10 julho 2008



da profundidade tridimensional do palco do teatro metafísico o sujeito se projeta na superficialitude da bidimensão ou nas mais diversas dimensões dos jogos e desdobramentos enunciativos;
a enuncialidade redefine a topologia da subjetividade, trocando o corpo das almas monolíticas pelos fluxos pós-subjetivos ou pós-humanos explorados pela literatura como dos campos férteis na elaboração de uma imaginação não-positiva da subjetividade;
isso sabendo-se que não se trata da polarização entre arte e ciência com que a positividade busca estender sua pretensa onipresença;
não se trata de uma arte, de uma arte imaginada na chave da linguagem representativista do positivismo, mas de agenciamentos de enunciação em incessante recursividade;
trata-se portanto de experimentar os desdobramentos políticos do construtivismo em oposição ao projeto de medicalização e normalização da subjetividade que serve ao controle social da sociedade moderna emergente;
essa imagem da subjetividade produzida pela normalização no sentido de uma subjetividade idealizada é que abrirá o campo para o controle do mercado de subjetividades;

tanto sujeito quanto objeto se constituem como efeitos de discurso, são manejados politicamente como construções discursivas;
a noção de verdade corresponde à profundidade da essência pretendida na definição tradicional do sujeito;
no entanto, a desmontagem da noção de verdade não se assenta na história, esta uma das mais transcendentais dentre as construções discursivas;
reconstituir uma história que não ultrapassa a superfície discursiva, que não confunde os jogos enunciativos que configuram a paisagem epistêmica, consiste aqui na alternativa à própria história;
o que dá sentido é o campo discursivo em que se articulam os enunciados e não qualquer contexto externo aos jogos de linguagem;
a própria realidade externa aos enunciados consiste numa construção discursiva;
o autor do texto científico que trata com desdém o personagem e seus jogos enunciativos se vê tornar em personagem ao ver ruir as fronteiras que separam narrador e personagem, em que o autor passa a ser apropriado como construção de linguagem [que definem realidades] assim como a história e a ciência;
a partir daí os desdobramentos enunciativos e seus dispositivos passam a ocupar um campo de estudo de importância estratégica para formas de imaginar subjetividades;
essas formas de imaginar subjetividades outras, subjetividades que venham a se contrapor a esse projeto moderno de homogeneização e normalização da subjetividade passa a ser um objetivo das vias do conhecimento que conseguem escapar e propor imagens não-positivistas do conhecimento;
a antropologia se destaca nesse deslocamento da abordagem da subjetividade por fornecer preciosos agenciamentos enunciativos que não se confundam com a arte ou a comunicação;
por mais singularizante que seja a arte o espírito moderno a encurralou e transformou em mercadoria ao identifica-la a sua forma e a seus contextos;
por mais política que seja a prática de comunicação, o capitalismo moderno a apropria com as palavras de ordem e os consensos que configuram seu horizonte;

não cabe, portanto, definir as novas forma da subjetividade como quer o velho espírito modernizante da novidade;
cumpre desenhar as máquinas de guerra que possam proliferar essas subjetividades outras, atentando para os aparelhos de captura e estudando seu funcionamento;
os agenciamentos de enunciação são os dispositivos para a constituição dessas subjetividades ou desses processos de subjetivação;
em que esses agenciamentos não se confundem com a arte, a comunicação ou outros meios de expressão: por que eles não são meios de expressão, por que eles escapam à redução representativista da linguagem para trabalhar com uma concepção construcionista e intervencionista;
trata-se de deslocar a atenção da representação para as práticas subjetivas;
as práticas se justificam por constituir subjetividades mais que por sua veiculação de valores que ressoam no senso comum;
a educação passa assim a se perceber funcionando como formadora de subjetividades, mas funcionando como aparelho de captura para o controle social do estado ou o controle do mercado pelos investidores;
o teor moral que está no cerne religioso ou dogmático do discurso educacional e que portanto se articula com a nossa imagem do conhecimento visa o velho sujeito sujeitado à normalização;
o mesmo teor dogmático é utilizado para justificar a pan-mercantilização da subjetividade na educação profissional;
o problema da educação profissional consiste em seu caráter conservador que visa submeter a apropriação do conhecimento e a constituição de subjetividades ao mercado e não na utilização da razão como exercício da liberdade ou da autonomia;
o cúmulo são os cursos de gestão que possuem uma dimensão política e subjetiva fundamental, mas são apropriados para reforçar os valores capitalistas, suas formas de relacionamento e suas subjetividades;
os cursos de gestão pressupõem como palavras de ordem as relações de mercado e sua reprodução nas subjetividades;
isso é colocado na velha chave da sujeição a realidades pré-definidas que marca o conhecimento ocidental;
e o que significará trabalhar numa chave que inverta essa relação de sujeição ao poder do mercado, de trabalhar na chave da resistência através do estudo e da análise dos dispositivos de sujeição, o que nos fornecerá um horizonte de ação para a construção de máquinas de guerra para a constituição de subjetividades outras que não aquelas do modelo determinado pelo mercado e suas tendências de consumo;

o construcionismo consiste na chave epistêmica para combater o dispositivo que coordena esse poder de sujeição do mercado e seu modelo administrativo voltado à perpetuação desse mercado através dessa concepção de uma realidade pré-definida;
chamamos de construcionista uma forma de abordar o conhecimento que tem origem na epistemologia do século vinte, na abordagem dada pelo estruturalismo à linguagem e seu impacto sobre as imagens do sujeito e do objeto imaginados na tradição positivista que caracteriza a ciência chamada moderna;

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