27 maio 2008




é interessante notar como nos deixamos levar por um pensamento oficial, de estado, torcendo muitas vezes para que seu campo de ação seja tão amplo quanto nosso campo perceptivo;
quando então nos parece mesmo absurdo que algo escape à ordem e ao poder do estado;
quando toda positividade recai sobre a capacidade de extensão ou de abrangência do estado e toda negatividade sobre aquilo que lhe escapa seja por sua incompetência, seja por resistir-lhe mesmo;

as ordens jurídica e legislativa orquestram os direitos: acreditamos que todos devem ter seus direitos 'garantidos';
o que há de estranho e de sinistro na vontade de estado que manifestamos inocentemente como solução para todos os problemas sociais;
no entanto, se circunscrevemos essa perspectiva, se a desconstruirmos e genealogizarmos pode se perceber o que há de sinistro no processo com que o estado coopta as demandas políticas das sociedades indígenas, transformando-as em demandas do estado;
como o estado, ao cooptar, identifica suas demandas às demandas dessas sociedades;
no caso que analisávamos tem-se uma disputa entre a terra indígena raposa/serra do sol e os latifundiários locais;
já não se trata mais no caso de uma disputa dos índios propriamente;
os índios solicitaram a demarcação ao estado, sem dúvida;
o que se propõe aqui é que não se identifique a demanda e os obstáculos dos índios com as demandas e os obstáculos do estado;
não se pode esquecer que quando os índios são alvejados pelas balas dos latifundiários, trata-se de uma ordem do estado que está sendo descumprida, já não se trata de um conflito entre as partes;



pode-se discordar disso alegando determinismo ou dizendo que isso seria uma visão histórica limitada que não levaria em conta a apropriação que os índios fazem do estado e de seus recursos;
penso que disse foi pensado quando se considerava a cooptação das demandas indígenas pelo estado usando para isso a retórica dos direitos garantidos e das políticas públicas;
pensávamos no caso katukina e no projeto de reparação do estado pelos estragos em sua terra com a estrada;

discordo dessa perspectiva pois o estado opera como aparelho de captura;
mas como funciona... o que impede dos nativos conseguirem se apropriar de aparelhos de estado e usá-los em seu benefício... o que será esse benefício... será constituir máquinas de guerra... será que, numa perspectiva contra-estado, o que é benefício para o índio deve ser necessariamente resistência contra o branco... ou existiria uma forma de melhorar a vida do índio numa integração dos mesmos à sociedade branca... estaremos divididos entre duas perspectivas incompatíveis: integração x contra-estado... será essa opção um ponto de partida ou de chegada...;


talvez seja isso que estamos fazendo, que haja pra ser feito, isto é, desenredar as palavras de ordem, desconstruir os discursos e os valores que os sustentam, processar as manipulações apoiadas em valores naturalizados;



a operação com a palavra de ordem nos torna mais sensíveis para o processo de consensualização, para o processo de homogeneização, de conservação dos valores;

o processo de conservação de valores expressa-se, em termos subjetivos, em correntes afetivas que estabelecem habitus subjetivos, esquemas de pré-disposição afetiva, de relação consigo e com o outro;

o instinto de conservação consiste numa postura de valores que se desdobra numa postura/relação subjetiva;
o instinto de preservação...


o conjunto de práticas subjetivadoras do estado como a educação e a formação profissional tem como horizonte os valores empresariais do discurso neoliberal;
travestido pela esquerda como possibilidade da histórica justiça social, o que se vê é um batalhão de gestores, administradores, empreendedores etc serem forjados e despejados para o mercado de trabalho;
a subjetividade se torna uma consequência do mercado, o ser humano busca sua fonte de valor no lucro a qualquer preço;
o estado reproduz esse discurso em todas as suas instituições;

será possível reduzir a vontade de potência a vontade de consumir e o poder que lhe é inerente...
será possível separá-las...

tratar-se-á de uma questão de crença no ser humano como se afirma no zaratustra;

o instinto de preservação é contraposto ao espírito trágico, que a partir da tragédia se torna um dispositivo crucial do pensamento nietzscheano;
uma das ...

trata-se de extrair das subjetividades generalizadas e de seus processos as formas de resistência;
o capitaismo é a forma com que se perpetua valores muito antigos;

nietzsche se volta contra o pessimismo, apesar de seu percurso cruzar os caminhos do romantismo e de um pessimismo schopenhaueriano;
su filosofia define personagens conceituais afirmativos como o são o nobre, que se contrapõem ao plebeu ou mesmo ao burguês, o espírito livre que afronta o conservador, dionísio e sua gaia ciência contra um sócrates pessimista ou o crucificado, o trágico contra o ressentido;

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