07 maio 2009


essa desterritorialização da socialidade indígena pode se estender ainda às relações de afinidade que ultrapassam os limites ocidentais que estabelecemos para a esfera do humano;
as fronteiras do humano aqui não são tão fixas quanto nos parecem;
o humano tem caráter intensivo antes de um caráter propriamente extensivo como propomos;
o humano está em mim, atravessa-me;
eu não detenho ou mesmo determino o que seja o humano;
o mesmo vale para os animais que não fazem mas que manifestar (por seu corpo) o que seja uma afecção-onça, afecção-queixada ou afecção-jibóia;
a afecção-jibóia atravessa mesmo a bebida ayahuasca, seja pela similaridade com o cipó, com os cantos ou mesmo por suas linhas;
cada animal (uns mais que os outros, algumas situações mais que as outras) tem seu mistério, seu encanto;
por isso cantar os cantos dos animais, cantos que se referem aos animais, às suas relações entre si, relações de predação entre outras (como nessa cantoria huni kuin);
o cipó é momento privilegiado de tráfego entre afecções;
essas experiências são especialmente interessantes para enfocar a dinâmica de desterritorialização desse pensamento e suas práticas de subjetivação;
saímos das relações de parentesco que visam definir padrões de socialidade de populações nativas, para enfocar um regime de relações e uma imagem do conhecimento que circunscreve e redimensiona nossa pretensa onis-ciência;
já não se trata, pretensiosamente, de enquadrar essas sociedades ou socialidades em nossos esquemas, de descreve-las objetivamente numa etnocêntrica imagem do conhecimento;
trata-se de proliferar possíveis, de lidar com multiplicidades, de definir exterioridades ao nosso pensamento, de imaginá-lo como exterioridade, como fora;
a linha limite serve justamente para reconfigurar essa imagem territorial;
a linha não divide interioridade/exterioridade, é sobre a linha que se dá o movimento, o acontecimento;
a linha desliza redefinindo o limite, desterritorializando;

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