03 outubro 2007


as máquinas de guerra se constituem em oposição aos aparelhos de estado;
é aparelho de estado tudo aquilo que é incorporado como dispositivo ao corpo do estado, tudo aquilo que é unificado;
tudo aquilo que se alinha a esse organismo que tudo pretende organizar;
as máquinas de guerra, que traçam rizomas com o modelo das sociedades contra estado, se referem a tudo o que escapa a esse poder de incorporação, de unificação;
tudo que se desorganiza, que segue desorganizando, criando vida fora da ordem e do sentido, tudo o que se poietiza em corpo-sem-órgão;

o conceito (a categoria conceito) foi incorporado ao estado, tornou-se seu aparelho, um dos primeiros, pois que veio a dar o sentido racional e laico do estado burocrático;
o nomadismo marca esse movimento de escape e o pensamento nômade essa desestatização dos conceitos que devem encontrar ou constituir vias que não os circuitos fechados das disciplinas, daí os agenciamentos de enunciação;
daí os agenciamentos de enunciação que devem ser criativos e comunicativos mas que não se confundem com comunicação ou com arte;

instrumentos como entidade, identidade, sociedade, entre outros conceitos que visaram "explicar" as socialidades indígenas num processo de substantivação de seus processos dinâmicos e fluidos, adequando essa socialidade aos padrões de nossos conceitos (por sua vez adequados à nossa ordem estatal), operam como aparelhos de estado;

o estruturalismo opera com dois eixos, duas séries: linguagem e mundo;
o máximo que se tinha alcançado em termos práticos de crítica ao nosso modelo de representação era a crítica das ideologias;
ele coloca e problematiza a questão da representação (e da ontologia) que tinha sido resolvido em ideologia;
até então era simples: a linguagem representava o mundo e ajudava a construí-lo com a força das ideologias;
até aí estava introduzido e explicado ou decifrado o problema do plano simbólico, que consiste num problemão no contexto capitalístico, sem afetar o telhado de vidro da ontologia (e da) metafísica ocidental;
ou, em outras palavras, parmênides ainda estava valendo;
mas o capitalismo não cessou de desmaterializar seus fluxos e e desterritorializar, passando por cima do respeito marxista à ontologia ocidental;
pois é, as coisas mudam... ainda que permaneçam as mesmas;


a identidade como princípio milenar tinha encaminhado até então um acordo não problemática entre as duas instâncias;
mas a velha tradição racional que sustentara o sentido (racional-izante) do mundo se viu esvaziada e novas possibilidades de relação foram sendo apontadas para a desmontagem e reconstrução de tais padrões;
a ciência teve finalmente uma rigorosa genealogia, o que exorcizou a história (e, por extensão, o método histórico) e definiu saídas para uma ciência impiedosamente laica, ou melhor, não-judaico-cristã, ou melhor, não-monoteísta;
com isso o positivismo se torna subitamente (em termos de longa duração) um peça de museu e/ou de laboratório;
o poder se constitui como uma instância imanente da produção simbólica e do conhecimento, destinado a ser absorvido ou dobrado nas metodologias a-morais da neutralidade axiológica;

pois bem, esses foram alguns recortes e linhas de fuga com que se chegou à engenharia das máquinas de guerra;
como disse inicialmente, elas tiveram um caráter central na, ou melhor, enquanto deconstrução dos pressupostos instaurados pela/enquanto polis, pelo/enquanto estado;
suas próprias condições de possibilidade foram a guerra contra essa constituição ou apropriação enquanto aparelho de estado;
daí o esquema de destranscendentalização n-1, especialista em singularizar entidades (e, portanto, identidades), ou (como há muito já temos trabalhado) a afirmação não-positiva;
por isso, ainda, a descida à casa das máquinas da epistemologia e da teoria do conhecimento ao longo do século passado;

a problematização estruturalista das dimensões da significação encaminhou ao complexo das cosmologias, que abriu campos híbridos entre simbólico/empírico, chamados sociocosmologias, a partir dos quais a socialidade indígena pode não só ser compreendida, ainda que minimamente, em seus próprios termos como, ao longo deste percurso, redefiniu princípios antropológicos basilares;
a partir daí, temas como o xamanismo, especificamente as metamorfoses e seus operadores, tais como o canto, a música instrumental, a dança, o tabaco, entre outros serem promovidos a intrumentos dessas socialidades;

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