17 setembro 2008



sobre certos enunciados 'indígenas'
não se confunde consciência e agenciamento, não se trata de conscientizar um campesinato alienado;
outros tempos outros [e mesmos] problemas;
também não se trata de exigir anacronicamente direitos, num situação de compassivos, de dignitários da compaixão, do assistencialismo;
supondo: e se não for o caso, e se não se tratar enfim de uma questão de barganha, manha sempre atualizada no populismo escroto que dominou a política indigenista/indígena;
afinal, as lideranças indígenas aprendem como devem ser políticos nos critérios de nossa representatividade, de nossos fluxos de poder;
afinal, definimos [ou seja, convencemos] as lideranças indígenas como talento para a diplomacia;

falar ou repetir o que foi ensinado pelo branco, aquilo que foi ensignado pelo professor, que foi balizado, determinado pelo branco;
afinal é nisso que definimos educação, não só educação como pensamento;
questionar a partir daí é tabu;
a partir daí coloca-se o problema do caráter político do pensamento, o problema de sua origem na dogmática do monoteísmo, no professor universal;
e assim, circunscrito nessa imagem do pensamento, não se pode questionar as bases do conhecimento ocidental, seus valores, seus princípios, seus pressupostos;
sem questionar [ou seja, aceitando e se submetendo a] tais pressupostos, o pensamento, o conhecimento, a aprendizagem não podem ser apropriados e utilizados em função de linhas de fuga que atravessem e desconstruam esse pensamento único, que se imagina absoluto, tal como o estado e o capitalismo;

no entanto, esse questionamento interessa para muito além de seu 'conteúdo';
enquanto método, enquanto processo, enquanto prática interessa essa problematização;
pois a maneira de se absolutizar [e de passar tal absolutização imperceptível sob nossos olhos e entre nossos corpos] do pensamento de tradição ocidental se define a enquanto plano de transcendência;
esse plano de transcendência distingue os campos e circuitos dos corpos e dos signos, devidamente distintos como reza a tradição representacional;

um plano de imanência vem justamente dobrar, definir o diagrama em que se detecta os pontos que escapam ao policiamento do pensamento, ponto em que se tornam indiscerníveis essas instâncias;

assim como diz viveiros de castro a respeito do projeto etnografia e modelos analíticos: a essência do problema era como construir um modelo teórico capaz de operar sem a separação entre o simbólico e o real, permitindo que se descrevessem as redes sociais empíricas juntamente com o conjunto de relações cosmológicas;

o que está determinado na ensinança definida nos pressupostos da educação de estado é o lugar único, o ponto de referência de onde se fala, de onde se enuncia;
outros pontos de vista pressupõem outras imaginações, direcionadas à liberdade, à proliferação de possíveis mais que a perpétua constatação de uma verdade única e absoluta;
no entanto, essa verdade absoluta não pode circunscrever esses outros possíveis;

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