17 junho 2008



eu não preciso ler jornais
mentir sozinho eu sou capaz
raul seixas


trata-se de se apropriar do conhecimento para explicar uma suposta realidade;
isto é palavra de ordem;
dizer: o mundo é assim;
nesse princípio de ideal transcendente se baseia, está matriciado não só nosso conhecimento como seu uso para a formatação de nossa subjetividade, que obedece ao mesmo princípio;
o próprio relativismo está definido a partir dessa concepção, desse uso da linguagem;
é por isso que o relativismo se faz tão potente quando no plano da representação, quando apoiado por um plano de transcendência, aquele que oculta seus pressupostos, que oculta como se produzem massivamente subjetividades para naturaliza-las em modelos biológicos travestidos de processos psicológicos;
quando se traz o relativismo para o plano de imanência, para o plano em que a linguagem constitui o discurso e assume a autoria dessa construção [em lugar de se ocultar disfarçada de neutralidade axiológica], para o plano em que o ideal transcendente se revela em sua função de dominar com suas leis a imanência, o relativismo se desmistifica por revelar seu compromisso com a abordagem histórico-transcendental do positivismo racionalista;
trata-se aqui, portanto, de uma outra abordagem da linguagem e da relação passiva entre linguagem e mundo;
de uma linguagem que opera no movimento do devir e não nos desdobramentos fantasmáticos do ser;
por isso a esse processo é inerente uma dinâmica desconstrucionista ou genealogista;
usar a linguagem para a fabricação de mundos possíveis equivale à desconstrução de valores que persistem na ação de conservar, de reafirmar incessantemente um mundo que é;
essa ação valorativa assume a forma de um sem número de agenciamentos de enunciação: enunciados, corpos etc;
a partir da identificação dessa característica crucial do modo de ação do conhecimento, de sua função opressora reconhecida no status social que eleva seus detentores, como propor um processo de desconstrução que seja ao mesmo tempo processo de subjetivação, ou seja, como escapar do plano armado pela ciência régia e suas palavras de ordem e ao mesmo tempo abrir linhas de fuga para possíveis diversos...
como propor agenciamentos de enunciação, como construir máquinas de guerra, como experimentar nossos córpos sem órgãos...
daí opera algo que não se limita à esfera da racionalidade técnica, algo que exige capacidades cultivadas como atenção, intuição, percepção, sensibilidade etc com as quais se deverá perceber em campo quais os problemas;
certo que para quem está habituado à desconstrução das forças que em nosso mundo da razão ocidental compõem subjetividades em afetos, percepções, idéias etc e/ou quem estuda ou está familiarizado com o conhecimento cultivado em uma tradição oral, xamânica, sensível às subjetividades não-humanas etc, ganha novos olhos e ouvidos;
a percepção desses agenciamentos, dessas máquinas de guerra, se dá tanto pela percepção de proposições criativas para impasses ocidentais como pela oposição a práticas que nos pareceriam naturais;
certamente não se trata de simples observação mas de um apuro do olhar, de um cultivo da intuição que resulta em muito de um enfrentamento contínuo na desconstrução dos consensos aceitos usualmente em nossa sociedades os quais vão desde os afetos que ligam e desligam as pessoas até o uso da língua;
tudo deve ser traduzido na linguagem dos valores e todos os fluxos axiológicos mapeados, todas as suas correntes estudadas e percebidas constantemente;
o processo é de incessante estranhamento numa constituição psicológica programada para acomodar ao máximo tudo;

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