13 maio 2007

o interesse sobre a dimensão da discursividade, a abordagem discursiva, o método filosófico que se volta para o conceito e seu plano de imanência como dimensão estrita do relacionismo, em que o sentido se movimenta nas superfícies, é o da supressão da dimensão transcendente;

nesse campo, segundo as regras que o definem, nada escapa à construção de sentido discursiva, a linguagem é o campo que determina o sentido;

dessa forma, a distinção primordial entre cultura e natureza perde o sentido devido à supressão de qualquer campo exterior à cultura;

a existência aqui passa a ser uma existência conceitual, o conceito só tem sentido e opera num campo de sentido prescrito e determinado;

essa dicotomia serve à definição do homem e sua imediata separação desse suposto universo: a natureza;
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o que se requer talvez seja fazer uma análise das experiências que deram certo desde a criação das reservas extrativistas;

analisar, assim, os projetos de gestão em sua matriz epistemológica, pois aí está a contribuição da antropologia brasileira;

o que a experiência me mostrou, portanto falo com base na amostragem, num recorte, e não a partir da análise geral dos processos de gestão em todas as reservas extrativistas do acre, foi a falta de uma dimensão antropológica;

aliás, esse era justamente o problema que se visava abordar como demanda: a integração entre técnicos de gestão ambiental (seater) da resex e os moradores, agentes florestais comunitários;

no entanto, essa integração não parece muito clara ao próprio processo de gestão como um todo, no qual impera o tecnicismo;

nesse processo, o manejo aparece como forma oficial dos processos de gestão de território;

a falta de um distanciamento antropológico leva os técnicos do manejo, os engenheiros florestais, a uma ilusão bastante antiga, uma lição elementar da filosofia que foi apropriada pela antropologia como princípio da disciplina; trata-se da confusão entre natureza e cultura;

os desdobramentos de nossos dogmas modernistas e humanizadores de tradição colonialista e evolucionista conduziram o senso comum dos técnicos a um pseudo-respeito às culturas tradicionais;

digo pseudo por que não se sabe ao menos o que é cultura e se quer arrogar sobre o respeito a essas culturas, sem um devido acompanhamento antropológico e seus respectivos pareceres;

não que eu ache que tais questões só possam ser abordadas pelos antropólogos profissionais, esses técnicos da cultura;

é assim que esses cérebros tecnicizantes querem respeitar a cultura de seus interlocutores inserindo o seu tecnicismo no cérebro desses, afinal seu horizonte é este e não tendo sido dele, isso seria respeito;

pois é, para quem só conhece o mundo pela televisão, esta é seu critério de humanidade;

por que isso acontece, digo epistemologicamente, por que esses cérebros acreditam, com toda sua convicção que podem coexistir muitas culturas, é até humanisticamente muito bonito e, aliás, a engenharia florestal poderia ser uma ciência humana, não fosse o fato de que, quanto à natureza, aí a conversa é outra, estamos falando se seu território e, neste não se admite que entre e seria até absurdo, onde já se viu, que entrasse qualquer outro;

é assim, que a cultura do outro deve ser respeitada, mas não tem valor de mercado, é só de direito, café com leite;

taí o problema político que está minando o modelo das reservas extrativistas e já se generaliza na boca dos engenheiros florestais como fracassos das reservas;

só não assumem que o fracasso é da reserva deles, de seu modelo de gestão, seu manejo madereireiro;

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