11 junho 2010



A partir de Meyerhold passamos a ter uma visão mais completa da encenação. Com Stanislvski havíamos nos concentrado na formação e nas técnicas do ator, uma exigência, talvez, da própria encenação naturalista.
A própria proposta do exercício de comparação se mostra mais adequada àquilo que passamos a ver com Meyerhold. Sem qualquer comparação, a não ser uma pálida imagem do que seria a atuação de então, ficava difícil compreender a proposta de Stanislavski. Ela nos parecia tão onipresente como a imagem do sujeito, a imagem convencional da subjetividade que nos permite ocultar-nos de nós mesmos.
Com Meyerhold, passamos a nos posicionar diante de um contexto em que as idéias podem ganhar sentido mais preciso.
Nesse sentido, a perspectiva de Yedda Chaves nos coloca em posição privilegiada em relação a nossa abordagem de Stanislavski. Isso porque temos uma abordagem de Meyerhold a partir de experiências de teatro/performance contemporâneos.
Meyerhold fala contra o naturalismo, isto é, toma como pano de fundo o contexto da encenação naturalista para colocar suas idéias. No entanto, essa fala, reapropriada em nosso contexto, ganha novos actantes. É o próprio teatro que fala sob a voz de Meyerhold, dirigindo-se então não ao Teatro de Arte de Moscou, mas a uma postura naturalista que persiste e que pode ser atribuída aos limites de nossa concepção do teatro e seus recursos.
Longe de termos educado nossos sentidos com o refinamento estético de um Tchekhov, o que fizemos foi generalizar a experiência de mau gosto do teatro naturalista em sua frustrada tentativa de morder o próprio rabo, isto é, reificar a imagem da realidade.
Se vimos com Stanislavski a descoberta de uma interiorização da cena, de um aperfeiçoamento da atuação com o teatro dos estados de alma proporcionado pela dramaturgia tchekhoviana, com Meyerhold podemos ir além definindo em Tchekhov diferentes experiências de dramaturgia que demonstram o refinamento e a conquista segura de uma dramaturgia que levantaria problemas definitivos para moderna concepção da arte teatral.
Se A. Tchekhov firmou sua revolução em conquistas da técnica literária, em recursos dramatúrgicos, também Meyerhold, ao que parece, voltou para a conquista de uma estética de uma encenação firmada a partir do desenvolvimento de uma linguagem e seus recursos.
Para Meyerhold o tempo é precioso. Não se trata de um enunciado banal quando passamos a compreende-lo articulado às palavras de A. Tchekhov, que trata de cena como de uma passagem de uma peça musical, um pianíssimo.
Sem dúvida o contato com Tchekhov e a observação deste contato do dramaturgo com os atores que teriam captado essa musicalidade tchekhoviana, levariam Meyerhold à concepção rítmica que será uma de suas concepções criativas mais importantes para a sua apropriação na contemporaneidade.
O segredo dos estados de alma tchekhovianos reside no ritmo de sua linguagem.
Nesse sentido, a configuração geral, a articulação dos recursos que constituirá o campo estético em que se insere o corpo do ator, no qual o corpo se expressa enquanto ritmo, trata-se de algo bastante distinto desse conjunto essencial que ele critica na encenação naturalista.
A unidade criticada por Meyerhold parece similar à unidade do narrador, justamente o recurso que foi a pedra de toque da revolução literária russa, enquanto a unidade proposta pelo encenador seria aquela que possibilitasse a definição de uma linguagem teatral propriamente dita.

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