11 janeiro 2011


marcio goldman e a antropologia contemporânea
alguma antropologia

vimos acima como paul veyne demonstra o caráter total da investigação histórica: se 'tudo é histórico' e se, portanto, 'a história' não existe, mas apenas 'histórias de' (veyne, 1982:23), a questão que imediatamente se coloca é a da determinação dos objetos de tais histórias;
nesse sentido, veyne recorda a tese weberiana de que a história seria relação de valores (idem:36), mas contesta a possibilidade de uma definição unívoca do que seria realmente importante considerar histórico;
tudo seria de fato histórico e as escolhas do historiador seriam motivadas exclusivamente por seu interesse, profissional ou não;
creio, contudo, ser necessário acrescentar aqui uma dimensão mais decididamente política ao esquema de veyne, devolvendo a weber a razão desde que se admita que o 'interesse' não é uma propriedade unívoca de uma 'civilização' (a nossa), mas uma variável determinada por uma tomada de posição;
em outros termos, tratar-se-ia de uma escolha política, mas no sentido preciso atribuído ao termo por michel foucault: a determinação do objeto deveria passar por uma espécie de diagnóstico do presente, procedendo em função do mapeamento e seleção de questões e lutas contemporâneas;
como se sabe o trabalho do próprio foucault em torno da loucura, da prisão, da sexualidade e das formas de subjetivação caminhou sempre nessa direção (cf. especialmente foucault, 1984 introdução e foucault, 1985);
se admitirmos que essas questões e lutas devam ser encaradas como sintomas de processos fundamentais ou seja, como pistas a seguir, não como oposições definitivas em relação às quais seria preciso alinhar-se de modo simplista devemos reconhecer que este modelo abre a possibilidade de uma 'antropologia das sociedades complexas' capaz de questionar criticamente tanto o campo teórico em que está inserida quanto a sociedade na qual se desenvolve;   
goldman:120

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