11 novembro 2008


carece-se de certa rapidez para se ser professor de professores;
professores não são alunos como outros quaisquer;
eles não ficam fixos na posição de discípulos;
assemelha-se a algo como lançar um flecha e pegá-la no ar;
isso porque se projeta a aula num plano de transcendência em que as posições estão fixas e definidas: professor e alunos, conteúdo e forma da aula;
a rapidez se dá na troca de posições, na capacidade de sair do lugar de professor para que eles possam ocupá-lo e produzir conhecimento;
portanto, na passagem desse plano de transcendência para um pano de imanência em que se atualize o acontecimento;
fazer a história ou o canto se atualizarem como rito, como acontecimento;
o exercício de liberdade consiste em desmistificar essa fixidez da posição, a estigmatização de que se formar pode equivaler a reduzir-se a uma posição que nos tolha de participar no processo de produção de conhecimento que define a aula, o acontecimento-aula;
esse devir em abismo dá velocidade ao movimento;
formar-se aqui então tem menos a ver com apreender idéias e mais com vivenciar experiências de docência;
o interesse em torno de tais experiências de docência se deve ao caráter horizontal que abole a figura do aluno-receptor;

quando se trata de uma turma de professores indígenas a experiência adquire outra complexidade;
primeiro porque o próprio valor do conhecimento [no caso, do idioma do conquistador] precisa encontrar circulação na atual economia de saberes dos povos indígenas;
seu processo de organização para a resistência, mesmo quando desacreditado como forma renovada da velha submissão, acaba dando o tom ou o critério de valores;
certo que o projeto político-pedagógico possibilita a criação de um campo em que o conhecimento será investido de valor, campo em que os valores que lhe são praticamente inerentes ganham certa relatividade, visto que minimamente podem ser inseridos na perspectiva histórico-social dos colonizados;
o conhecimento e a escola são furtados de seu caráter abstrato ou mesmo alienado, sua tendência estatal ao mercado da exploração de mão-de-obra barata;
em lugar disso se coloca e se questiona o projeto de futuro da comunidade;
a comunidade precisa se colocar frente a frente com seu futuro, ainda que isso se possibilite numa sociedade maníaca por controle justamente por conta da promoção e popularização dos processos de gestão, proporcionada pelo capitalismo globalizado;

situando o saber no eixo dessa mínima possibilidade de relativização, ainda que nos tornemos vítimas de outro processo, o de reificação da cultura, de investimento numa concepção de cultura que sirva justamente o regime de valores do mercado, justamente o que pode justificar a identificação do movimento pró-cultura do povos indígenas como uma outra estratégia para prolongar a relação com o outro, mais que um movimento de auto-reconhecimento e auto-afirmação;
com isso, ganha-se mais algum tempo e, de quebra, libera-se da concepção errônea de uma óbvia ou unânime auto-preservação cultural, derivada da idéia igualmente óbvia de autoconsciência cultural;


se a aula tem se problematizado como aula-acontecimento, como processo horizontal de práticas de conhecimento e construção de saberes-valores, a pesquisa se constitui de forma interessante na relação pesquisador/pesquisado;
ainda não se tem noção clara de que se está simulando a pesquisa e de que a pesquisa a se realizar nas comunidades através dos professores consiste concomitantemente no projeto pedagógico da disciplina;
nisso consiste a condição de pesquisador-pesquisado;
outros elementos devem entrar [como o audiovisual] para tornar mais complexa essa dinâmica;

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