04 julho 2008



o problema da hermenêutica seria um ponto de partida interessante;
isso devido a esse problema estar no cerne do conhecimento mágico e religioso;
essa articulação entre linguagem e conhecimento e sua relação com a tradição religiosa cristã consiste num problema central do pensamento nietzscheano;

no livro central do pensamento foucaultiano, as palavras e as coisas, trata-se ou define-se uma idade clássica da representação, em que o pensamento ocidental assume ou define sua concepção de linguagem;
esse texto pautará todos os principais conceitos da obra do autor, tais como sua noção de epistéme, de disciplina, normalização, verdade, interpretação, enunciado, discurso entre outros até suas obras finais sobre o problema da subjetivação;
trata-se do caráter vicário do signo que consiste numa herança do pensamento cristão da idade média ao pensamento laico da era moderna;
a linguagem tomada numa relação de representação da realidade, do mundo;
a idéia de que o mundo organizaria a linguagem atribuindo-lhe sentido;
essa concepção de linguagem define o caráter explicativo de nossa ciência, o qua exclui completamente de sua dinâmica noções como criatividade ou imaginação;

essa ciência descritivista e explicativa formulou uma imagem do mundo e uma idéia de verdade que propõe neutros e universais;

em antropologia este consiste num problema capital;
até por que, devido ao fato da antropologia se constituir como disciplina da ciência régia colônia antes de ser apropriada como conhecimento que se pretende libertário e crítico de suas origens e pressupostos, a antropologia reconhece a partir de determinado o corpo estranho do positivismo;
como espaço privilegiado para o questionamento dos limites políticos o conhecimento, da natureza política de uma epistême universal como proclamou [e ainda hoje proclama] o iluminismo;
como espaço privilegiado do debate epistemológico, a antropologia foi um dos campos que forneceu um dos melhores observatórios para a reformulação da imagem do conhecimento, da linguagem e da subjetividade do próprio homem ocidental;
ela possibilitou ao homem ocidental que ele se libertasse de si mesmo, de sua presença ostensiva;
isso por que na antropologia essa concepção positivista do conhecimento conheceu seu limite, a alteridade;
por isso considerarmos a genealogia da moral como o primeiro livro de antropologia, não para demarcar as fronteiras da disciplina da ciência régia, mas para marcar a antropologia como anti-disciplina, como forma de questionar a possibilidade de uma coexistência de antropologia e positivismo, associando assim a antropologia não a um tema [como acredita com convicção obsessiva o senso comum e seus afins] mas a um procedimento do pensamento, com uma concepção de linguagem e uma concepção de conhecimento que não compartilha de uma tradição do pensamento ocidental, especialmente um pensamento de estado, um pensamento oficial;

por aí, o problema não seria exatamente o da prática da etnografia, mas dos pressupostos sustentados por ela;
a concepção de linguagem descritivista vai numa direção oposta à concepção estética dessa antropologia que passa a considerar a forma como estruturante em relação ao conteúdo, que passa a ver na relação entre forma e conteúdo mais do que a simplicidade representacional e descritivista;

se, de um lado, o que se tem é essa concepção de uma linguagem passiva diante de um mundo determinado e uma função explicativa do conhecimento objetivista, de outro, afirma-se um construcionismo que vai assumir o caráter político do conhecimento e a gênese dinâmica da verdade, ou seja, uma concepção de linguagem como instrumento de construção de um mundo de possibilidades;
em lugar da história, o que se tem é o devir;
diante dessa antropologia, não há como o método histórico não evidenciar seu caráter evolutivo e etnocêntrico, determinista e parcial;



esse problema da generalização da linguagem informativa e comunicativa na educação consiste num dos problemas interessantes para se pensar a libertação do conhecimento como um projeto fundamental na reformulação do valores que devem pautar as relações humanas às margens do capitalismo, onde pretendemos cultiva-las;
essas outras relações humanas dependem dessas outras relações com o conhecimento;
respeitar a alteridade consiste em respeitar o conhecimento outro, algo inconcebível ao homem ocidental, de formação judaico-cristã;
nossa idéia de repeito é garantir a educação e o conhecimento a todo os povos;
mas à nossa forma, não a partir da apropriação que esses povos venham a fazer do nosso conhecimento;
portanto, universalizamos esse conhecimento, desde que ele seja para a reprodução da ocidentalidade;

é essa concepção do conhecimento como informação, como acesso a conteúdos, a concepção que está impregnada em nossa pobre concepção bancária de conhecimento como mercadoria a circular num meio em que o mais sábios são aqueles que colecionam, ou seja, que podem comprar e acumular mais informação;
se conhecimento como processo, transformação e devir não equivale à essa sua concepção teórica e abstrata, tampouco equivalerá à concepção utilitarista do saber técnico das competências de mercado;

a concepção informativa ou comunicativa da linguagem estagna o mundo com seus pressupostos;
em lugar da passividade de uma aprendizagem do consumo de informações, propõe-se um pensar que problematiza os próprios pressuposto do pensamento ocidental, pressupostos mais claros aos povos indígenas que a nós próprios, por consistirem em nossa alteridade;
em lugar de tomar como ponto de partida um mundo pré-definido a ser conhecido, toma-se como ponto de partida a problematização dessa pré-definição, o que nos libera para práticas e intervenções sobre mundos possíveis;
elaborar práticas comunicacionais e gestão comunicacional não significa fazer uso de palavras de ordem;
além do alvo ser outro: em lugar de afirmar outras supostas verdades, o que se quer é desconstruir o consensos articulados, não se trata de operar o mesmo uso da linguagem, fazendo uso das mesmas palavras de ordem, trata-se de proliferar agenciamentos de enunciação;
agenciamentos de enunciação valem menos por seu caráter comunicacional que por sua dinâmica criativa, por seus desdobramentos estéticos, pela apropriação poética da linguagem;
valem pelos mundos possíveis que apontam, não por sua força de [convencimento] convergência a um universo pressuposto;

por isso, ao trabalhar com os media como web e áudio-visuais, não se trata de convergir em informação sobre o mundo consensual das [consensuado pelas] mass-media, as mídias de massa, trata-se de operar com os agenciamentos de enunciação, com o caráter criativo dessas linguagens, e não com a reafirmação ou reprodução da relação de poder a que se quer contrapor;

Visitor Map
Create your own visitor map!