15 junho 2009



etnografando
não é tão difícil de se entender o que é e como se produz uma etnografia;
ainda mais em tempos de caminho das índias, em que a própria rede globo, que aprendeu com hollywood essa nova estética da globalização, segue reproduzindo a homogeneização em horário nobre de forma massiva para a massa;
nesses tempos, o que interessa propriamente já não é o que seja ou como se produza uma descrição densa de costumes, sejam eles nossos ou de outros ou mesmo dos nossos outros;
a pergunta poderia ser em lugar disso, o que se faz enquanto se etnografa e então passaríamos de fato a tratar de alguma coisa, a levantar pressupostos, a desconstruir discursos, em lugar de remedar manuais de instrução;

é certo que sob a capa da diferença, a globalização reduz toda coisa, gesto, subjetividade em mercadoria a ser discursada em alguma comercialização;
o comércio das diferenças foi o grande mercado das subjetividades ao longo do século vinte;
ao mesmo tempo que se continuava a impor a imagem do homem branco ocidental, era necessário diversificar o mercado das subjetividades para atingir novos consumidores;
mulheres, negros, indígenas, crianças, todo tipo de subjetividade passou a ser incluída como negociável, vendável;
essa foi uma das principais contribuições da antropologia a era contemporânea das virtualidades globalizadas;
mentira que vale para a livre circulação de importados, desde que esses importados não sejam pessoas invadindo as terras e os livres mercados de exploração do trabalho dos países 'desenvolvidos', leia-se, colonizadores;

fazer etnografia hoje é lidar imediatamente com esse comércio global da diferença e esse mercado das subjetividades;

é aqui, nesse contexto, que se situa também o ponto de virada da prática etnográfica contemporânea, quando os meios de produção de diferença passam às mãos dos intelectuais proletários e eles próprios podem passar a se etnografar, como se se tratasse de fato de 'falar em seu próprio nome';
pois não se trata, o mercado de subjetividades é a maior indústria desse início de século vinte e um;
uma prática publicitária que se disfarça de política, comunicação, ciência, cultura etc;

quando a etnografia passa a ser praticada pelos próprios nativos, muitos vêem nisso uma emancipação, tal como a onu, promovendo 'democracias' pelo mundo;
os nativos só podem descobrir o mercado das diferenças e passar explora-lo, vivenciando o processo vivido pelos povos indígenas e seringueiros, tido como um processo redentor, com direito a mártir, minissérie da rede globo e tudo mais;

somente depois de se diluírem na homogeneidade nacional, façanha produzida pela república brasileira com todos os seus generais e ditadores da ordem e progresso, é que os nativos podem passar a comercializar a diferença;

além disso, dessa diferença do brasil caboclo em relação ao brasil europeu, há um grande consumidor de subjetividades regionais ávido por fortalecer o mercado da acrianidade, trata-se do próprio estado, que se vê impelido, diante dos demais estados, à produção de símbolos regionais que possam vir decalcados nas camisetas ou bonés consumidos pelos turistas;

é assim que o estado tem promovido 'uma cultura' do institucional com a qual as pessoas se identificam;
essa jogada política que tem caracterizado a maneira como o governo popular se adaptou aos tempos de neoliberalismo;
o que, aliás, não escapa de nossa crítica subjetiva, visto que um governo popular que supostamente se vê obrigado a governar para o mercado, é o próprio retrato de uma população conformada a uma exploração 'histórica', acima do tempo, que ofusca qualquer projeto de transformação;

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