21 maio 2009


morrer de medo ou morrer de rir

os modernistas riram do problema;
para eles, uma risada com dentes vale tanto quanto uma risada banguela;
sua crítica incide sobre o próprio plano de imanência;
ao se levar a sério a questão dos valores, já se empreendeu um plano determinado, um plano referenciado por valores determinados;
isto é, o problema está ao nível do próprio plano;
portanto não adianta levar a questão para ser discutida na universidade ou no tribunal, não se trata de ter uma boa performance para a escritura de um projeto etc se o problema incide no plano de imanência;
daí uma investida irreverente, uma investida revolucionária no plano de imanência;
certo que se confundiu essa atitude vanguarda (que de fato deve levar a um non sense) com a onipotência da mercadoria que passou a dominar as relações de sentido e redefiniu o que era tomado até então como plano de imanência;

não se trata de reiterar o fetiche da mercadoria;
a linguagem não é (apenas) uma festa black tie, que todos almejamos consumir;
nos somos responsáveis pela criação de outras imagens da linguagem e do conhecimento, a menos que queiramos de fato seguir reproduzindo os valores disseminados como imagem definitiva e homogênea da linguagem e do conhecimento;

trata-se de um trabalho criativo que nem todos estarão dispostos a fazer, isto é certo;
burocratas, intelectuais de estado este sempre houveram e continuarão a existir para cumprir sua função;
qual é essa função, não sei ao certo;
acredito que tampouco eles o saibam, ainda que o façam;
trata-se antes de um devir-revolucionário que de uma revolução;
não se trata da luta pelo poder, da luta pelo estado, da disputa pelas rédeas do jogo;
trata-se, talvez, de uma luta pela potência, pela liberdade das instâncias de controle, pela prática dessa liberdade;

ao levar a sério já perdi o jogo, já fui capturado num plano de imanência fechado em valores pressupostos;
levar a sério já consiste em cair na prática revolucionária, de entrar numa relação de inquérito, visto que o revolucionário será projetado como réu, posto a prestar explicações, colocado em posição inimigo de estado, de ameaça pública, de renegado, de terrorista;
levar a sério esse tribunal ou morrer de rir a vontade de verdade dos inquisidores;
muitas vezes deleuze é colocado nessa cadeira de réu e assume satisfeito essa posição;
nietzsche, mais irreverente, ri de tudo isso, satiriza a intenção de se fazer dele responsável ou irresponsável por alguma coisa;
não sente culpa pelo que cria ou escreve;

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