12 agosto 2008



quando se fala em imagem do pensamento como guerra ou campo semântico bélico, atualizo o rizoma com a argüição de maria cecília à minha dissertação;
depois de abrir a argüição e lembrar de meus tempos de aula, a educadora levanta uma bola, faz um belo cruzamento e me deixa cara a cara com o gol;
seleciona um enunciado e desse enunciado seleciona uma palavra: detona;
com sua sutileza, pergunta-me se não queria ter dito denota, que lhe parecera mais próprio, em lugar de detona;
é certo que numa argüição em que ela começara simulando uma iniciação indígena marcada no corpo, fazendo rizoma com as iniciações de inscrição descritas por clastres, estava proposta a abertura para a performance do texto, para sua apropriação no plano de imanência do evento;
respondi que a noção de detonação integrava-se melhor ao campo semântico da dissertação e do referencial teórico assumido: nietzsche, foucault, clastres, viveiros de castro, deleuze;
a pergunta capciosa refere-se à ruptura em que resulta minha travessia pelas sendas do imaginário neoplatônico daquela escola e seu referencial teórico: jung, eliade, durand;

o interesse sobre a questão da imagem do conhecimento como guerra remete a uma outra imagem do conhecimento marcada pela amizade, que consiste na imagem forjada pelos gregos, especialmente pela tradição platônica;
deleuze aborda essa questão em seu manual de uso da filosofia, quando coloca o problema da filosofia grega associada à amizade, colocando em cena personagens como o pretendente e o rival e seus desdobramentos na relação entre o modelo e as cópias;
essa imagem do conhecimento que se vai desdobrar na concepção de verdade marcada pela relação modelo-cópia;
para desequilibra-la, deleuze propõe a concepção de virtualidade/atualidade que atravessaria imperceptível a relação determinada e determinista modelo/cópia na configuração de uma certa imagem da verdade;
a relação virtual/atual lida com os possíveis de maneira distinta da modelo/cópia: enquanto esta pressupõe a unidade e a profundidade essencial [reduzindo os possíveis], aquela desliza na aparência dos efeitos de superfície da multiplicidade dos possíveis;
enquanto numa os possíveis são empecilhos à verdade, na outra os possíveis estão mais para potências sempre prontas a se atualizarem, a invadir o real;

esse deslocamento da imagem de conhecimento tradicionalmente platônica entendida como verdadeiro conhecimento aciona rizomas com as rupturas em relação à concepção essencialista da subjetividade;
em lugar de uma imagem da subjetividade que se define pela essência individual, o ser humano se configura menos como essência e mais como prática de subjetivação que trabalha a multiplicidade dos devires;
a linha musical da experiência ritual ou performática, em que se lançam os agenciamentos e as perspectivas proliferam atravessando o corpo;

por outro lado, o sem-lugar da guerra em nossa teoria da socialidade proporciona a abertura de um campo e a constituição de um plano que fará deslocar os pressupostos dessa sociologia de estado;
assim, coletivos em que a guerra consiste num dispositivo de socialidade e subjetivação dos mais importantes, em lugar de insistirem como modelos brabos escapando à sociologia positivista da evolução, passam a ser tomados como procedimentos de socialidade contemporâneos e resistentes à ordem centralizada do saber de estado que procura explica-los;
sociedades contra-estado desdobram-se no xamanismo como conhecimento contra-estado da multiplicidade;

é tanto possível como provável que estejamos tratando de práticas políticas em que o conhecimento se articula a processos de subjetivação que visam proliferar a multiplicidade perspectivista própria dessa outra imagem do conhecimento;
afinal, os dispositivos que com que estamos lidando visam programas de ação, linhas de fuga, propostas de gestão, práticas políticas etc num campo híbrido em que exercício do pensamento (teoria) e práticas se impactam mutuamente;
essas práticas interagem com a percepção dos aparelhos de captura que operam na manutenção do sistema de conhecimento ocidental e nas instituições com as quais ele se articula;
no entanto, essa percepção ou consciência não deve ser considerada com condição sine qua non;

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