03 julho 2008



uma estética da provocação;
que renuncie à aprovação do sujeito, à conservação da linguagem comum, cotidiana e utilitária;
que não vise o afago do ego, mas a pedrada e as cusparadas dos grupo de linchadores;
a renúncia a objetividades que não sejam a de entalhar as vaidades da autoimagem;
saber que a agressão só tem a ver com minha proposta estética, ou seja, que não propõe qualquer jogo erótico sadomasô;
tomar a violência em seu caráter afirmativo, com fim em si mesma, e não na dinâmica ressentida da justiça final;
meu exercício não de não ser eu, de contradizer minha autopiedade já arraigada nas reações imediatas do instinto;
não suplicar perdão e, assim, saber-se marginal, afirmar-se empecilho;
renunciar a toda normalidade e manter-se fora dos padrões e dos direitos de todos os que se consideram normais;
manter-se na berlinda da anormalidade sem se deixar capturar pelos aparelhos repressores;
quando capturado pelos aparelhos repressores, tratar de não indignar-se a não ser com claros objetivos estratégicos;
desde que não se corra o risco de renegar ao processo para se volte atrás;
de toda a poesia de vanguarda, talvez o que haja de mais significativo em seu processo de mercantilização sejam as vaias;
até as vaias consentem, aprovam a provocação;
daí o minimalismo, o imperceptível, o que não é feito para ser visto, para comunicar;
aquilo que consiste em corpos-sem-órgãos, em tocar intensidades;

***

o que significa suprimir [exercitar a supressão] ou renunciar à função comunicativa da linguagem;
significa experimentar o outrem, fazer a experiência do de robson crusoé, a experiência de suspender a relacionalidade;
não se trata de usar a linguagem em seu caráter referencial, ou melhor, trata-se de exercitar a supressão do caráter referencial e comunicativo da linguagem, para experimentá-la como um campo de intensidades que se dobra sobre si, como um plano de imanência;
é esse o uso poético da linguagem, ou seja, fazer coisas com a linguagem e não significar coisas;

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