14 maio 2008



positivo 2
a antropologia opera segundo um pensamento da diferença;
ela resulta de uma ruptura com o positivismo;
portanto, não se trata de sociologicamente voltar a afirmar a sociedade indígena como modelo para a nossa, por mais que isso inverta ou contradiga (ainda que não transvalore) nossos valores;
em vez disso, consiste em utilizar-se de um contramodelo para desestabilizar e desconstruir nosso modelo, modelo que baseia nossos padrões de sensibilidade, de percepção, de cognição;

daí a abordagem estética poder fornecer uma dinâmica ou uma imagem do pensamento mais condizente com esse antipositivismo;
trata-se da abertura a outros mundos, a outras possibilidades de pensar, de agir, de sentir e não de positivar etnograficamente, conforme uma prova, a partir de nossas referências etnocêntricas, a diferença das sociedades indígenas;
antes essa diferença serve para produzir diferença e não para reiterar a identidade do mesmo;

portanto, utilizar-se das sociedades indígenas como modelo de socialidade ou de subjetividade alternativas consiste ainda numa insistência em perpetuar a velha tradição positivista;
o que pode nos inspirar nas tradições indígenas serão antes seus processos de proliferação de realidades, suas estratégias de desdobramento, sua socialidade voltada para a multiplicidade, seus processos de subjetivação descentralizadoras;
mas o que fazemos, devido ao automatismo de nossos processos de atribuição de sentido configurados nessa milenar tradição positivista consiste em reduzir o outro ao mesmo, a diferença à identidade;

por isso, a única possibilidade para a antropologia [exorcizar de vez seu positivismo] será uma antropologia [das sociedades] contra-estado, uma antropologia de resistência à qualquer ordem, qualquer modelo;

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