12 agosto 2008



reduzir a antropologia às formas imaginadas pelo direito e suas leis consiste em reduzir o mais libertária das imaginações no mais conservador dos pensamentos;
o que poderá ser feito será antropologizar o direito, nossa idéia de leis, de normas, de moral, de valores, de costumes, de controle social, de liberdade individual;
isso porque a antropologia consistiu na linha de fuga [ao lado das concepções de linguagem e da arte das subjetividades liberadas em articulação com as novas imagens do conhecimento experimentadas pela filosofia e a epistemologia] às imaginações deterministas da história do progresso como extensão de uma biologia da evolução;
voltar-se para a ciência das leis em busca do poder necessário para combater com os setores conservadores da sociedade parece um movimento certo e óbvio;
isso porque insistimos em legitimar o frágil discurso da democratização como saída para os problemas criados pela mesma combinação democracia-liberalismo;
a positividade das leis como possibilidade de mediação do estado em conflitos sociais acaba cegando [os antropólogos] para a economia do poder;
a antropologia deve ser o espaço por excelência do questionamento dessa universalidade que o direito atribui a si mesmo, da desconstrução do discurso positivo e da concepção autoritária de poder identificada ao estado;
no entanto, o que testemunhamos quase sempre é uma ingenuidade [sempre a um passo da má fé] que prefere apelar para o jogo do poder para garantir seus direitos e os direitos de seus interlocutores;
a única forma do poder imaginada aqui é a do altar jurídico nas mãos do qual se coloca a solução dos conflitos;
vira-se o rosto para o sem número de formas de resistência que não tem como objetivo conformar-se às leis, mas transfigura-las;
o direito não tem soluções para os conflitos e consiste num desastre que seja imaginado como uma instância que possa decidir baseada em valores transcendentes e universais;
em lugar disso, o direito pode se tornar um laboratório para a desconstrução de nossa tradição etnocêntrica e autoritária;
sua estreita relação com o positivismo e as formas mais conservadoras de pensar ocidentais nos permitirá desconstruir nossa imagem do poder centralizado, poder de estado;
isso possibilitará criar dispositivos que visem impermeabilizar os coletivos indígenas dessa tentação que são as leis e suas falsas soluções fáceis, pautando a organização desses coletivos no reforço de suas instituições e de sua própria dinâmica de poder;

Visitor Map
Create your own visitor map!