03 setembro 2008



o regime seringalista opera a partir de dois dispositivos centrais: o pagamento da renda pelas estradas de seringa, que eram administradas pelo seringalista, e o barracão, onde este detinha o monopólio do consumo de produtos industrializados, dado que aos seringueiros era proibido o cultivo de alimentos;
a organização dessa classe se deu por meio das cooperativas, que surgiram como alternativa em meio à mobilização estimulada pelos sindicatos de produtores rurais e da categoria;
as cooperativas não só quebraram o monopólio do barracão, elas questionaram, a legitimidade da propriedade de terra conforme o sistema seringalista;
esse ponto de conflito foi resolvido com as gordas indenizações do estado, velho parceiro dos seringalistas na idealização do sistema e na exploração dos soldados da borracha;
diante da legitimidade que já alcançavam as leis trabalhistas e os movimentos de trabalhadores, era insustentável, mesmo em meio à floresta amazônica e com o apoio das classes privilegiadas e mantidas por esse sistema, a sua sustentação;
o valor positivo da floresta, organizado no discurso da ecologia, e a problemática do socioambientalismo, ignorada pelas décadas de desenvolvimentismo militar, projetaram chico mendes como símbolo de um novo segmento da nova democracia;

os índios acreanos, seringueiros, embarcaram na estratégia dos outros seringueiros, que estavam fazendo valer leis trabalhistas jé legitimadas em todo o país e diante de um sistema em plena decadência tanto econômica, como política e social;
essas pessoas já tinham um valor social e um valor enquanto mercado de consumo que superava sua produção no extrativismo do látex, em franca decadência;

no entanto, o direcionamento das colocações e seringais habitadas por indígena era outro, a funai chegava ao acre e reconhecia essas etnias demarcando terras indígenas no estado;
com a morte anunciada da economia do látex, os barracões, que resultavam de investimentos de projetos, com forte apelo político, de promoção da 'sustentabilidade', não se sustentavam mais numa economia não monetária e as fontes de renda passaram a ser novo projeto social dos movimentos;
de fato, o legado deixado pela máquina seringalista em seus últimos suspiros antes do golpe do mercado internacional foi um pesado fardo que ainda hoje desnorteia as sociedades tradicionais com a cultura do barracão, do consumo, do dinheiro, do salário, em que os valores da sustentabilidade se rendem aos apelos do valor de mercado, do emprego, da concorrência etc;
os poderes locais, na inércia do regime seringalista e suas relações, fazem convergir a máquina do estado para essas mesmas relações, dando seguimento aos valores desenvolvimentistas e à ordem liberal da ditadura militar;

Visitor Map
Create your own visitor map!