03 setembro 2008



aí é que está: um história dos homens infames não consiste em alargar a jurisdição da história, consiste numa mutação intensiva, em mudar a natureza daquilo que entendemos como história, ou seja, modificar o próprio pensamento que pressupõe a história, a própria imagem da verdade pressuposta na história;
já se trata de uma outra história, que implica numa outra concepção de história, num modo diverso de operar a história e numa outra função a ser desempenhada pela história, ainda que uma contra-função;
de sua função de ciência régia, de investimento absoluto sobre a doxa, é despistado pela figura do discurso, do enunciado, que redefinem a relação simplificada do representacionismo positivista;
de um valor estritamente histórico, as falas dos militares na ditadura passam a se revestir de um valor discursivo, que opera melhor no jogo complexo dos possíveis, em que a distinção entre história e literatura é borrada pela noção de discurso;
sua violência determinista, positivista etc é tão mais forte quanto mais indefinida se comprova ser a variedade de posições ou de possíveis afirmada pelos subversivos;
o combate de fato é menos contra uma força revolucionária organizada em torno de uma causa, de um partido, de uma doutrina, e mais um combate contra a diversidade, a multiplicidade, a singularidade, combate este que se dava muito além dos combates militares, das sessões de tortura de dissidentes, da censura à mídia, e que se constituía mesmo como política subjetiva de doutrinação nacionalista, de um projeto de homogeneização que definisse a apatia política das próximas décadas em favor de uma liberalização reacionária sempre crescente, em consonância com as ordens dos aliados de guerra do norte;

uma história dos homens infames
as histórias possíveis já não são mais a história, pelo menos já não são história como se entende que seja a história, a história detentora da totalidade e da autoridade do acontecimento, com seus compromissos epistêmicos;
a reformulação da imagem da história pressupõe ou implica uma reconfiguração a imagem da verdade ou do próprio pensamento;
a tensão entre determinismo positivo e a complexidade dos possíveis vai além da história atingir a imagem do pensamento centrada tradicionalmente na consensualidade e na convergência;
a história será, portanto, um carro-chefe na reformulação, como o é na manutenção, de uma imagem do pensamento;

daí a tarefa da antropologia e da política de formular um pensamento dos possíveis contraposto à ciência régia identificada na doxa e na sua consensualidade;

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