17 maio 2007

a hermenêutica literária e, mais recentemente, os estudos do teatro definiram meu estar à vontade no universo das aparências e simulações de que resulta o exercício de supressão da dimensão das essências no pensamento;

essa dicotomia aparência/essência está na gênese da filosofia, do pensamento racional, quando este se distingue da mitologia e da literatura, para lidar com a realidade exterior ao pensamento, para definir objetivamente o mundo e ordenar racionalmente o cosmos;

relacionar pensamento e realidade, eis ainda hoje, o problema metodológico que se procura dar conta;

quais as especificidades do pensamento e as especificidades do mundo? poderá o pensamento refletir fielmente esse outro universo? como evitar os erros dos sentidos e faze-los parte da construção do conhecimento? se a linguagem não reflete, e sim constrói realidades por meio do sentido, como lidar com a tradição do nosso pensamento?

essas são questões que atravessam os séculos de pensamento filosófico no ocidente e estão articuladas com a dicotomia referida;

o exercício de supressão dessa dicotomia é típico de certa teoria antropológica que tem criticado a substantivação de alguns de seus conceitos, tornados entes no tal processo de atavismo do pensamento clássico;

refiro-me à velha parentela de dicotomias pensamento/real, natureza/sobrenatureza, natureza/cultura, essência/aparência;

na antropologia, o problema filosófico da representação versus construção da realidade via linguagem ganhará novo sentido devido ao seu trabalho na fronteira das culturas, das línguas e do sistemas de conhecimento ou dos pensamentos, assim como, pelos problemas político-epistemológicos que serão colocados por essa disciplina;

essa problematização de origem filosófica está na gênese da antropologia francesa de mauss a lévi-strauss;

mauss, a partir de seus trabalhos com durkheim, dá início à definição metodológica de um instrumental que viabilize a abordagem da produção de socialidade, redefinindo a abordagem cientista da sociologia, que intentava objetivar os fatos sociais;

buscando suporte no lado frágil da sociologia, o indivíduo e sua psique, a antropologia de Mauss vai dar vazão, vai desdobrar metodologicamente, para as dimensões metatextuais, enquanto a sociologia de durkheim buscava na sociedade, os processos de produção de sentido na sociedade, onde conduzirá sua concepção de cultura, não restrita a produto da sociedade, e sim numa dialética de produção e reprodução da própria socialidade;

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