14 maio 2008

nossa dificuldade, a dificuldade de nosso pensamento nos empurra em direção aos pólos;
o mundo misturado ainda não foi feito para o nosso pensamento, para as nossas categorias, para as nossas políticas;
pensamos os conhecimentos tradicionais sem poder vê-los diluídos em nosso saber cotidiano, em nossa socialidade;
a imaginação insiste em buscar a imagem do puro, do purismo;
insistimos em ver o índio estilizado como imagem padrão do índio;
não se pode imaginar o índio em nós, o índio como travessia, como passagem da imagem nítida do que somos, de como nos imaginamos para a ofuscada visão daquilo que podemos ser, daquilo que podemos nos imaginar trazendo a tona a imagem desse índio preservado puro em nosso imaginário justamente para não oferecer o perigo de nos dragar, de nos tingir a subjetividade;
como capturar o que o índio é;
como entender a zona intermediária em que se situa a ayahuasca quando já não se trata mais da pureza indígena da planta e seus rituais, quando ela ganha outros territórios existenciais quem nem por isso se diluem em nossas velhas categorias de religião, misticismo etc;
como se dá o novo no entre quando se renuncia à perspectiva apocalíptica do civilizacional;
civilizacional que receitou a morte anunciada do tango argentino, e agora tem de encarar a força da vida que resiste;
como inverter a história que parecia irreversível de tão poderosa, que de tão certa nos modelava a imagem do futuro;

a verdade não se encontra no passado como quisemos crer;
ela pode também ser vislumbrada no futuro;
pode ser construída;

os conhecimento tradicionais encontram na ayahuasca um outro modo de se imaginar;
não se trata do saber do passado indígena;
nem de encaixá-lo em velhas categorias de nossa história mística;
o novo se dá aqui a partir de uma articulação, de um lugar ou uma posição, melhor, de um espaço híbrido em que esses elementos se encontram e misturam;

equivalente é o que se dá com o processo dos povos indígenas de relação com a cultura branca;
esta só reconhece o que se mostra puro e intocado, o índio mercadoria;
a lei e o estado corroboram ainda e principalmente essa imagem do índio que eles incutiram no senso comum;
não se considera a experiência política os povos indígenas, mas o índio mercadoria que é o único que tem seus direitos garantidos;
aqui também o passado é a referência;
aqui também não se consegue perceber essa dinâmica entre o que foi e o que será;

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