13 maio 2007

cabe situar a questão dos conhecimentos tradicionais como tema que nos possibilitará o entendimento dos movimentos e das veredas da antropologia;

o caminho de conquista do reconhecimento de saberes que se contrapusessem à ciência ocidental tem sido um árduo caminho de conquistas políticas;

trazer o conhecimento para o campo da cultura, deslocando-o do âmbito da natureza, ao qual o havíamos assimilado equivale a uma revolução política;

como toda revolução, os movimentos populares são também aqui utilizados como massa de manobra e o processo é assumido por grupos hegemônicos que dele se apropriam;

dois casos são: a apropriação do Estado em seu reconhecimento da educação indígena e o reconhecimento legal dos conhecimentos tradicionais visando reprimir a apropriação indevida desses conhecimentos na forma da biotecnologia e do sistema de patenteamento;

como a antropologia chegou a esses problemas, quais e como se deram as transformações de seus marcos teóricos, dos problemas por eles abordados e neles resultantes?

são essas questões que tornam a serem feitas, que podem ser reformuladas, a partir do novo contexto e de suas emergências, reformulando assim os problemas;

o evolucionismo resulta nas ciências humanas dos desdobramentos da dialética hegeliana como forma de contextualizar o pensamento numa dinâmica histórica e cultural;

um golpe no universalismo idealista, mas que acaba por incorrer, devido a pertencer à mesma matriz, em outro universalismo: o evolucionismo e derivados;

a antropologia se concebe como produto do meio evolucionista, fazendo do primitivo seu material de estudo;

sua constituição como disciplina autônoma, no entanto, com independência metodológica, dependerá da ruptura com o seio em que foi gerada;

de estudo dos povos primitivos à análise do etnocentrismo, seus pressupostos e conseqüências, como forma própria do pensamento ocidental, consiste numa reviravolta e tanto;

o estruturalismo leva a cabo a ruptura com as formas do evolucionismo, iniciada pelo difusionismo e pelo funcionalismo;

o estruturalismo desloca o problema da antropologia do exterior, da análise da sociedade indígena com nossos conceitos e pensamentos, à análise indígena como produção, num primeiro momento de um pensamento da sociedade (em que se discute ainda o problema do consciente e do inconsciente), num segundo momento como produção de socialidade e da socialidade como produção de pensamento;

nesse exterior, nessa análise da realidade, que coloca de lado o pensamento indígena, estamos em vantagem;

politicamente, muitos processos serão desdobrados; para não se colocar, assim o problema político da epistemologia, por muito tempo ainda se vai desqualificar não só o sujeito agente do outro, sua pessoa estritamente política, supostamente incapaz de cidadania, forma própria da retórica da igualdade democrática, também será, num mesmo gesto, desqualificado seu pensamento, seu sujeito pensante, o outro como sujeito do conhecimento;

é assim que definimos a natureza como uma instância própria e evidente de nosso modelo de conhecimento; é a esse modelo que a natureza de fato pertence;

natureza, aqui, refere-se a essa dimensão transcendente que determina o conhecimento, ditando sua ordem ao plano de imanência, que se constitui na chave discursividade, subjetividade e política;

o deslocamento estruturalista, ao suprimir essa dimensão transcendental com instância organizadora, propõe uma experiência textual que resulta na articulação dessa chave;

é nessa chave que a antropologia conduzirá um método que resulta na constituição de um pensamento indígena virtual;

esse problema, possibilitado pela discursividade, pela autonomia metodológica da linguagem como instância de produção social de sentido, deverá voltar a antropologia para uma análise abrangente dos pressupostos epistêmicos que condicionam o pensamento;

taí o porque de Deleuze e Guattari afirmarem a Genealogia da Moral de Nietzsche já como a obra capital da antropologia;

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