03 maio 2008



não vejo tanta vantagem em pensar fernando pessoa a partir de uma matriz ou de um paradigma da identidade [ser, essência, verdade], como vejo em desdobrar sua poética a partir de um pensamento centrado na diferença;

pensá-lo na chave da identidade como o faz octavio paz, parece conduzir a falsos problemas;
buscar essências e verdades sobre o ser em sua poesia parece tomá-la equivocadamente teoria psicológica;

vejo que sua poética problematiza antes de mais nada o fazer poético, a prática da poesia;
por isso me atrai a tendência a relacioná-lo com a política;
talvez menos uma política strito sensu, visto que penso numa prática poética que propõe uma transfiguração do eu, produto social;

por isso pensar e desdobrar as dimensões políticas da subjetividade;
mas não se trata de ir muito longe em termos teóricos, em grandes abstrações, pois sua poesia [e seu caráter político] nos atrela sim a uma experiência problemática do mundo e da subjetividade, mas sua ação enunciativa se desdobra em torno da prática da criação verbal;

pode-se dizer que sua poesia se projeta numa política subjetiva por configurar-se como processo experimental de subjetivação;
vemos em sua obra diversos estudos, esboços mesmo de subjetividades experimentais;
mais que buscar a si mesmo, o que se vê em pessoa é a experiência de diferenciar-se de si;

ocorre que para criticar o modelo epistêmico e subjetivo ocidental não se pode faze-lo de dentro dele mesmo;
é preciso desarmar suas armadilhas, seus pressupostos, seus valores;
consiste num processo genealógico;
desconstruir a subjetividade, modo de produzir subjetividades que resulta no tão criticado [de dentro e com os mesmos métodos] sujeito ocidental, consiste num processo que envolve a circunscrição do saber ocidental [abordagem epistemológica], esta por sua vez articulada inerentemente ao sistema de poder que dá forma e valor ao conhecimento como fenômeno social;

o sujeito ocidental consiste num artifício não apenas político-econômico, mas também político-religioso e, daí, político-epistêmico, transição que se dá na disputa pela consciência [fonte ou centro da subjetividade ocidental], que antes era posse da religião, e passa a ser posse do estado com sua religião laica, a ciência;


em lugar de nos conduzir para um plano de transcendência histórico, onde a abordagem de bakhtin conduz mesmo a prática social da poesia ao seu limite histórico, com pessoa nos voltamos para o plano de imanência, qual seja, a prática da poesia como processo de subjetivação;

essa poesia não é a expressão de uma subjetividade pré-existente, ela concebe uma subjetividade que se constitui a partir da poesia, em seu contato com a poesia;

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