Pública com Cidadania, que criou o Protejo – Proteção de jovens em território vulnerável.
Aqui na região do Juruá, o Protejo está sob a responsabilidade do Ceflora. Trata-se de duzentos jovens de bairros considerados território vulnerável, divididos em turmas em dois pontos da cidade de Cruzeiro do Sul.
O Protejo é constituído de inicialmente de dez oficinas com temas como direitos humanos, gênero e raça, cidadania. O tema da oficina da semana que trabalhamos era Mídia e Estado. Cada oficina tem duração de sete dias.
Tivemos sete dias para desenvolver as atividades propostas. A turma era composta de trinta cursistas, com idade entre 16 e 22 anos.

Público-alvo
Quanto a esse ponto temos uma crítica.
Nosso público-alvo é definido como jovens em território vulnerável. Como é típico da mentalidade positivista de nossos juristas, nosso público já vem taxado, discriminado socialmente pelo mercado do assistencialismo, que é a especialidade do governo que nos representa atualmente.
Somos jovens em território vulnerável.
Não vimos nada nesses jovens que justificasse serem taxados socialmente de jovens em território vulnerável. Consideramos lamentável que ainda haja esse tipo de política discriminatória sob a fachada de uma 'política de inclusão'.

Metodologia
Avaliando a proposta a partir da dedicação, envolvimento, participação, satisfação com os resultados, podemos afirmar que a metodologia proposta obteve êxito.
Ao se identificarem na proposta, mesmo sem saber muito o que esperar dessa experiência inédita, os jovens cursistas se desarmaram e se puseram a recriar artisticamente sua visão da sociedade excludente e discriminatória em que estão inseridos.
Iniciou-se o processo com uma pesquisa nos meios de comunicação que visava lidar com temos espinhosos como corrupção, censura, contratos do Estado com as emissoras etc, ando conta assim do tema mídia e Estado.
Foi quando se apresentou a proposta das dramatizações.
No retorno, foi apresentada a proposta do filme, os grupo foram divididos em quatro equipes, cada uma orientada por um pesquisador, e passamos a montar as encenações.
A partir do resultado das encenações foi elaborado o roteiro do filme.

Teatro

Não se pode pensar o corpo do homem sem ele ser desenvolvido na história, ou sem ter um sentido social; nem tampouco sua mente social, cultural e historicamente forjada, sem sua base biológica, pois esses dois aspectos se relacionam por um processo de mútua determinação.

(pulino, lúcia. a teoria sócio-histórica de vigotski,
http://uab.unb.br/mod/resource/view.php?id=29069)


Ainda com Spinoza, é de espantar nossa ignorância sobre o que pode um corpo, isto é, o que possa vir a ser um corpo.
Seguimos reproduzindo, por nossa tradicional prática de reprodução, uma educação da razão, um ensino técnico que vise mais e mais o mercado de trabalho.
Estamos longe ainda de empreender uma educação que considere o corpo artístico, com toda sua complexidade psicológica.
Sem menosprezar, em nossa cultura escolar, o corpo esportivo, mas este já faz parte do antigo esquema, do velho opositor mente/corpo.
Investir no corpo artístico, no corpo como mediador dos conflitos psicológicos, sociais, políticos, vivenciados pelos jovens em formação de nossa sociedade, traz resultados concretos, podemos atestar.
No entanto, para investir na aprendizagem do corpo artístico, o educador necessita de uma formação interdisciplinar e, principalmente, escapar aos julgamentos, aceitando a contribuição que cada um possa trazer.
Pensamos ainda que o sucesso dessa metodologia com tal público-alvo talvez se deva à inépcia atribuída à educação conceptual a que estão submetidos na formação escolar.
Tal formação conceptual se caracteriza por reproduzir métodos e padrões científicos sem abrir espaço à desconstrução e re-criação da realidade cotidiana. Mesmo o ensino de artes cai muitas vezes no 'isso é arte'.
Lidar com a criação exige o desprendimento do artista, um devir-artista que acreditamos necessário para o bom desempenho de um educador em artes.

Mercado das Artes
Lamentavelmente, as artes estão longe de serem reconhecidas como um campo reconhecido pela sociedade local.
Onde podemos tomar um fôlego é no horizonte vislumbrado pelo jovens que temos visto afirmar quererem estudar teatro ou audiovisual.
A formação técnica ainda tem como imagem do emprego o trabalho no comércio (produção de doces e salgados, confeitaria, associativismo) ou em serviços (imagem pessoal, marcenaria, secretariado, web designer).
É urgente que comecemos a pensar e projetar o futuro da aprendizagem em artes em nossa região.
Se no campo das artes visuais isso não é problema, vide os cursos de web designer oferecidos pelo Ceflora, as possibilidades de trabalho na área do teatro, das artes cênicas, das metodologias de trabalho com o corpo artístico, ainda escapam do horizonte de gestores e coordenadores de educação.
Trabalhamos atualmente na modificação desse horizonte, na abertura a novas perspectivas.
Vemos-nos como multiplicadores no campo da arte-educação e essa experiência, tão importante quanto outras tantas que já trazemos para essa licenciatura em teatro, confirma para nós que o teatro-educador não pode se restringir ao espaço oficial do ensino escolar, pois necessita de outros espaços, de outras relações sociais, de outros discursos, de outros olhares e perspectivas, construídos a partir de iniciativas independentes, por esses atores, visando justamente praticar a liberdade e modificar o perfil assistencialista e manipulador das instituições de controle social do estado e do mercado.

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