29 outubro 2008

o caso é que o perspectivismo depende de um dualismo fundamental;
ignora estrategicamente e esquematicamente a diversidade de imagens que conflitam no pensamento ocidental [isto, para sabotá-lo];
ainda que seja essa diversidade de imagens do pensamento, pressuposta num pensamento como o de deleuze, que torna possível a contra-ontologia perspectivista;
é esse conflito de relações que strathern vai enfrentar, ainda com a abordagem maussiana das categorias nativas [viveiros de castro trata de pensamento, epistemologia, ontologia] em relação às nossas categorias;
de um lado ela ganha em multiplicar a 'identidade' das categorias, vislumbrar outras dimensões numa dinâmica relacional;
as categorias deixam de ser imaginadas substantivamente, de forma extensiva, para ganhar uma imagem conceitual intensiva, um corpo-sem-órgãos, um campo de pura intensidade atualizado nas relações;
focar a relação dessas categorias em lugar de cristalizá-las, libera uma diversidade de 'sentidos' ou apropriações políticas para uma mesma categorias;
os dualismos provisórios servem para por em relação, abrir tais zonas de 'sentido' ou apropriações políticas para as categorias, dos conceitos, dos enunciados;

são muitas as imagens do pensamento, urge nos apropriarmos delas estrategicamente, em lugar de se deixar capturar por imagens ou miragens do pensamento 'maiores' ou 'menores';
as imagens do pensamento, assim como seus conceitos e sua dinâmica, estão em relação de pressuposição recíproca com projetos políticos determinados, posicionados por sua vez em relação a uma rede complexa [ou nem tanto] de interesses;
trata-se fundamentalmente de dois projeto políticos;
um, em histórica vantagem, consiste no projeto 'maior', implementado pelas elites colonizadoras na constituição do liberalismo republicano;
o outro, resulta basicamente da resistência a esse modelo, resistência minoritária que já garantiu por vezes a sobrevivência dos povos indígenas como diferença e voz dissonante no coro dos contentes da pátria;
a diversidade de estratégias aqui se dá tanto pela tradição colonial de concentração do poder e de submissão da maioria, como pela própria natureza do estado que, seja democrático como autoritário, serve para garantir a conservação da ordem e das leis que a conservam;
o que se vê então é o aparato democrático com seus representantes e suas leis sendo grosseiramente utilizado para defender o interesses daqueles que permitiram que ele se constituísse;
esse aparato não está investido de força pública para questionar essa ordem, ele vem sim restabelecê-la reformada e palatável, sustentando a desigualdade gritante nas leis da democracia neoliberal;
valores democráticos e participativos são disseminados com a intenção de promover um liberalismo onipotente, que perpetue a ordem, que não possibilite ou permita rupturas revolucionárias, ou revoltando-se mesmo contra justiças sociais institucionalizadas;



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