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trata-se antes de escapar do que de enquadrar, conscientizar, incluir, normalizar;
o regime contra o qual escrevemos é o regime do controle, das sociedades de controle;
o consumo, uma sociedade capitalista, consiste numa complexa relação entre desejo, liberdade e tirania;
estado e capitalismo não se diferenciam nessa sua herança dos regimes religiosos de controle moral;
conforme deleuze em seu texto sobre as sociedades de controle, são elas que seguem as sociedades de disciplina a partir das quais foucault deduziu os regimes discursivos com que saber e poder interagem e se indiferenciam;
usamos os discursos, operamos a linguagem, mas também somos subjetivados nessa utilização, nos constituímos nessa operação;
quando estamos operando com os discursos, temos duas posturas basicamente;
deleuze define duas formas de lidar com o plano: plano de transcendência e plano de imanência;
a relação com o plano é que define a relação com a linguagem enquanto plano de imanência (da obra, da subjetividade, do universo, de tantas multiplicidades que se abrem com a criação de conceitos, perceptos e/ou afectos);
no plano de transcendência somos ultrapassados pelo discurso, na medida que se trata de um discurso que refere sem ser referido;
já o plano de imanência consiste num plano que não se oculta, que à medida que explicita, é explicitado;
nas artes do século vinte, essa quebra com a representação que marca o plano de transcendência consiste no gesto de comprometimento político mais profundo da arte;
a arte sacrifica seu próprio corpo a medida que se separa da comunicação e da publicidade;
vimos isso nas linhas de fuga que vão irremediavelmente exilando marcel duchamp;
essa ruptura toma diversas formas: desde a diluição das imagens impressionistas até a ruptura da tela, as instalações e os parangolés;
o teatro não só desce do palco como mergulha no absurdo;
como escreve haroldo de campos nas galáxias: escrever sobre escrever é o futuro do escrever;
o mesmo se dá com a música, com as artes plásticas, com o teatro;
emergir a linguagem da linguagem (plano de imanência, dobra);
trata-se de uma dobra ou de múltiplas dobras sobre o plano de imanência, segundo a materialidade de cada expressão;
as próprias linhas que dividem as artes são suspensas;
todo esse movimento de dobra sobre a linguagem, de expressar o plano de imanência inerente ao processo artístico consiste na natureza própria da arte, em sua natureza selvagem;
a arte não é a obra, não consiste no produto;
a aura, o mana da expressão artística atravessa o corpo da obra;
e não se faz obra sem o percurso da linguagem em corpo, em a perspectiva que o corpo torna possível;
não se captura os devires pois eles atravessam entre os blocos de subjetividade;
como refere joão cabral, esse devir que move ou que consiste na expressão artística é faca só lâmina;
não está disponível para o consumidor pois consiste num limite;
a esse limite cabe nos levar além;
não se trata de definir uma política de estado para nossos alunos;
trata-se de deixar pistas, vestígios, de que eles podem escapar de nossos discursos, dos discursos oficiais, de nossas doutrinas;
não se trata de compreender finalmente o que necessitam nossos alunos, isso já se tornou um habitus que nos foi incutido pela publicidade que se espalha por todos os discursos desde o da mãe, passando pelo do padre, o do professor, do patrão, da esposa etc;
todos buscando uma satisfação cada vez mais longe por querer agarrar algo que não está disponível;
quão infeliz isso nos faz;
trata-se de criar a partir das linhas de fuga, ao invés de nos fixarmos em discursos que nos conduzem a subjetividades moldadas, prontas para serem consumidas, fast food;
daí a dificuldade de se falar sobre o que seja política, arte e educação;
a política, a arte ou a educação podem ser perspectivas antes de serem discursos (objetos de);
fazer de qualquer dessas perspectivas um plano de transcendência consiste em operar a neutralização dessa natureza selvagem libertária que antes implica do que corrobora com explicações;
não se trata de falar de arte, a arte mesmo é avessa explicações, exposições etc;
daí o crítico como o antípoda do artista;
e daí a necessidade de uma contínua reinvenção da crítica;
uma crítica poética, uma crítica como pesquisa e experiência de linguagem, de recriação, de sampler;