10 junho 2008



para deleuze e guattari, o desejo não carece de nada, não porque possa atingir a plenitude de uma satisfação, mas porque a falta só pode ser pensada do ponto de vista de um sujeito, que se orienta pela cartografia de um ideal transcendente;
é esse sujeito que, ao ver sua figura desestabilizar-se pelos movimentos do desejo, o interpretará como sinal de uma carência de completude;
no entanto, se tiramos o ideal transcendente de cena e examinamos esses mesmos movimentos com a escuta sintonizada no corpo sem órgãos, aquilo que para o sujeito é falta revela-se como excesso de singularidades que transbordam e desmancham sua figura, levando-a a tornar-se outra, se o processo seguir seu curso;

a partir daí, a questão do desejo não mais se coloca em termos de uma escolha entre o possível e o impossível, mas sim de uma viabilização do trânsito em mão dupla entre o plano virtual das intensidades e o plano atual das formas;

deleuze e guattari examinam essa concepção de desejo, que o associa à falta e ao ideal transcendente, em muitas passagens de sua obra;
destaca-se o platô consagrado justamente ao corpo sem órgãos, em seu livro mil platôs, onde com seu humor eles afirmam que esse tipo de associação é coisa de 'padre';
seriam como maldições lançadas contra o desejo, por meio das quais ele é traído, arrancado de seu campo de imanência (o corpo sem órgãos), onde precisamente ele se define como processo de produção;


suely rolnik

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