23 outubro 2007

obrigado por me lembrar
sabe que de um tempo pra cá, desde minhas protoexperiências na reserva e bastante estimulado por seus escritos, decidi levar a frente uma crítica que me parece pertinente para detonar com a mentalidade conservadora e estatizante com a qual me choquei (eu e meu pretenso anarquismo de literatura);
trata-se de traçar os aspectos e o funcionamento dos dispositivos dos aparelhos de captura;
se as reservas eram potencialmente máquinas de guerra, devido a seus focos de poder, sua política de resistência à aliança estado-mercado(patrões), sua economia sustentável, sua política cultural de diferença, como isso foi paulatinamente sendo desmontado e apropriado pelos aparelhos de captura, de que forma se deu a ação de cada um dos agentes que compunham o quadro de interações e os desdobramentos e redefinições constantes das identidades desses grupos e desses agentes;
o que se quer dizer com intencionalidade, ou melhor, que formas de intencionalidade se configuram nas ações de cooptação dos aparelhos de estado sobre esses dispositivos de resistência da máquina;
inclusive refletir se tudo não passou de ilusão e de um complexo de épico, insuflado por figuras quixotescas (complexo de superioridade);
se o que houvera fora sempre mesmo aparelhos de estado manipulando essa massa de ex-seringueiros no âmbito de um projeto de tomada do poder, ou de substituição da hegemonia política;
manipulação que teria vindo por exemplo para a projeção de uma política ambiental, de toda uma legislação a ser disputada e por aí vai, valendo para outros parceiros;
assim estou estimulado a definir os traços desses aparelhos de captura a as faces dessas máquinas de guerra;


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17 outubro 2007

entraremos doravante num intenso trabalho de estudo das máquinas de guerra;
interessa definir como um dos núcleos nervosos o problema das sociedades indígenas como máquinas de guerra;
os modos que esses coletivos tendem a escapar continuamente das malhas do estado, de seus mapas psíquicos;essa perspectiva servirá para nortear nosso trabalho, para que não sejamos cooptados tão facilmente pelas ordens sociais ou socializantes do estado, com seus mapas e mapeamentos de controle social;

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11 outubro 2007

ive seen the future, brother
it is murder…
the future leonard cohen
the future
o intelectual de estado não é uma pessoa, mas um “estado de espírito”;
todos nós comungamos em certos momentos com o intelectual de estado;
como personagem conceitual ele consiste numa potência, numa intensidade, numa subjetividade que pode ser acionada em cada um de nós, especialmente pela adequação a um consenso;
o problema é irmos nos acomodando a ele, chegando ao ponto de nos cristalizarmos, nos identificarmos com ele;
as funções do pensamento científico positivista, especialmente em sua dimensão de saber pelo saber, quando o objetivismo e o moralismo pedagógico da tradição racionalista, que estabelece, na tradição greco-romana do judaico-cristianismo, a consciência (estreitamente ligada à responsabilidade para saldar suas dívidas, com juros) como supra sumo da humanimalidade, determinam por seus próprios pressupostos, a atividade científica como um aparelho de captura;
o próprio campo moral em que se situa e oculta a gênese dos valores e pressupostos já define essa função;
esse função se apóia na zona de indiscernibilidade entre ciência e religião, região em que a ciência se define por uma questão de fé;
pois a cruzada civilizatória ordenada em torno da razão universal conduziu à prisão insuspeitável porque moral e imperceptível, visto que o que é perceptível para mim é o que é perceptível para mim e só me aproprio do imperceptível por ele o sê-lo para outro;
quando suprimo o outro, para a experiência monótona da monocultura, função do teocentrismo científico, proponho o universo fascista da civilização;

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estômagos como máquinas de guerra
na aldeia apiwtxa, dos ashaninka do rio amônia, desde 2002, período em que benki e outros agentes agroflorestais começaram a por em prática suas primeiras experiências de sistemas agroflorestais, que a comunidade reverte os recursos da merenda do estado pelos alimentos da comunidade;
a iniciativa foi das crianças da comunidade que se negavam a comer o cardápio do governo, definido assim um projeto piloto da comunidade;

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09 outubro 2007

no mercado com kumãiari
processos de amansamento
dois temas precisam ser elaborados no momento a partir das experiências no juruá;
esses temas se articulam ou configuram duas dimensões do mesmo tema;
o primeiro tema ou uma primeira dimensão do tema, refere-se a modelos de desenvolvimento: que modelos se constituíram historicamente nos embates das políticas locais, em que medida a expansão desmedida do modelo de alto impacto ambiental, também chamado de exploração predatória, deu origem a seu antípoda e contraponto: o desenvolvimento sustentável, em que medida esse desenvolvimento sustentável, ao invés de se contrapor ao do desenvolvimento insustentável, não é sua continuação por outros meios... enfim, de que formas o desenvolvimentismo desmedido da exploração predatória (que aqui se refere não só ao ambiente como à exploração humana também, visto que ela terá lugar central no discurso do ecologismo seringueiro) teria consistido na gênese do ecologismo, ou, olhando de revés, como o ecologismo se constitui em mais um produto no mercado dos bens simbólicos: políticas públicas, políticas ambientais, terceiro setor, academias e discursos acadêmicos?
enfim, de que formas o ecologismo foi apropriado e apropriou as populações tradicionais, antes empenhadas no mesmo processo de exploração contra o qual vão se voltar, ou melhor, que se voltará contra elas, ou melhor, que as descartará;
é quando o segundo tema já começa a se definir, pois trata-se das formas com que esses esboços de máquinas de guerra potencializados por esses movimentos populares foram sendo minados e cooptados a aparelhos de estado;
de que forma temos aqui um mostruário das diversas formas com que age a empresa capitalista e os órgãos do estado na cooptação e pilotagem bem como o jogo que realiza com toda a fantasmática grupal e os jogos de poder; isso segundo uma realidade específica, segundo condições também específicas;

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03 outubro 2007


as máquinas de guerra se constituem em oposição aos aparelhos de estado;
é aparelho de estado tudo aquilo que é incorporado como dispositivo ao corpo do estado, tudo aquilo que é unificado;
tudo aquilo que se alinha a esse organismo que tudo pretende organizar;
as máquinas de guerra, que traçam rizomas com o modelo das sociedades contra estado, se referem a tudo o que escapa a esse poder de incorporação, de unificação;
tudo que se desorganiza, que segue desorganizando, criando vida fora da ordem e do sentido, tudo o que se poietiza em corpo-sem-órgão;

o conceito (a categoria conceito) foi incorporado ao estado, tornou-se seu aparelho, um dos primeiros, pois que veio a dar o sentido racional e laico do estado burocrático;
o nomadismo marca esse movimento de escape e o pensamento nômade essa desestatização dos conceitos que devem encontrar ou constituir vias que não os circuitos fechados das disciplinas, daí os agenciamentos de enunciação;
daí os agenciamentos de enunciação que devem ser criativos e comunicativos mas que não se confundem com comunicação ou com arte;

instrumentos como entidade, identidade, sociedade, entre outros conceitos que visaram "explicar" as socialidades indígenas num processo de substantivação de seus processos dinâmicos e fluidos, adequando essa socialidade aos padrões de nossos conceitos (por sua vez adequados à nossa ordem estatal), operam como aparelhos de estado;

o estruturalismo opera com dois eixos, duas séries: linguagem e mundo;
o máximo que se tinha alcançado em termos práticos de crítica ao nosso modelo de representação era a crítica das ideologias;
ele coloca e problematiza a questão da representação (e da ontologia) que tinha sido resolvido em ideologia;
até então era simples: a linguagem representava o mundo e ajudava a construí-lo com a força das ideologias;
até aí estava introduzido e explicado ou decifrado o problema do plano simbólico, que consiste num problemão no contexto capitalístico, sem afetar o telhado de vidro da ontologia (e da) metafísica ocidental;
ou, em outras palavras, parmênides ainda estava valendo;
mas o capitalismo não cessou de desmaterializar seus fluxos e e desterritorializar, passando por cima do respeito marxista à ontologia ocidental;
pois é, as coisas mudam... ainda que permaneçam as mesmas;


a identidade como princípio milenar tinha encaminhado até então um acordo não problemática entre as duas instâncias;
mas a velha tradição racional que sustentara o sentido (racional-izante) do mundo se viu esvaziada e novas possibilidades de relação foram sendo apontadas para a desmontagem e reconstrução de tais padrões;
a ciência teve finalmente uma rigorosa genealogia, o que exorcizou a história (e, por extensão, o método histórico) e definiu saídas para uma ciência impiedosamente laica, ou melhor, não-judaico-cristã, ou melhor, não-monoteísta;
com isso o positivismo se torna subitamente (em termos de longa duração) um peça de museu e/ou de laboratório;
o poder se constitui como uma instância imanente da produção simbólica e do conhecimento, destinado a ser absorvido ou dobrado nas metodologias a-morais da neutralidade axiológica;

pois bem, esses foram alguns recortes e linhas de fuga com que se chegou à engenharia das máquinas de guerra;
como disse inicialmente, elas tiveram um caráter central na, ou melhor, enquanto deconstrução dos pressupostos instaurados pela/enquanto polis, pelo/enquanto estado;
suas próprias condições de possibilidade foram a guerra contra essa constituição ou apropriação enquanto aparelho de estado;
daí o esquema de destranscendentalização n-1, especialista em singularizar entidades (e, portanto, identidades), ou (como há muito já temos trabalhado) a afirmação não-positiva;
por isso, ainda, a descida à casa das máquinas da epistemologia e da teoria do conhecimento ao longo do século passado;

a problematização estruturalista das dimensões da significação encaminhou ao complexo das cosmologias, que abriu campos híbridos entre simbólico/empírico, chamados sociocosmologias, a partir dos quais a socialidade indígena pode não só ser compreendida, ainda que minimamente, em seus próprios termos como, ao longo deste percurso, redefiniu princípios antropológicos basilares;
a partir daí, temas como o xamanismo, especificamente as metamorfoses e seus operadores, tais como o canto, a música instrumental, a dança, o tabaco, entre outros serem promovidos a intrumentos dessas socialidades;

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