16 junho 2011

com essas palavra bateson inicia naven:


Se fosse possível apresentar de forma adequada a totalidade de uma cultura, enfatizando cada aspecto exatamente do modo como ele é enfatizado pela própria, nenhum detalhe isolado pareceria bizarro, estranho ou arbitrário ao leitor; ao contrário, os detalhes pareceriam todos naturais e razoáveis, como parecem aos nativos que viveram toda a sua vida no seio daquela cultura.
Uma exposição desse tipo pode ser empreendida mediante dois métodos – com técnicas científicas ou com técnicas artísticas. Do lado artístico, temos as obras de um punhado de homens que foram não apenas grandes viajantes e observadores, mas também escritores sensíveis, como Charles Doughty; e temos também representações esplêndidas da nossa cultura em romances como os de Jane Austen ou John Galsworthy. Do lado científico, temos monografias monumentais e minuciosas sobre alguns povos e, mais recentemente, as obras de Radcliffe-Brown, de Malinowski e da Escola Funcional.
Esses estudiosos dedicaram-se à mesma grande tarefa, qual seja, descrever a cultura como um todo, de maneira que cada detalhe pareça uma conseqüência natural do restante da cultura.
Mas seus métodos diferem do método dos grandes artistas em um ponto fundamental.
O artista contenta-se em descrever a cultura de tal modo que muitas de suas premissas e as inter-relações das partes que a compõem ficam implícitas na composição.
Ele pode sugerir muitos dos aspectos mais fundamentais da cultura, não propriamente pelas palavras que emprega, mas pela ênfase que dá a elas.
Pode escolher palavras cuja sonoridade seja mais relevante que o significado de dicionário e pode agrupá-las e realçá-las de tal forma que o leitor, quase inconscientemente, receba informações que não estão explícitas nas frases e que o artista acharia difícil, quase impossível, expressar em termos analíticos.
Essa técnica impressionista é absolutamente estranha aos métodos da ciência, e a Escola Funcional dedicou-se a descrever em termos analíticos, cognitivos, o conjunto entrelaçado – quase vivo – de nexos que constitui uma cultura.
Os membros dessa escola, natural e acertadamente, dedicaram sua atenção sobretudo aos aspectos da cultura que mais bem se prestam à descrição em termos analíticos. Descreveram a estrutura de várias sociedades e revelaram os traçados principais do funcionamento pragmático dessa estrutura.
Mas mal tentaram delinear aqueles aspectos da cultura que o artista é capaz de expressar com seus métodos impressionistas. Ao lermos Arabia Deserta, ficamos admirados com o modo extraordinário pelo qual cada acontecimento é caracterizado com o tom emocional da vida árabe. Mais que isso, muitos acontecimentos seriam impossíveis com um fundo emocional diferente.
É evidente, portanto, que o fundo emocional atua de modo causal no seio de uma cultura, e nenhum estudo funcional pode ser razoavelmente completo a menos que vincule a estrutura e a operação pragmática da cultura ao seu tom emocional ou ethos.

(bateson, primeiras palavras de naven)


pode...?

Visitor Map
Create your own visitor map!