03 maio 2008



essa idéia da subjetividade como mercadoria não é propriamente uma novidade;
ela já tem sido trabalhada em relação ao ecologismo: como o ecologismo ganha projeção a medida que e torna mercadoria [simbólica ou não];
quando estive trabalhando assessorando o yorenka ãtame, coloquei essa questão para o benki e os demais como ponto chave a se refletir: qual o mercado em que estamos nos inserindo, pois disso dependia nosso planejamento;

talvez fosse mais uma provocação minha;
o benki sempre afirmou: eu sou ecologista, eu sou ambientalista, o que muitas vezes parecia a forma com que ele orientava aqueles rapazes e moças em relação aos seus futuros e aos seus valores;

de minha parte, minha perspectiva era trazer o que há de máquina de captura no discurso do ecologismo, como ele se tornou uma mercadoria correndo num circuito capitalista;
digo provocação porque todos sabem disso: desde a projeção do chico mendes, da aliança, do disco txai, de todos os mitos que fazem a história desse lugar e de suas gentes;

minha perspectiva é a de que qualquer postura política, qualquer prática, seja artística, educacional, agroecológica, precisa levar em conta a dinâmica do capitalismo que a envolve e que envolve as pessoas envolvidas nas atividades;
como sempre deixei claro, minha concepção de consciência e conscientização é bem diferente do modo com que geralmente esses termos são pensados e utilizados;
meu horizonte é a autonomia e não a velha prática da massa de manobra;
a consciência e os valores que a referencializam é algo delicado e sutil dos seres humanos e não pode ser confundido com coerção, que é utilizar a idéia de consciência num sentido bem diverso;

não se trata portanto de transferir valores, por mais louváveis que sejam;
tratei, para ser compreensível, da questão da vontade, que a vontade de fazer poderia ser mais importante que a consciência de fazer;

as práticas de subjetivação, portanto, não podem ser confundidas com as subjetividades veiculadas no mercado para serem consumidas;
às práticas de subjetivação é inerente (imanente) a crítica à mercantilização das subjetividades, a busca por autonomia via prática política;

o que mais se vê, no entanto, é o discurso das minorias por espaço no mercadoria, as novas formas da servidão voluntária;
de outro lado, a aliança entre os indígenas e o estado faz desses um produto do mercado político sem precedentes;
a velha integração, a que os povos da terra resistiram por tanto tempo, está conseguindo agora avançar com o discurso das diferenças;
a estratégia é a da desintegração do corpo social através da criação e cooptação de alguns personagens chave na comunidade, tornados funcionários do estado, aliás, a funcionalização dos índios é algo que foi descoberto antes mesmo da eficácia simbólica do igualitarismo e da diversidade, que veio depois para reforçar a estratégia;
agora, em lugar de contratarmos brancos incompetentes para tratar os assuntos indígenas, contratamos os próprios índios como agentes do estado, o qual podemos nos ao luxo inclusive de contratarmos com formação universitária, agregando valor ao produto;

afinal de contas, o valor último da sociedade hipercapitalista do neoliberalismo é o consumo, não conhecemos valor que o suplante;
se nosso fim é consumir, é certo que a referência para todos que estão envolvidos nesse regime de valores é o dinheiro, o funcionalismo ou o mercado de trabalho, o acesso às mercadorias etc;

vender ecologia ou subjetividade consiste igualmente em impulsionar o grande mercado;
se estamos fazendo isso, por que não refletir sobre isso, por que não pensar e pesar nossos valores;

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