05 junho 2008



dissociar a antropologia do passado


não se trata tanto de associar o objeto da antropologia ao passado, se para isso não se tratasse de associar a sua abordagem à abordagem do passado, a história;

portanto não se trata de abrir mão dos fatos, ocorrências, acontecimentos, de algo que possamos chamar de materialidade histórica, trata-se sim de levantar os pressupostos do método histórico arraigado no pensamento antropológico;
refletir sobre o valor argumentativo do passado, mas não em si e sim para a ciência régia de tradição positivista;
ao lado do passado refletir sobre os outros tempos e os outros objetos de temporalidade ofuscados pela ordem e disposição dos dados segundo o referencial historicista;

por isso não se trata de pensar essa tradição positivista da antropologia como um problema de conservadorismo ou modernização da disciplina, isso seria retornar o problema para um quadro referenciado pela concepção do tempo que configura a noção de modernidade e seus pressupostos evolucionistas;
trata-se, antes, na chave das abordagens foucaultianas, de levantar a articulação saber-poder que configura a antropologia nessa epistême, de definir sua função entre aparelho de captura de uma ciência régia e máquina de guerra de práticas nômades de subjetivação [inerentes a outras imagens do saber e da verdade que não as oficiais];

enfim, a noção de verdade com que se busca desconstruir a imagem do conhecimento da ciência régia frustra as espectativas de descrição, de fornecimento de informações, de neutralização das tensões próprias às práticas de produção de conhecimento em tais fronteiras políticas, de fornecimento de respostas no papel que não condizem com a realidade, enfim, a arte aqui será mais a de problematizar o que foi simplificado;
problematizar o que foi simplificado: problematizar o caráter descritivo das abordagens que geralmente sirvam para estabelecer critérios etnocêntricos, soluções definidas a partir de um único regime de valores, práticas que visam à constituição de subjetividades padrão da sociedade dominante, o pensamento homogeneizante implicado nessa simplificação;

a partir disso, trazer elementos que possibilitem a uma antropologia do futuro, o que implica não só uma revolução epistêmica como uma transvaloração;

Visitor Map
Create your own visitor map!