14 maio 2008



exilados em terras distantes
cá estamos distantes de nosso povo
entregues em sacrifício
numa seleção natural do espírito

muitos de nós sucumbirão buscando a saída
muito nos confundimos com as formas do falso
poucos emergerão da noite obscura do mundo branco
poucos conseguirão enxergar no escuro

distancio-me cada vez mais de meus velhos
a cidade me desterra de minha vida
minha percepção se embota
meus sentidos são engolidos na noite da civilização

preciso fazer essa viagem ao interior da barriga do monstrengo
que nos devorou e tem devorado

essa travessia é tão fatal quanto a vida
o perigo é confundir-me com isso
tornar-me nisso
mas sei que não posso me tornar isso
- ou não serei eu -
misturar-me como estou misturado à terra ou ao sangue de meus antepassados

conto dinheiro na rua
confundo-me entre tantas pessoas
não é difícil disfarçar-se de branco




trata-se de um lado de uma perspectiva que visa reiterar um mundo pré-concebido, uma natureza transcendente;
essa disposição, essa postura diante do mundo e da subjetividade que se volta para o passado como critério de valor;
daí o problema da subjetividade, de seus padrões, da normalidade projetar-se como um problema de percepção;

por isso a perspectiva estética para se pensar, ou melhor, se trabalhar, se propor um programa de práticas subjetivas;
por isso os agenciamentos de enunciação como chave das práticas e processos de subjetivação;
as linguagens perdem seu caráter objetivista;
toda apropriação dos agenciamentos são práticas subjetivas;
tal como a subjetividade, a própria arte, a própria literatura perde seu caráter de objeto para se tornar enunciado base para outros enunciados que se desdobram a partir dele;

guattari projeta as práticas de subjetivação em um plano que distingue essencialmente um discurso objetivista da ciência de um enunciado poético;
sua concepção de linguagem está desenvolvida em mil platôs;
considera-se uma linguagem que não pode se referir ao mundo, a insustentabilidade do discurso direto;
o discurso direto se refere sempre a uma reiteração de uma idéia, de uma transcendência, de uma subjetividade;
em lugar disso pensam o discurso indireto como a forma da linguagem por excelência, visto que a linguagem sempre se refere à linguagem;
o objetivismo consistiria num efeito de linguagem, numa ilusão de objetividade que a verbalidade não possibilitaria;
essa seria a interessante solução dos mil platôs para o problema do enunciado e da discursividade;

a dimensão política do enunciado e sua intervenção/interferência na realidade e na produção de subjetividades, que justamente o caráter discursivo do enunciado, que vai colocá-los no mesmo plano;

o enunciado perde seu valor enquanto aquilo que diz para se projetar como aquilo que faz;
o enunciado torna-se impermeável a qualquer objetivação interpretativa;
não pode se colocar como fim, pois é sempre meio;

esse é um tratamento do enunciado que pretende, entre outras coisas, refutar a ideologia como critério fundamental da definição e da análise do discurso;
o problema da inerência do político no enunciado, que possibilita a função social do conhecimento na sociedade capitalista, não se resolve pela ideologia;
não se trata de referir-se a um enunciado livre, um enunciado neutro, o enunciado do partido;
trata-se de perceber que qualquer enunciado pode ser capturado como mercadoria no circuito capitalista;

a partir dessa imagem da linguagem que guattari propõe essa zona contínua que se estende às três ecologias;

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