21 maio 2009


universidade da floresta

há um debate entre os docentes do curso de formação indígena em torno da questão da competência/proficiência no idioma oficial por parte dos usuários indígenas ou mesmo, do uso indígena do idioma brasileiro;

nossos idiomas

há uma concepção de língua que vem sendo construída a duras penas numa sociedade preconceituosa, que vive em função da sua desigualdade constitutiva;
essa concepção de língua a que me refiro procura minimamente dar conta da diversidade lingüística que nos constitui;
essa língua diversificada bateu de frente com nossa velha imagem da língua e de seu ensino, a qual tem procedência histórica em nossa figura do bacharel, do conselheiro acácio, dos filhos das oligarquias que impressionam os eleitores com seu 'bom' português;

como se percebe, o problema sócio-político e a questão da subjetivação via linguagem se articulam de maneira complexa, passando longe da simplicidade com que é encarado por algumas soluções tecnicistas;
se esse consiste num problema complexo dentro da própria língua portuguesa, que pode muito bem ser ignorado se nossa preocupação se restringe à elaboração de projetos (ignorando todo o contexto que envolve as línguas e seu ensino escolar), imagine-se então quando se entra no contexto do bilingüismo;
quando trato que a questão requer uma leitura especializada, não restringir o assunto aos especialistas, mas solicitar uma maior complexidade, mais variáveis e menos pressupostos, estes um problema principal de uma leitura leiga e etnocêntrica do assunto;

dos pressupostos arrogados pela parte referida, os pressupostos políticos do etnocentrismo já foram desconstruídos por outros autores;
na imagem do índio empresário, própria dos meios criados pelo estado e pelo mercado de projetos para viabilizar a gestão das terras indígenas, não pode ser tomada como ponto pacífico, objetivo ou pressuposto;
penso que essa imagem deve ser problematizada como processo de subjetivação colocado ao lado de outros processos de subjetivação, em lugar de ser tomado como pressuposto;


é sintomático, portanto, que a estratégia (caso de grande parte das teorias do discurso de referência atualmente) de absorver a força da noção de discurso e da teoria do enunciado foucaultiana, que resulta de sua acurada pesquisa epistemológica, seja tomá-la tecnicamente, isto é, desarticulada de suas dimensões sociais e políticas, as quais as teorias da linguagem e, especificamente, a lingüística, têm imensa dificuldade em considerar, dado seu alinhamento estratégico às ciências duras;
ao tomá-las tecnicamente, como ferramenta de análise meramente formal, essas pseudo-teorias do discurso servem a um mercado de técnicos que precisam adaptar o discurso (e amansá-lo) ao quadro da ciência régia em vigor;


penso que é necessário compreender o que se passa numa área de conhecimento, pois muitas vezes o ponto de vista do leigo se diferencia daquele do especialista que atua e milita na área de conhecimento;


tendo sempre como ponto pacífico o diálogo de conhecimentos, penso que quando distinguo entre concepções diversas de língua, não estou lançando mão de um juízo de valores, e sim, contextualizando conflitos iminentes que compõem o campo de conhecimentos que estamos adentrando;

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