19 maio 2008



os jornais, as notícias, procedem por redundância, pelo fato de nos dizerem o que é 'necessário' pensar, reter, esperar, etc; a linguagem não é informativa nem comunicativa, não é comunicação de informação, mas - o que é bastante diferente - transmissão de palavras de ordem, seja de um enunciado a outro, seja no interior de cada enunciado, uma vez que um enunciado realiza um ato e que o ato se realiza no enunciado;

mil platôs, postulados da lingüística


o discurso jornalístico consiste num contínuo exercício de 'palavras de ordem';
por isso, acredito, que não passa pela minha goela essa forma discursiva;
não consigo escrever projetando-me sobre o plano de transcendência, ordenando como e a partir de quais valores as pessoas devem pensar;
sempre que faço uso da linguagem, não posso deixar de fazê-lo numa perspectiva reflexiva que se volte aos seus próprios critérios valorativos;
de outra forma tenho a impressão de estar ludibriando o leitor;

esse exercício de manipulação consiste numa prática generalizada, mas mais que os cientistas, quem faz desse recurso uma prática profissional, social e política são os jornalistas;
como a definição de consumidor, subjetividade capitalística sempre em alta, pode ser aquele que goza com a relação de ser enganado e enganar, os produtores da fofoca impressa e oficializada especializam mais ainda o mercado do tráfico de informações;

o discurso sociológico historicista [mesmo a etnografia, esse procedimento problemático que deita suas raízes no positivismo e na tradição inglesa da antropologia] me dá essa mesma impressão;

por isso meu deslocamento, quando não assumo os agenciamentos de enunciação, quando não falo a voz da empresa ou a voz do estado, e insisto em procurar uma voz que escape a esses esquemas;
por isso a dificuldade quando abro a boca, quando não falo o que todos esperam ouvir do acadêmico, do professor, do agente de estado;
pois o que todos esperam é a palavra de ordem, é a obediência e não discurso da responsabilidade sobre a inteligência ou liberdade;
todos esperam para obedecer, não querem algo que lhes dê trabalho;
ninguém quer ter trabalho pensando, formulando seu próprio mundo, problematizando as homogeneizações;
pelo contrário, estamos esperando nossa cota diária de opinião pronta, o reforço aos nossos valores;
esperamos alguém que nos ensine, que nos mostre o que e como pensar;

a arte é o limite disso, por isso não a suportamos;
ela só serve para desconstruir valores, perceptos etc, ainda que quase sempre [principalmente quando domamos sua selvageria com recursos como a explicação, a interpretação ou o comentário de motivações biográficas, geralmente guiados por aqueles funcionários de museu] a utilizemos para a afirmação de valores e percepções gangrenados;

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