10 junho 2008



quando se pensa em educação indígena diferenciada, o fluxo imaginal corre logo no sentido de apropriar nossas disciplinas e conteúdos à realidade indígena;
no entanto, a experiência de gestão [e vigilância] territorial tem dado lugar nas comunidades indígenas a uma figura bastante interessante para se imaginar uma educação desvinculada da disciplinariedade e todos os pressupostos subjetivos e palavras de ordem capitalísticas que ela carrega;
a figura do agente agroflorestal tem sido rapidamente apropriada pelo discurso tecnicista e tecnológico que situa essa categoria tanto enquanto processo de formação técnica e práticas subjetivantes, como categoria profissional reconhecida pelo funcionarismo estatal;
no entanto, o espaço criado pelo agente agroflorestal trabalha com elementos chave para o processo de homogeneização subjetiva do estado neoliberal;
alimentação: autonomia da indústria alimentícia, uma das mais fortes imposições culturais do capitalismo aos povos dos quatro cantos do mundo;
gestão territorial: relação diferenciada com o espaço e com a terra, desvinculada das divisões políticas dos municípios e estados, desvinculada da geopolítica capitalista de estado, retirada da terra do mercado e garantia de sua manutenção;
manejo de floresta: o manejo de floresta tem sido responsável por uma grande inserção do capitalismo na floresta e no discurso dos povos da floresta; grande parte das florestas públicas e das reservas extrativistas estão destinadas a passar pela lâmina do manejo madeireiro; os agentes estabelecem outras relações, relações não-capitalísticas e mesmo sagrada com as árvores, os alimentos;
manejo de caça: relação diferenciada com os animais; trabalho do xamanismo com as demais subjetividades que se proliferam no cosmos xamânico;
educação: há toda uma dimensão apropriada como educação ambiental que contrabandeia para o discurso dos agentes agroflorestais uma gama de conceitos e palavras de ordem; esse discurso precisaria ser desconstruído e analisado para separar o joio do trigo;
vigilância territorial: pode tender para uma experiência mais nômade de educação que não esteja presa ao culto do espaço escolar;
audiovisual: desenvolvimento de cursos filmados, atividades em mutirão ou na escola e diários de campo audiovisuais; a própria gerência indígena pode estar assumindo essa produção audiovisual de material;

o que interessa numa educação pensada a partir dessa experiência são as inúmeras possibilidades de desdobramento para práticas de subjetivação e práticas econômicas anti-capitalísticas;
pensar o trabalho o agente agroflorestal no contexto das práticas não-monetárias problematizadas pelo pingo em nossa conversa;
a partir das atividades proporcionadas pelas práticas de agrofloresta estudar o avesso desse processo de autonomização e os custos da facilidade capitalística e de seu circuito monetário que nos tornam dependentes do dinheiro e do trabalho/emprego, prática subjetivante capitalista por excelência;

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