13 fevereiro 2011


 roquette-pinto: o homem multidão

Em setembro de 1906, Roquette partiu para o Rio Grande do Sul a fim de estudar os sambaquis - as jazidas de conchas, ossos e utensílios do homem pré-histórico que habitou o litoral da América. E daí também porque, depois de alguns anos como assistente de Henrique Batista (com cuja filha Riza casou-se em 1908) e como médico-legista no Rio, Roquette deu uma guinada em sua carreira: tornou-se, por concurso, professor da cadeira de antropologia e etnografia do Museu Histórico Nacional, na Quinta da Boa Vista. Ali, em 1911, ele conheceu o homem que, este sim, o marcaria para sempre: o tenente-coronel Cândido Mariano da Silva Rondon.
O mato-grossense Rondon, nascido em 1865, já estava nas selvas do Amazonas e do Acre desde 1890, desbravando a mata, criando povoados, demarcando fronteiras, estendendo linhas telegráficas e fazendo os primeiros contatos com tribos à margem de qualquer civilização, como os parecis, os kabixis, os tapanhumas e os cajabis. Como Roquette, Rondon também era positivista e acreditava na ciência e na fraternidade como molas para o progresso. Levava geólogos, cartógrafos e outros peritos em suas expedições e, ao voltar de cada uma, trazia amostras de objetos paleológicos e os entregava ao Museu Nacional. Muitos desses objetos caíram na mão de Roquette, que se debruçou fascinado para estudá-los. Deles resultou o seu documento Nota sobre Índios Nhambiquaras do Brasil Central, que leu num congresso de americanistas em Londres, em 1912.
(...)
 Mas, naturalmente, era muito mais que isso. Suas experiências com os nativos e com os homens do sertão deram a Roquette os instrumentos para desfechar uma campanha anti-racista que atingiria em cheio o arianismo então vigente no Brasil. Para muitos naquela época (como para alguns ainda hoje), nossas mazelas seriam originárias da presença dos negros, mestiços e índios na composição racial brasileira. A tese original era do diplomata francês Joseph Arthur, conde de Gobineau (1816-1882), autor de uma teoria racial da História e que um dia resultaria no nazismo. Uma visão "benigna" do problema, defendida pelo então diretor do Museu Nacional, o antropólogo João Batista de Lacerda, apostava no "embranquecimento" do povo: em poucas décadas, os sucessivos cruzamentos extinguiriam a raça negra no Brasil... Mas Roquette, que via o Brasil como "um imenso laboratório de antropologia", pensava diferente.


rui castro, roquette-pinto: o homem multidão




Nosso papel social deve simplesmente proteger, sem procurar dirigir nem aproveitar essa gente. Não há dois caminhos a seguir. Não devemos ter a preocupação de fazê-los cidadãos do Brasil. Todos sabem que índio é índio, brasileiro é brasileiro. 
edgar roquette-pinto 

rondônia
http://www.4shared.com/document/nDwA91PD/RONDONIA_-_ROQUETTE_PINTOpeq_a.htm 

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