26 junho 2008


abrir perspectivas pelas quais se escape à uma imagem de educação que tenda ao senso comum, à imagem estabelecida pelo consenso;
nesse sentido, para a experiência particular/singular do juruá, já se constituíram agenciamentos de enunciação e agenciamentos processuais para a concepção de práticas de pesquisa, práticas de construção de conhecimento que escapem ao circuito oficial escola-universidade-laboratórios-empresas;
essas práticas de pesquisa estão associadas ao discurso combativo relacionado à biopirataria [e seu mercado jurídico] e remetem ao trabalho dos agentes agroflorestais nas comunidades;



os agenciamentos de enunciação foram proporcionados pela convergência dos debates em torno da biopirataria que ocorreram concomitantes às discussões sobre a universidade da floresta, isto é, a possibilidade e um conhecimento outro, proporcionadas pela possibilidade de um financiamento do estado para a região, uma extensão da universidade federal;
e o discurso dos conhecimentos dos povos tradicionais foi utilizado mais uma vez, desta vez para justificar uma suposta universidade popular [que no caso também não tinha sustentação política em práticas e sim em projetos e legislações], para legitimar políticas públicas em bases legais 'legítimas';
a semelhança de outros processos, a falta de uma base de sustentação em práticas de pesquisa e construção de conhecimento, no caso, levou a um descompasso entre o que se debateu, definiu e escreveu e aquilo que foi efetivado a partir das forças políticas que colocaram o projeto em ação;
o que se sucedeu foi que impera o jogo de forças de uma universidade convencional, dado que o projeto não foi construído em práticas políticas de conhecimento;
apesar de funcionar tão bem no papel, na prática constatou-se um projeto inviável na prática da política de conhecimento oficial;
nesse processo, constituiu-se um agenciamento de enunciação largamente experimentado pelos indígenas do juruá a respeito da pesquisa indígena em nível médio e superior;
a experiência com esse agenciamento de enunciação se deu tanto no contexto da elaboração do projeto da universidade da floresta, que teve diversos patrocinadores e interessados como o governo do estado e deputados federais e estaduais, como no contexto do debates sobre os conhecimentos tradicionais e seus direitos em torno da questão da biopirataria;
para tirar conclusões mais aprofundadas desse processo pode-se recorrer a um estudo mais detalhado do contexto do qual emergem esses dois acontecimentos;
tanto o fenômeno do mercado jurídico como do próprio mercado genético entre outros mercados que trouxeram a questão para a pauta do senso comum;
para uma abordagem crítica desse processo será crucial considerar esses interesses que envolvem a questão;



um suporte político para possíveis investimentos nesse campo foi efeito que esses debates tiveram no senso comum da opinião pública;
a possibilidade e a força jurídica que esse projeto teve e sua conseqüente aprovação fez com que, ainda que de forma um tanto folclórica, o tema chegasse ao domínio público;
a imagem de universidade da floresta se popularizou e proporcionou um clima propício para investimentos nesse sentido;
além do apoio popular e sua força política, a bem sucedida campanha dos deputados em torno da questão propicia um apoio parlamentar para tais investimentos;

pode ser interessante investir nesses agenciamentos visando indiretamente a escola, visando deslocar a imagem tradicional do ensino escolar;
esses espaços diferenciados, em que se debate a gestão do conhecimento a partir perspectivas não-escolares pode ser utilizado numa configuração/dinâmica outra [devir] do conhecimento escolar;
o modelo do ensino escolar é de uma opressão que dificilmente podemos enxergar a não ser que consigamos escapar dela;

por outro lado a pesquisa, a construção de uma imagem do conhecimento que suscite processos de subjetivação que venham a confrontar a imagem de um saber-poder homogêneo, consiste [como a experiência política brasileira contemporânea pode atestar] num norteador crucial de qualquer proposta de política cultural;
portanto, os povos indígenas não poderão se furtar, visando o amadurecimento de seu processo de afirmação política, de elaborar e desenvolver propostas de conhecimento [saber-poder] que se constituam em práticas de subjetivação;

a prática da pesquisa deverá menos informar, acumular informações e mais transfigurar linguagens, criar novas formas de escrever, novas inscrições, outras maneiras de dar forma ao material, explorar outros materiais;
daí o perigo de se cair numa prática de pesquisa que vise a reprodução de um mesmo campo de sentido, suprimindo sempre e mais a diferença no pesquisar;
daí o perigo das metodologias de pesquisa que visem uniformizar as práticas de construção de conhecimento;
daí a opressão de um 'fazer certo' que paira sobre e assombra as práticas escolares;
a criatividade da pesquisa precisa ser enfocada em detrimento da padronização de métodos;
o modelo pseudo-científico dar lugar ao processo artístico;
essa dinâmica se desdobra imediatamente em processos subjetivos, pois se troca um procedimento que visa a modelização e a padronização subjetiva por uma prática de pesquisa afim com processos de subjetivação, de autopoiesis;
daí a relação de conhecimento, a relação com o conhecimento desdobrar-se na forma de se conceber a subjetividade e, mais que isso, na forma de manipular com ela, de intervir nela, de construí-la;
não se trata de conhece-la na dinâmica do exame que a projeta como ideal transcendente, como forma acabada;
dessa forma, uma subjetividade viva, operando em devir, libera para uma experiência viva da cultura, em que esta igualmente libera sua forma pressuposta, acabada, conformada, para assumir igualmente seu devir, seu caráter processual;

uma prática de conhecimento efetivamente construcionista pressupõe a problematização de práticas políticas;
nossas práticas cotidianas estão assentadas em valores que dependem mutuamente delas;
rever valores equivale a rever práticas reprodutoras de valores;
se o conhecimento cumpre a função de informar, isto é, de reproduzir palavras de ordem, ou seja, de reafirmar os pressupostos em que se acentam os seus próprios campos de sentido, ele está inviabilizado para a prática do construcionismo;
portanto, para um conhecimento que minimamente se pretenda competentemente construcionista, deve-se circunscrever o discurso informacional [práticas de linguagem que visam a representação de uma suposta realidade] e caracterizar os seus efeitos;
circunscrevendo essa prática discursiva e seus efeitos poder-se-á começar então a definir usos para a linguagem, práticas discursivas que escapem a essa reiteração de pressupostos e de valores própria ás palavras de ordem;

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