os contextos de cultura são perpetuados e estendidos por atos de objetificação, pela sua invenção uns a partir dos outros e uns por meio dos outros; isso significa que não podemos apelar para a força de algo chamado “tradição”, “educação” ou orientação espiritual para dar conta da continuidade cultural – ou, na verdade, da mudança cultural; as associações simbólicas que as pessoas compartilham, sua moralidade, cultura, gramática ou costumes, suas tradições, são tão dependentes de contínua reinvenção quanto as idiossincrasias, detalhes e cacoetes que elas percebem em si mesmas ou no mundo que as cerca; a invenção perpetua não apenas as coisas que aprendemos, como a língua ou boas maneiras, mas também as regularidades de nossa percepção, como cor e som, e mesmo o tempo e o espaço; (...)
se a invenção é assim de importância crucial para nossa apreensão da ação e do mundo da ação, a convenção não o é menos, pois a convenção cultural define a perspectiva do ator; (...)
o cerne de todo e qualquer conjunto de convenções culturais é uma simples distinção quanto a que tipo de contextos – os não convencionalizados ou os da própria convenção – serão deliberadamente articulados no curso da ação humana e que tipo de contextos serão contrainventados como “motivação” sob a máscara convencional do “dado” ou do “inato”; é claro que para qualquer conjunto de convenções dado, seja ele o de uma tribo, uma comunidade, uma “cultura” ou uma classe social, há apenas duas possibilidades: um povo que diferencia deliberadamente, sendo essa a forma de sua ação, irá invariavelmente uma coletividade motivadora como “inata”, e um povo que coletiviza deliberadamente irá contrainventar uma diferenciação motivadora dessa mesma maneira; como modos de pensamento, percepção e ação contrastantes, há toda a diferença do mundo entre essas duas alternativas; (p.94-95)
invenção da cultura
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