18 junho 2008



as três ecologias, no estabelecimento de seus pontos de referência cartográficos, precisam desprender-se dos paradigmas pseudo-científicos;
isso porque as três ecologias implicam uma lógica diferente daquela que rege a comunicação ordinária entre locutores e auditores e, simultaneamente, diferente da lógica que rege a inteligibilidade dos conjuntos discursivos e o encaixe indefinido dos campos de significação;
[...]
enquanto a lógica dos conjuntos discursivos se propõe limitar muito bem seus objetos, a lógica das intensidades, ou a eco-lógica, leva em conta apenas o movimento, a intensidade dos processos evolutivos;
o processo que aqui oponho ao sistema ou à estrutura, visa a existência em vias de, ao mesmo tempo, se constituir, se definir e se desterritorializar;
esses processos de 'se pôr a ser' dizem respeito apenas a certos subconjuntos expressivos que romperam com seus encaixes totalizantes e se puseram a trabalhar por conta própria e a subjugar seus conjuntos referenciais para se manifestar a título de indícios existenciais, de linha de fuga processual...
em cada foco existencial parcial as praxis ecológicas se esforçarão por detectar os vetores potenciais de subjetivação e de singularização;
em geral trata-se de algo que se coloca à ordem 'normal' das coisas - uma repetição contrariante, um dado intensivo que apela outra intensidades a fim de compor outras configurações existenciais;
tais vetores dissidentes se encontram relativamente destituídos de suas funções de denotação e de significação, para operar enquanto materiais existenciais descorporificados;

guattari, as três ecologias


em lugar de afirmar o que se percebe, o que já está definido no senso comum, em lugar de conservar o já sabido, trata-se antes de conhecer o que não é comum, desconstruir o que já se sabe, resultando em algo que possa dar lugar ao novo;
por isso não se trata de informar, mas de escapar do esquema comunicativo dos modelos explicativos conservadores da história, do jornalismo, da ciência;
trata-se de desconstruir esses discursos para, a partir dessa desconstrução, dar chances do novo escapar em linha de fuga, traçar linhas de fuga para o novo se constituir enquanto prática e não como idéia;

portanto, não se trata daquilo, tão valorizado na perspectiva científica conservadora, que se cristaliza numa forma e pode ser capturado na objetividade;
trata-se antes do movimento, que se associa mais apropriadamente às desvalorizadas imprecisões da subjetividade;

se são os processos de ruptura com os encaixes totalizantes dos modelos subjetivos que nos proporcionam o contato com essa lógica das intensidades própria à subjetivação proposta nas ecologias, os processos de resistência subjetiva indígenas nos proporcionam uma experiência sui generis com essas intensidades e os movimentos que as dispõem;
não se trata de cristalizar uma forma, uma falsa subjetividade indígena forjada a partir de nosso idealismo, trata-se de operar com práticas de subjetivação das quais se deduza essa lógica de intensidades que opera com movimentos em lugar de formas;

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