26 junho 2008



a abertura democrática, nome que foi dado à devolução do poder pelos militares, aqui foi feita com o consentimento do governo americano, foi marcada pela definição de alguns setores que já se definiam no circuito fechado de uma economia globalizada, de um capitalismo mundial integrado;
para isso, inclusive, serviram as ditaduras latinoamericanas: para não se atrasar o processo político que vinha da colonização e visava culminar com essa generalização do liberalismo;
na constituição desse mercado, alguns visionários da política ambientalista vislumbraram no líder sindical chico mendes uma nova dimensão desse setor que poderia ser explorada na instituição de políticas públicas para aquecimento do mercado ambientalista;
tratava-se da dimensão humana do ambientalismo;
eram os seringueiros, por essa época já considerados ex-seringueiros, pois davam lugar ás frentes de expansão agropecuária que hoje mais que nunca vemos chegar por aqui e rapidamente vão mudando a paisagem da floresta com sua monocultura;
eram moradores da floresta, os resquícios da política de exploração da borracha que atravessara o século vinte;



esse elemento humano, assim pensavam os ambientalistas, viria a calhar com a associação desses semi-escravos do seringalismo aos povos indígenas;
foi o que foi feito: os seringueiros foram transformados em extrativistas, povo a viver em harmonia com a floresta, e o regime do seringal completamente desassociado de sua figura;





o elemento humano na política ambiental consiste num problema que remonta a uma questão crucial da redefinição epistêmica que marca a produção de conhecimento ao longo do século vinte;
o século dezenove é caracterizado pela ambigüidade;
de um lado, esse século define com o positivismo a política iluminista de uma ciência régia ou de um conhecimento de estado, ou seja, o estado se apropria do conhecimento no funcionamento de suas instituições de controle social e no processo de homogeneização subjetiva ou normalização do indivíduo ou cidadão patriota;
de outro, é esse memo século que proporciona elementos e perspectivas de ruptura com essa aprropriação conservadora do conhecimento e sua reprodução;
pois é no contexto de uma perspectiva de conhecimento conservadora que se configura o quadro epistêmico que investirá sentido na ciência régia responsabilizada pela definição das políticas de estado;
desse quadro epistêmico, por exemplo, descende as concepções que colocam em relação ou em oposição homem e natureza, bem de acordo com a lógica capitalista arraigada não só no pensamento positivista mas mesmo em todo o pensamento dessa tradição histórico-transcendental que se pauta por uma imagem mítica da evolução e do progresso;
segundo essa concepção, tudo que se volta contra as necessidades do capital vai contra esse mito do progresso que parece no conduzir ao paraíso ou qualquer jerusalém celeste, tamanho o fanatismo que ele incita;

o movimento de separação do homem da natureza, imagem chave do mito de criação judaico, encontra sua justificativa na ciência biológica que o fornece ao estado liberal como instrumento político que atribui à sociedade ocidental o sentido de regime social mais evoluído na história;
o valor da socialidade capitalista conhece justificativa científica na mais conservadora das ciências, responsáve por forjar a imagem supostamente laica do ideal transcendente, ou seja, a noção de natureza que vem a substituir o lugar ocupado pela idéia de deus;

a incompatibilidade entre homem e natureza, portanto, resulta numa construção [discursiva] forjada a partir dessa mistura de ciência, política e religião;
essa construção visa determinar os parâmetros ou valores que embasam a configuração de subjetividades;
para se definir um tal projeto de homogeneização subjetiva como o do capitalismo ocidental a religião desempenhou um papel fundamental na convergência de valores;
reforçando que entendemos por convergência de valores o amaldiçoamento não só das outras religiões como de toda a cultura com a qual elas articulavam e articulam suas práticas de socialidade;
depois dela a apropriação que se fez da ciência para justificar a racionalidade do estado e do mercado;

parece interessante compreender esse movimento aqui denominado de epistêmico, mas que poderia se chamar de política de conhecimento ou economia de saberes, para se pensar o contexto da economia subjetiva com a qual estamos a lidar;
isso por que ele parece constitutivo do processo de configuração de subjetividades próprio do capitalismo;
esse processo que deve ser constantemente desconstruído para nos darmos conta das novas tecnologias capitalísticas para a produção e padronização de subjetividades visando o consumo;



pensando a subjetivação como movimento de resistência à padronização com que o capitalismo formata subjetividades de mercado, pode-se deduzir a subjetivação indígena como um importante projeto composto de diversas frentes;
a educação consiste no primeiro espaço para se problematizar constantemente sobre a subjetividade e a subjetivação indígenas, para se problematizar a dinâmica de captura e resistência que se constitui na escola;
pois como se viu, o projeto iluminista que promove o valor incontestável da educação generalizada resulta numa apropriação do conhecimento como máquina de captura e reprodução dos padrões subjetivos visados pelo estado liberal;
portanto, a educação fornece um espaço interessante para a desconstrução desse processo capitalístico de padronização subjetiva e a proposição de linhas de fuga a essas subjetividades, desde que escape a esse processo de captura o que precisa ser feito o quanto antes;
a escola consiste num espaço privilegiado para a abordagem e análise dos processos, dos dispositivo de cptura da sociedade ocidental;
pois se o exercício do pensamento e da leitura aparece como uma das demandas da sociedades indígenas e promete ocupar o espaço de outras importantes práticas subjetivantes, que esse exercício da razão se volte para a desconstrução da sociedades ocidental e não para a imitação dela;
trabalhar os fundamentos do conhecimento parece ser uma iniciativa estruturante para esse projeto de ensino;
situar alguns conceitos chave no contexto do movimento epistêmico do século passado até hoje, a disposição de certas noções cruciais no quadro do pensamento de resistência contemporâneo;
isso não servirá ao acúmulo de informações que se somarão ao conteúdo já adquirido até então;
esse programa se propõe estar focado no exercício de um pensamento de resistência;
a proposta para colocar em prática esse pensamento crítico de resistência consiste no exercício de desconstrução do conhecimento ocidental e sua função social, bem como na detecção de valores disseminados nas práticas desse conhecimento;
para tanto, pode se pensar numa abordagem que começasse desconstruindo as disciplinas por um procedimento de genealogia, em que se evidencie os valores que sustentam as disciplinas e a função social dessas disciplinas e seus técnicos na organização da sociedade dita moderna do século vinte;
para tanto, a compreensão do discurso como enunciado oficializado na disciplina será crucial;
por um lado, o uso social das disciplinas, focando tradicionalmente o caso da religião e do direito como disciplinas constitutivas da socialidade capitalística;
essa abordagem toda vem acompanhada da configuração dos dispositivos de normalização responsáveis pela ordem subjetiva proporcionada por esse controle social dos valores;
por outro lado

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