29 outubro 2008

a idéia de um outrora da mitologia ameríndia não se refere necessariamente ao nosso passado mítico, projetado por uma cultura formatada a partir de uma dinâmica temporal referenciada no passado, na evolução, o progresso, na fusão entre mito e história conformada na bíblia e em sua apropriação literal;
esse outrora, característico por essa animalidade-humanidade generalizada, refere-se antes a um tempo paralelo e virtual que eventualmente pode ser atualizado por meio dos procedimento e dispositivos de diferencialidade próprios às práticas indígenas de conhecimento;
essas práticas indígenas de conhecimento, por diversos motivos são consideradas como anti-ciência por nossa concepção de conhecimento e de socialidade;
cabe a nós, etnólogos do pensamento [e das práticas de aprendizagem] indígena formular estratégias, dar chance à emergência de [tais] práticas de diferenciação que desloquem as referências de nossas práticas de redução aos denominadores comuns;
isso só será possível a parir de uma concepção ou imaginação de possíveis antropologias indígenas, de suas possíveis teorias da relação e da diferença enquanto produtora de socialidade;

não se trata a mitologia indígena como um processo histórico ou evolutivo, seu ponto de virada, a passagem para o atual ou o senso comum ou a normalidade é justamente um mero pretexto epistêmico para se situar a virtualidade do que está consensuado;
esse virtual está mais para um mais real ou um quase real do que para um era uma vez passado;
a noção de com a mitologia ameríndia se projeta numa concepção de tempo e realidade, constrói com o mito e seus rituais um impressão de realidade, uma ontologia e uma epistemologia é bem diferente da forma com que nos apropriamos da mitologia para nosso trabalho de unificação da realidade seja em um deus único ou numa natureza que sustentaria uma ciência una e um estado idem;
duas concepções ou duas apropriações da mitologia, dois mundos e dois sistemas de conhecimento;

para a elaboração de uma antropologia indígena que permita trabalhar um conhecimento indígena a ser colocado em relação ao nosso, contra o nosso, que problematize o nosso conhecimento, será importante um questionamento dessas diversas concepções do mito que ultrapassem o dualismo provisório colocando em questão pressupostos e questões tomadas como ponto pacífico;

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