04 julho 2008



a trama de conflitos e a rede de interesses nos possibilita enxergar melhor a função das palavras de ordem que falam de todo e nenhum lugar em nome de uma civilização da compaixão e do bem, da salvação e da verdade;
assessoramos os povos indígenas na construção de dispositivos híbridos que dêem conta de suas demandas de formação escolare técnica visando o respeito às tradições desses povos e uma convivência saudável e autônoma de resistência à sociedade capitalista;
trabalhamos com o direito à cultura indígena em contexto de educação escolar nas terras indígenas do acre e do juruá e lidando com as supostas forças que colocam em risco, das mais diversas maneiras, essas culturas procuramos uma postura neutra de estado que não se arrisque enfrentando problemas polêmicos ou arriscados;
inda mais em tempos de eleição...
enquanto isso nas mais diversas aldeias indígenas pelo brasil adentro, quem mais faz vítimas são os primeiros marketeiros da civilização, os missionários;

com sua velha retórica de palavras de ordem e moralidade universal, velhas e conhecidas facções evangélicas investem numa campanha articulada, autopromovendo-se porta-vozes de um problema da civilização brasileira;

que o diálogo seja aberto e que se coloque a nu e na lei o modo de ação desses supostos porta-vozes das crianças indígenas que foram por tantos séculos seu público-alvo de evangelização e civilização;
temos notícias de que nossos interlocutores em educação: lideranças, professores, coordenadores, agentes de saúde, agentes agroflorestais etc fazendo seu árduo trabalho de revitalização de seus povos nas mais diversas frentes: cultural, de conhecimentos, econômica, medicinal, mística etc como exercício de seu direito e dever constitucional ainda tem tido que conviver atônitos com as investidas estranhas desses intolerantes;
sua reação é de surpresa e confusão, haja vista conhecerem os direitos e deveres legais para com a manutenção de seu patrimônio cultural outorgados e trabalhados na forma de políticas públicas pelos próprios órgãos do estado: educação, saúde, produção, gestão ambiental;

como se não bastasse os esforços que esses ativistas culturais precisam fazer para chamar a atenção de seus povos para os preços ou conseqüências dos assédios da civilização capitalista, ainda tem que conviver com as mais diversas experiências de intolerância que tais missionários se pretendem no direito de fazer;

a sociedade brasileira que sabe do modo de ação dos missionários estrangeiros e brasileiros, numa atitude típica de país marcado pela ditadura militar, omite-se ao fazer um silêncio de apoio a essas atitudes que remontam aos tempos coloniais;

assim, a forma de atuação desses missionários e os juízos por eles emitidos em nome de suas instituições além de ferir os direitos constitucionais desses povos provoca conflitos cada vez maiores nas comunidades, visto que desde o fim da ditadura, com a nova constituição, as políticas públicas que atuam em parceria com os movimentos indígenas (de cada ti e por vezes de cada aldeia) possuem como uma de suas principais demandas a revitalização do patrimônio cultural entendido como práticas místicas que envolvem: nomeação de crianças, plantio, rituais fúnebres e grande numero de celebrações;

investindo seus missionários nativos do mesmo poder de intolerância que se auto-imputam, tais líderes ou pastores transferem as responsabilidades dos conflitos locais de intolerância religiosa aos próprios nativos, enquanto ganham campo de ação para exercerem sua caridade;

enfim, esses são alguns dos problemas com que temos convivido em nosso cotidiano de assessor em educação escolar indígena do estado do acre em cruzeiro do sul atuando aqui no juruá;

Visitor Map
Create your own visitor map!