17 setembro 2008



o modelo de participação, de representação, de individuação das opiniões, modelo da consciência está baseado na fala, numa fala apodrecida, que percebe o humano como indivíduo, para a qual o melhor mesmo é o humano se restringir ao individual, para um melhor controle e uma melhor intelecção ou entendimento [sempre segundo determinada imagem do pensamento, o que visa por sua vez reproduzi-la ou perpetuá-la];

o modelo da consciência reduz, neutraliza e aniquila com a potência do agenciamento coletivo de enunciação;
despedaça com ele, isola-o, desbarata-o sobretudo com o efeito dos sistemas de onipotência/onipresença como a igreja ou o estado;

a perspectiva dialética ainda é uma perspectiva de estado, presa a uma idéia de justiça histórica que cumpre ao estado reparar, que encontra reparação no estado;
é no campo do estado, no âmbito de suas instituições que essa justiça maneja seus valores;
escapar aos direitos, à justiça, ao bem, à ordem e aos benefícios do estado [eis algo não admissível, e talvez por isso interessante, nas regras pré-estabelecidas pelo estado], enfim, escapar aos valores dos estado, não tocar nessa questão delicada, tabu, ao mesmo tempo intocável e a partir do qual se define uma interlocução propriamente indígena;
afinal, não se trata simplesmente de individualizar as opiniões para querer enquadrá-las no direito intelectual, transformar essa doxa mais ocidental que indígena em produto de mercado;
conservar-se e explorar mais o mito [como agenciamento coletivo de enunciação pode ter mais a nos dizer] em lugar de buscar 'libertar-se' em nossos campos discursivos loteados com os arames farpados das palavras de ordem com sua hierarquia pressupostas;
nossas palavras não permitem liberdade, nosso discurso permite tudo menos liberdade;
a palavra e seus circuitos, campos em que ela se reveste de valor de troca, são determinado e determinantes;

o caráter polêmico da questão [que podemos chamar de genealógica] está em que onde termina nosso plano de transcendência, nosso exprimível, é aí que começa a questão indígena;
a marca consiste no tabu estabelecido por esse discurso, a partir do qual se coloca a questão indígena do poder, a questão do poder indígena expressa em seus agenciamentos coletivos de enunciação, contraposta ao discurso de poder do estado;
o tabu está sustentado na contradição de uma constituição que reconhece os direitos de outros povos, não tanta contradição desde que mantidos tutelados;
não se trata de uma questão de direito, de compaixão ou de justiça histórica, todos dispositivos que fazem inserir no circuito os mesmos valores ou esquemas valorativos ocidentais;

parece haver aí um atrelamento que só se deixa denunciar pela perniciosidade da individuação como palavra de ordem, como necessidade, como imagem obrigatória do sujeito, que para operar deve se constituir ou subjetivar como individualidade;
um atrelamento entre genealogia e agenciamento coletivo de enunciação;
à medida em que se coloca em questão a ordem dos valores dogmatizados desde os tempos em que o discurso oficial, o discurso do estado vinha investido de misticismo monoteísta;
o agenciamento de enunciação se desdobra como possibilidade de um fora em relação à onipresença típica do estado;

a forma de se abordar a história pela busca anacrônica por direitos persiste como vontade de protagonizar esse dispositivo de estado, esse intensificador de poder;
sair da história equivale a sair do estado, neutralizar sua pretensa onipotência/onipresença;

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